Origem: Revista O Cristão – Juventude
Treinamento para o Serviço
Quando somos jovens, temos energia e força. Tudo isso é bom, pois o Senhor nos deu, e quando associado à fé em Cristo e ao desejo de agradá-Lo, esse vigor juvenil geralmente se manifesta no desejo de fazer algo a serviço de nosso Senhor e Mestre. Novamente, este é um bom desejo, e que pode muito bem surgir da verdadeira devoção ao Senhor, juntamente com o desejo de apresentar o nosso corpo como “um sacrifício vivo”, que é o nosso “culto racional” (Rm 12:1). No entanto, como em todo empreendimento natural, é necessário treinamento para esse serviço. Obviamente, isso não impede que façamos algo para o Senhor em nossa juventude, mas muitas vezes o tipo de serviço que o Senhor tem para nós exige mais preparação do que imaginamos. Assim, é fácil quando somos mais jovens nos lançarmos naquilo para o qual ainda não estamos prontos.
Certamente, há pessoas nas Escrituras que serviram ao Senhor de uma maneira admirável, mesmo quando jovens. Encontramos João Batista realizando seu serviço como precursor de nosso bendito Senhor Jesus quando jovem, e, de fato, ele foi martirizado no início da vida, provavelmente não com mais de trinta e um anos de idade. Ainda assim o Senhor Jesus pôde dizer dele: “Entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mt 11:11).
Da mesma forma, encontramos um jovem rei como Josias, do qual está registrado que “sendo ainda moço, começou a buscar o Deus de Davi, seu pai; e, no duodécimo ano, começou a purificar a Judá e a Jerusalém dos altos” (2 Cr 34:3). Na tenra idade de oito anos, ele subiu ao trono de Judá e, aos vinte, assumiu uma responsabilidade séria nessa posição. Timóteo também era um homem relativamente jovem, mas Paulo podia dizer sobre ele: “Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado” (Fl 2: 20).
Escolaridade e treinamento
No entanto, em geral, encontramos um curso de educação e treinamento que precedeu a total responsabilidade que Deus tinha por Seus servos. Moisés estava no auge aos quarenta anos; ele foi “instruído em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras” (At 7:22). No entanto, quando ele partiu para libertar seu povo Israel, ele fez isso da maneira errada, e Deus o enviou para a parte de trás do deserto por quarenta anos, aparentemente para não fazer nada além de manter as ovelhas. No entanto, esse era o treinamento necessário.
Da mesma forma, quando o Senhor tinha grandes coisas reservadas para José, Ele permitiu que ele fosse vendido como escravo e acabasse na prisão por alguns anos, antes de ser elevado a governador de toda a terra do Egito.
Davi foi um dos melhores reis de Israel e “um homem segundo o coração de Deus”, mas o Senhor permitiu que ele fosse um fugitivo, perseguido e caçado por Saul, por vários anos antes de ser rei. Como outro já disse, “Aquele que deveria ser usado por Deus para levar Seu povo a um conhecimento mais profundo de Si mesmo, deve primeiro aprender a confiar n’Ele quando todos os outros falharam”. Davi não se tornou rei sobre Judá até os trinta anos de idade, e ele não foi rei sobre todo o Israel por mais sete anos.
Eliseu
Eliseu era evidentemente um fazendeiro bem-sucedido (1 Rs 19:19) e foi escolhido pelo Senhor para suceder Elias como profeta do Senhor. Mas então o Senhor permitiu que ele fosse um servo de Elias por aproximadamente dez anos, antes de levar Elias ao céu em um turbilhão, abrindo caminho para Eliseu tomar seu lugar como profeta. Eliseu deve ter aprendido sobre o fracasso de Elias e a consequente remoção de seu lugar como profeta, mas ficou feliz em acompanhar Elias por vários anos e aprender com ele.
Timóteo
Além disso, encontramos em 1 Timóteo 4:12-16 que Paulo imprime a Timóteo a necessidade de uma caminhada piedosa, como a primeira coisa que o recomendaria aos outros. Não podemos assumir a responsabilidade de servir ao Senhor sem antes prestar atenção ao “reino de Deus”, pois a expressão “o reino de Deus” traz diante de nós um estado moral e um caminhar que está de acordo com aqueles que reconhecem o Senhor Jesus como o rei legítimo. Paulo finaliza sua instrução a Timóteo, dizendo: “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4:16). Devemos cuidar de nós mesmos antes de podermos servir ao Senhor e ajudar os outros; precisamos nos salvar antes que possamos salvar a outros. (A palavra “salvar” aqui tem o pensamento de ser salva do poder do pecado em nossa vida Cristã e das influências mundanas; não se refere, pelo menos primariamente, à salvação eterna).
Adoração e serviço
Finalmente, devemos lembrar que, em toda a Palavra de Deus, a adoração sempre vem antes do serviço. Na própria lei, os primeiros mandamentos diziam respeito ao que era devido a Deus; então o que era devido ao homem se seguia. Durante Seu ministério terrestre, o Senhor Jesus resumiu esse mesmo fato, mostrando que o primeiro mandamento dizia respeito ao que era devido a Deus, enquanto o segundo trazia o que era devido ao homem. Quando o Senhor abençoou Israel com uma boa colheita na terra de Canaã, eles deviam trazer suas primícias ao Senhor, e isso está relacionado à adoração (Dt 26:1-11). Foi somente depois disso que o dízimo foi mencionado e a importância de dar aos órfãos, ao estrangeiro e à viúva.
Essa mesma ordem de adoração e serviço é encontrada em todo o Novo Testamento. Em Hebreus 13:15 somos lembrados: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o Seu nome”. Então, no próximo versículo, nos é dito: “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque, com tais sacrifícios, Deus se agrada” (Hb 13:16). Pedro nos diz que agora somos “sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1 Pe 2:5), enquanto mais tarde no mesmo capítulo ele nos diz que somos “sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2: 9). Novamente, a ordem é primeiro adoração, depois serviço.
É de suma importância, então, aprender a ser um adorador primeiro. Sem ser um verdadeiro adorador, não se pode ser um servo aceitável. Nossos corações e mentes podem se apaixonar pelo serviço, especialmente se outros estiverem ativamente envolvidos nele, e podemos supor que podemos elevar nosso estado espiritual se nos envolvermos. Raramente isso acontece; com demasiada frequência, resultará em nossa busca de salvar nossa consciência com uma atividade frenética após outra, ou com espírito de queixa, como aconteceu com Marta quando se sentiu sobrecarregada em servir. Antes de podermos servir efetivamente, devemos estar em comunhão com o Senhor.
O treinamento é muito importante e varia de acordo com cada um; com alguns, o Senhor impõe um período de treinamento mais longo do que com outros. É importante não se ressentir disso, mas submeter-se às aulas do Senhor para nós, a fim de que possamos servi-Lo melhor. Deus é um Deus de qualidade, não de quantidade, e é melhor servir bem por um curto período de tempo do que procurar servir antes de estarmos prontos.