Origem: Revista O Cristão – O Tribunal de Cristo
Aprovação de Deus
“E eis que derradeiros há que serão os primeiros; e primeiros há que serão os derradeiros” (Lc 13:30).
Sabemos que é a estimativa de Deus de nossa vida e serviço para Ele que importará na concessão dos galardões. O homem pode fazer julgamentos neste mundo, mas Paulo poderia dizer: “a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por algum juízo humano” (1 Co 4:3). Ele reconheceu que Deus levaria em conta não apenas as ações, mas também os motivos por trás delas, que só Ele poderia conhecer plenamente. Da mesma forma, o Senhor Jesus deixou claro que aqueles que têm o primeiro lugar neste mundo podem ficar aquém da estimativa de Deus, enquanto aqueles que parecem últimos aqui podem receber uma grande recompensa.
Os valentes de Davi
Acredito que vemos este princípio ilustrado na lista dos valentes de Davi no Velho Testamento. No final de sua vida, Davi leva em conta aqueles que o serviram bem e menciona por nome aqueles cujo caráter e coragem eram especialmente dignos de nota. Em particular, eu gostaria de olhar para os três homens que têm o primeiro lugar nessa lista, e ver na Escritura por que eles têm esse lugar. Sugiro que haja instruções para nós, nas razões da alta recomendação de Davi por eles.
Estes homens são nomeados em 2 Samuel 23:8-12: “Adino, o eznita, Eleazar, filho de Dodô, filho de Aoí, e Sama, filho de Agé, o hararita”. Em primeiro lugar, vale a pena notar que, exceto na lista que é semelhante a esta dos valentes de Davi de 1 Crônicas 11, nenhum desses três homens parece ser mencionado em nenhum outro lugar na Palavra de Deus. Nem durante o tempo de rejeição de Davi, nem em todas as suas guerras que se seguiram quando ele era rei, encontramos menção dos nomes desses homens. No entanto, eles recebem o primeiro lugar na lista de Davi.
Sugiro que existem várias razões que são dadas para isso. Primeiro de tudo, é evidente a partir da descrição dada em 2 Samuel e 1 Crônicas, que esses homens possuíam uma coragem incomum. Eles enfrentaram momentos incríveis em batalha e tiveram que ficar sozinhos às vezes. Está registrado de Adino, o Eznita, que ele matou 800 de uma só vez. Outros como Eleazar se levantaram e defenderam um campo de cevada quando os homens de Israel fugiram, e Sama defendeu um campo de lentilhas quando outros fugiram (Está claro no relato de 1 Crônicas, e bonito de ver, que Davi ficou com Eleazar defendendo o campo). Tal coragem é notável, e por si só certamente asseguraria sua inclusão na lista de Davi. No entanto, também está claro que a coragem deles nasceu, não apenas da habilidade natural e bravura, mas da fé em Deus e do que Ele poderia fazer em favor deles. Tanto a respeito de Eleazar como de Samá está registrado que “o SENHOR operou um grande livramento” (2 Sm 23:10, 12). Sem dúvida, eles tinham visto Davi matar Golias com apenas uma pedra e uma funda, porque ele confiava no Senhor e eles foram encorajados a fazer o mesmo. Humanamente falando, a possibilidade de vencer uma batalha contra várias centenas seria impossível, mas Deus deu a vitória.
O primeiro lugar
No entanto, acredito que existem pelo menos duas outras razões pelas quais eles recebem o primeiro lugar. Seguindo este relato de coragem em guerras regulares, encontramos outro incidente tocante, e mesmo que o nome destes três homens não seja especificamente mencionados, parece que eles eram os envolvidos. Quando Davi estava na caverna de Adulão, se escondendo de Saul, ele desejou beber água “da cisterna de Belém que está junto à porta” (2 Sm 23:15). Sem dizer a Davi ou a qualquer outra pessoa, esses três homens “romperam pelo arraial dos filisteus” (2 Sm 23:16) para conseguir a água dessa cisterna para Davi. Tal era o seu amor e devoção por Davi que eles arriscaram suas vidas a fim de obter a água que ele desejava beber. Está escrito que Davi não quis beber da água, “mas derramou-a perante o SENHOR” (2 Sm 23:16). Ele tanto valorizou este ato de devoção que ele mesmo fez um sacrifício ao Senhor com a água.
