Origem: Revista O Cristão – O Tribunal de Cristo
Julgamentos Presentes e Futuros
Todo julgamento final será inteiramente dado ao Filho. “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho, como honram o Pai” (Jo 5:22-23). O Pai “deu-Lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem” (v. 27).
O julgamento presente do Pai
No que diz respeito ao nosso tempo neste mundo, o Pai julga (1 Pe 1:17): “E, se invocais por Pai Aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação”. Esse juízo é efetivado na santidade de Sua natureza contra o mal e em Seu cuidado paternal por nós em santidade. Por essa razão, temos que nos julgar e, se não o fizermos, somos julgados pelo Senhor. Há o Seu governo a esse respeito – a “correção do Senhor” (Hb 12:5).
Os julgamentos futuros do Filho
Cristo julgará os vivos e os mortos, em Seu aparecimento e em Seu reino. Agora não é o tempo do julgamento de Cristo; pelo contrário, é o tempo da graça para o mundo. É claro que Deus pode interferir no julgamento, supremamente, se quiser, mas desta vez é o tempo de Sua graça. Quando Cristo aparecer e estabelecer o reino, será o tempo do julgamento. Quando Cristo aparecer para o Seu reino, o julgamento e a justiça andarão juntos na Terra. “Ele tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou” (At 17:31).
Quando o Senhor julga os mortos, Ele não vem de modo algum. “E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros” (Ap 20:11-12). Aqui não há vinda à Terra. Cristo está assentado em um grande trono branco, e o céu e a Terra fogem. Seu reino é entregue a Deus depois que este julgamento é executado, mas não até então (Veja 1 Coríntios 15:24). Mas há outro julgamento, o dos vivos, para o qual Cristo vem. Esse tempo será como os dias de Noé e Ló – eles estarão comendo, bebendo, comprando, vendendo, plantando, construindo, casando e se dando em casamento. Esse dia de julgamento virá sobre eles como um ladrão na noite – uma cena bem diferente do grande trono branco.
Os santos com Cristo em juízo
Quando Cristo vier em juízo, haverá então aqueles que “por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder, quando vier para ser glorificado nos Seus santos e para se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que creem” (2 Ts 1:9-10). Neste julgamento, os santos anjos vêm com Ele, pois “o Filho do Homem, quando vier na Sua glória e na do Pai e dos santos anjos” (Lc 9:26). No entanto, Ele também traz Seus santos com Ele: “Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, vós também sereis manifestados com Ele, em glória” (Cl 3:4). “Assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele” (1 Ts 4:14). Esta verdade dos santos vindo com Cristo quando Ele aparecer para julgar os vivos é plenamente ensinada na Escritura. Mesmo no Velho Testamento lemos: “então, virá o SENHOR, meu Deus, e todos os santos contigo, ó Senhor” (Zc 14:5), assim também em Judas: “Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos” (vs. 14-15).
Julgamento marcial e de sessão
Antes que o Milênio seja estabelecido, Deus também reunirá todas as nações e as trará a julgamento. A parábola das ovelhas, bodes e irmãos (Mateus 25) descreve este julgamento das nações, embora isto não seja a destruição da besta e seus exércitos e o falso profeta. Este último é executado por Cristo vindo do céu e como um julgamento de guerra, “e julga e peleja [guerreia – JND] com justiça” (Ap 19:11). É a destruição daqueles que, animados por Satanás, se levantam contra Ele. Mas além deste julgamento marcial, há um juízo de sessão – o julgamento das ovelhas e dos bodes. Após a destruição da besta e do anticristo, Cristo assumirá o trono de Jeová na Terra em Jerusalém, pois Jerusalém será chamada de trono de Jeová (Jr 3:17), e o julgamento procederá do Seu trono.
