Origem: Revista O Cristão – Nuvens
A Transfiguração
O monte santo da transfiguração não é apenas a cena da visão futura, ou a presente contemplação da glória, mas dá aos discípulos uma porção próxima a Cristo. Pedro, que poucos dias antes havia incorrido no desagrado do Senhor, foi levado, pela graça, com seus companheiros onde o homem nunca havia entrado. Uma nuvem cobriu os discípulos e eles entraram nela com Jesus. Para um judeu, era uma coisa terrível. Como eles poderiam fazer outra coisa senão temer penetrar na nuvem que era o sinal da presença de Jeová? Como não estremecer ao lembrar-se de que até o sumo sacerdote, para não morrer ao entrar no santuário de Deus, teve de se envolver com uma nuvem de incenso? Mas os discípulos podiam ficar tranquilos; a nuvem não era mais para eles a morada do Jeová de Israel, mas a casa do Pai. A presença de Cristo com eles na nuvem foi o meio de revelar-lhes o nome d’Aquele que nela habitava. Eles se tornaram companheiros não apenas do Filho do homem em Sua glória, como Moisés e Elias, mas do Filho na casa do Pai. Habitar na glória é, de fato, uma bênção futura que nem mesmo um dos santos alcançou, nem mesmo os que já adormeceram; habitar na casa do Pai é tanto uma porção presente como futura. Se posso dizer, ao falar do futuro, “[…] e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre” (Sl 23:6 – ARA), eu também posso clamar, ao falar do presente: “Uma coisa pedi ao SENHOR e a buscarei: que possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR e aprender no Seu templo” (Sl 27:4). O filho pródigo foi levado para a casa do Pai quando foi convertido; vestido com o melhor manto e com a dignidade de um filho, foi lhe dado participar de todos os bens do Pai e da alegria que Ele tinha em comunicá-los ao filho. Esta casa é a morada secreta da comunhão. Muitas coisas atraíram o olhar dos discípulos na transfiguração: o rosto de Cristo brilhando como o sol; Sua vestimenta branca como a luz; Moisés e Elias, dois homens célebres, aparecendo em glória. Não havia nada disso na nuvem. Assim como Paulo não disse nada sobre o que ele poderia ter visto quando foi arrebatado ao paraíso, os discípulos não viram nada na nuvem, pois Moisés e Elias desapareceram. Mas isso aconteceu para que os discípulos pudessem dar atenção total a uma palavra na qual toda a mente de Deus está resumida: “Este é meu Filho amado; a Ele ouvi” (Lc 9:35).
Pedro esqueceu a preeminência de Cristo quando viu Moisés e Elias. Ele disse: “Façamos três tendas”. Ele queria colocar a lei e os profetas no mesmo nível de Cristo, associando-os a Ele, e há muitos Cristãos que, inconscientemente, fazem o mesmo. Pobre Pedro! Quão indigno ele se mostrou da visão! Sua linguagem, seu sono e seu medo traíram o estado de sua alma, e quanto mais a perfeição de Jesus brilhava, mais as imperfeições de Pedro se multiplicavam. Constatamos isso a cada passo, até que ele tenha se julgado completamente. O Espírito dá poder; a carne o priva disso. O Espírito ilumina seu entendimento; a carne mostra sua ignorância, sobretudo, a respeito da cruz. O Espírito dirige seu olhar para a glória do reino; a carne rebaixa essa glória ao nível do homem decadente. A mesma coisa aconteceu na cena do tributo em dinheiro, na ceia, no Getsêmani e na corte do sumo sacerdote, até que Pedro aprendesse o que é a carne e recebesse poder do alto. A glória excelente, longe de repelir os discípulos, atraiu-os a Cristo e os pôs a Seus pés como discípulos, dizendo-lhes: “A Ele ouvi”. Assim, Pedro, com os demais, foi levado a desfrutar dos pensamentos do Pai para com o Filho do Seu amor, e a casa do Pai foi o cenário dessa revelação. Os discípulos, como já dissemos, ouviram uma palavra, a breve expressão do que a presença do Filho suscitou dos lábios do Pai, mas é uma palavra que nos deixa entrar no segredo do Seu coração: “Este é meu Filho amado; a Ele ouvi”.
Christian Friend, Vol. 17