O equilíbrio correto
Nos termos da verdade do Novo Testamento, sugiro que esses homens exibiram, ao menos em figura, o equilíbrio necessário em suas vidas, em adoração e serviço. Em relação à adoração, seus corações tinham Davi com tão grande estima que nenhum esforço ou risco eram grandes demais para dar a ele, durante o período de sua rejeição, aquilo que lhe era devido como sendo o verdadeiro rei. Não houve comando, nenhuma coação – somente um desejo expressado. Mas para aqueles que eram devotos, suas afeições por Davi os fizeram arriscar suas vidas para satisfazer esse desejo. Mais tarde, quando ele já era rei, a água daquela cisterna estaria facilmente disponível, mas havia um custo tremendo para tomar dela durante sua rejeição. Assim é a adoração hoje em dia. Existem obstáculos do mundo, da carne e do diabo, e assim o louvor que é rendido neste período de rejeição do Senhor tem uma qualidade especial. No céu não haverá nenhum obstáculo – “no céu mais doce e alto” (Hinário Little Flock 80) – mas Deus valoriza grandemente aquilo que é dado sob circunstâncias difíceis, e talvez envolvendo grandes custos.
A respeito do serviço, eles eram exemplos em sua prontidão de arriscarem suas vidas em batalhas, mesmo que fosse apenas um campo de cevada ou lentilhas que estavam em perigo. Fazia parte da herança de Israel, parte da terra que Deus lhes dera, e eles se recusaram a perder uma pequena parte dela. Então, hoje, nos foi dada a preciosa verdade de Deus concernente ao Seu amado Filho e Seus propósitos concernentes a Ele. Foi-nos dado o privilégio de sermos testemunhas vivas neste mundo e de pregar o evangelho. Alguns podem fugir, achando que o evangelho e a verdade não valem tal esforço, mas Deus valoriza aqueles que defenderão o que Ele nos deu, pois tudo fala de Cristo. Como com esses homens, Ele dará a força necessária, se olharmos para Ele.
Tal equilíbrio pode bem ser algo que desejamos, dentro do Cristianismo. Muitos crentes são fiéis no serviço, mas talvez não tenham essa devoção na adoração. Outros podem valorizar muito o privilégio de adorar “em espírito e em verdade” (Jo 4:24), mas serem negligentes quando se trata de serviço. O crente que é realmente dedicado ao Mestre não terá falta de um nem de outro em sua vida. Nós vemos um desequilíbrio em alguns dos outros que estavam associados a Davi. Abisai, por exemplo, excedeu em bravura, e em uma ocasião ele também se opôs a trezentos homens, e obteve grande vitória. Entretanto, ele não compartilhava do coração de Davi e teve que ser repreendido muitas vezes por causa de sua energia e zelo que iam além dos pensamentos de Deus. Outros, como Jônatas, amavam Davi “como à sua própria alma” (1 Sm 18:1), mas não tinham a energia para deixar a corte de Saul e seguir Davi em um caminho de rejeição. Que nós, que temos a luz do Cristianismo, aproveitemos esses exemplos e procuremos, pela graça, sermos diligentes tanto na adoração como no serviço e nessa ordem! Na adoração, nós honramos Aquele que é o verdadeiro Rei, mas que é rejeitado agora neste mundo. No serviço, buscamos Seus interesses aqui e procuramos defender Sua glória, enquanto encaminhamos outros a Ele. Ambos são necessários.
Abnegação
Finalmente, parece que esses três homens estavam contentes em fazer seu trabalho e viverem suas vidas em segundo plano, tendo seus corações direcionados para Davi. Eles não procuravam, como Joabe, uma posição elevada e o reconhecimento público, nem exaltavam seus feitos, como fez Saul e outros. Como resultado, seus nomes foram mencionados apenas na lista dos valentes de Davi (Da mesma forma, é impressionante que o nome de Joabe esteja ausente da lista, embora ele tenha sido o capitão do exército de Davi durante todo o seu reinado. No entanto, o nome de seu escudeiro, que novamente não é mencionado em nenhum outro lugar, está lá). Novamente, nos contentemos em buscar apenas a glória de nosso bendito Mestre, pois certamente Ele é digno de toda honra. Num dia vindouro, no tribunal de Cristo, Ele terá prazer em reconhecer e recompensar todos os que assim fizeram!