No final de Mateus 23, o Senhor, dirigindo-Se a Jerusalém, declara que a casa deles ficaria deserta, e Ele declara que eles não O verão mais até que eles dissessem: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” O Senhor então (no capítulo 24:1-31) dá conta de tudo o que estava relacionado com o testemunho entre os judeus até que Ele veio – quando “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. Ele então exorta seus discípulos, e em três parábolas apresenta a responsabilidade dos Cristãos durante o período de Sua ausência, mostrando que o adiamento de seu próprio retorno levaria o ministério público da Igreja à opressão hierárquica e mundanismo, como aconteceu. Então a parte histórica é retomada no capítulo 25:31. “E, quando o Filho do Homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos, com Ele”. Este não será um ato transitório como um relâmpago, mas “então, Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante d’Ele [os gentios]”. Israel e os Cristãos já foram mencionados. O evangelho do reino havia saído (cap. 24:14) como um testemunho para todas as nações (todos os gentios). E agora o fim chegou; as nações foram julgadas (os vivos) de acordo como receberam esses mensageiros do reino. É um erro dizer que há duas classes aqui, pois há três – as ovelhas, os bodes e os irmãos. Os bodes tinham desprezado esta mensagem final do reino e foram condenados. As ovelhas receberam os mensageiros e foram abençoadas; o fato de terem cuidado dos irmãos era como se eles tivessem cuidado de Cristo da mesma maneira. Aqueles julgados são as nações (ou gentios) sobre a Terra quando Cristo vier. Cristo como Rei assentará e julgará os gentios – um evento frequentemente mencionado pelos profetas.
O nosso julgamento
Até onde e como o julgamento se aplica a nós – aos santos celestiais? Primeiro, a partir do julgamento dos vivos e dos mortos, eles estão clara e totalmente isentos – quando Ele aparece, eles aparecerão com Ele em glória. Eles vêm com Ele quando Ele vem para executar o julgamento (Cl 3:4; 1 Ts 4; Ap 19). Isto é confirmado pela impressionante cena em Apocalipse 4, onde o trono (não de graça, mas) de julgamento, com trovões, relâmpagos e vozes, é colocado no céu.
Precisamos reconhecer que nós todos somos sujeitos à condenação e responsáveis em nós mesmos ao julgamento como responsáveis perante Deus. Essa é uma grande verdade fundamental que está na base da salvação, bem como na base da ira. Nada deve ser permitido para enfraquecer isso, e também, “de maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14:12). “Todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo” (2 Co 5:10). Mas o Cristão, por meio da graça, antecipou isso. Ele reconheceu pelo ensinamento divino que a condenação é sua própria porção; ele sabe que nele, isso é na carne, não há bem algum. Ele reconheceu, por meio de uma obra divina em sua própria alma, o que o pecado é diante de Deus, como o tribunal o mostrará. Mas então ele também reconheceu que Aquele que julgará os vivos e os mortos também Se interveio como Salvador antes de Se tornar Juiz e levou seus pecados em Seu próprio corpo no madeiro. Os pecados, pelos quais ele próprio teria que ser julgado, já foram levados por Outro, e a obra que os afastou está consumada e não pode ser repetida. Quando ele comparecer diante do tribunal de Cristo, ele está diante d’Aquele que afastou, Ele mesmo, todos os pecados dele.
Mas, além disso, em que estado o Cristão aparece diante do Senhor? Ele está ressuscitado em glória. Nenhum julgamento pode ser aplicado a ele, que possa afetar o fato de ele estar em glória, pois ele já está nela quando ele aparece lá. Somos “conforme à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29). Qual será o julgamento, se somos completamente como o juiz, e Ele mesmo nossa justiça? E o conhecimento disso é aplicado à nossa felicidade presente neste mundo. “Nisto é perfeita a caridade para conosco, para que no Dia do Juízo tenhamos confiança; porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo” (1 Jo 4:17).
O terror do Senhor
Em 2 Coríntios 5, o apóstolo primeiro olha para a porção adequada do santo, não como morte e julgamento, ou mesmo como morte e felicidade. É a mortalidade sendo engolida pela vida – o corpo mortal sendo transformado em glória, sem que a morte necessariamente interfira. Mas a morte e o julgamento caíram na porção do homem, e se a morte interferiu, sua confiança permaneceu inabalável, pois ele tinha vida divina. Se ele estivesse ausente do corpo, ele estaria presente com o Senhor. Então, ele considera o julgamento – chama-o de terror do Senhor, o vê completamente e declara que todos compareceremos diante do tribunal de Cristo. Então, o quê? – Ele treme ou pensa em si mesmo? De maneira nenhuma, ele convence os homens. Seu terror não produz efeito de terror em sua própria mente. Foi um julgamento que, como tal, afetou os outros. No entanto, teve uma influência poderosa em seu coração e consciência. Outros não eram livres como ele era. O pensamento daquele dia desperta o amor de Cristo que nos constrange e ele persuade os homens que não estavam preparados para isso; mas depois, em segundo lugar, os leva ao julgamento de Deus como uma coisa presente de um modo santificador. Nós somos, diz ele, (não que “seremos”), manifestados a Deus. E esse é um efeito importantíssimo – nos trazer de maneira prática à presença de Deus para nos julgarmos, e para fazermos isso quanto ao bem e ao mal, como será julgado naquele dia. Tal era então o efeito sobre Paulo: não havia terror para ele, mas um estímulo para a busca de pecadores não convertidos e para manter sua alma na presença e temor de Deus.
Galardão e não condenação
Outra expressão nesta passagem requer uma observação – “receba segundo o que tiver feito por meio do corpo”. A expressão “julgamento” é cuidadosamente evitada, mesmo quando, em certo sentido, existe tal coisa. O homem logo se transformaria em uma questão de aceitação da pessoa. Já, quanto aos ímpios, não preciso me alongar sobre eles. Eles receberão as coisas feitas por meio do corpo – será a condenação deles; mas no que diz respeito aos santos, eles também receberão as coisas feitas no corpo. Quanto à aceitação, estamos em Cristo, todos tendo Cristo por nossa justiça. Mas os santos têm o privilégio de servir, e no trabalho do Espírito Santo por nós há uma diferença. Nós recebemos por meio da graça a recompensa do trabalho, e cada homem sua própria recompensa de acordo com o seu próprio trabalho. A Escritura fala de receber um inteiro galardão. Os tessalonicenses serão o gozo de Paulo e a coroa de glória, não a nossa, como fruto de seus labores. Se nós construímos com madeira, feno e palha, tudo será perdido, apesar de sermos salvos. Em uma palavra, a justiça está em Cristo, a mesma para todos, mas o serviço é recompensado.
Quando isto acontecer, estaremos em glória, e nem mesmo teremos a natureza, a carne em que pecamos. Nós conheceremos como somos conhecidos, e daremos conta de nós mesmos a Deus, uma revisão de toda a nossa vida e de todos os caminhos abençoados de Deus para conosco, veremos tudo como Deus vê, e nos maravilharemos com a graça toda perfeita que nos guiou desde nosso nascimento. Agora, quando olho para trás, adoro a graça de Deus. Então conhecerei como sou conhecido e verei os mil exemplos de como os Seus olhos me observaram para me abençoar. Mesmo agora nós somos manifestados, até em pensar nisso. Devemos dar contas então, de fato; mas será quando formos glorificados, e trazidos para estar com Cristo por Ele mesmo para sempre.
Em resumo, então, há um julgamento dos vivos quando Cristo vier e um julgamento dos mortos imediatamente antes do grande trono branco. Haverá um julgamento contínuo quando Cristo retornar, em um sentido mais geral, com o poder associado ao governo de justiça sobre a Terra, durante o Milênio. Para os santos não há julgamento algum: Cristo vem para recebê-los para Si mesmo e os eleva em glória para tê-los com Ele. Mas eles darão conta de si mesmos a Deus quando estiverem em glória, e receberão a recompensa do serviço, embora tenha sido a graça que o produziu neles.
Adaptado de Collected Writings of JND
