Origem: Revista O Cristão – O Tribunal de Cristo

O Tribunal de Cristo

“Todos”, diz o apóstolo, “devemos comparecer ante o tribunal de Cristo” (2 Co 5:10). Esta declaração inclui crentes e incrédulos, embora haja um longo período de intervalo entre os julgamentos das duas classes. Mas é com os crentes que agora estamos ocupados. Sua aparição perante o tribunal de Cristo ocorrerá entre Sua vinda e Sua Aparição. Arrebatados para encontrar o Senhor nos ares, eles serão, então, como Cristo, irão vê-Lo como Ele é (1 Jo 3:2), e estarão com Ele para sempre (1 Ts 4:17). O lugar para onde serão levados e em que estarão com o Senhor é a casa do Pai. Isto nós sabemos das próprias palavras do Senhor: “Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos lugar. E, se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:2-3). Lá, o bendito Senhor tomará todos os que são d’Ele e os apresentará irrepreensíveis diante da presença de Sua glória com grande alegria (Jd 24). Ele e os filhos que Deus deu a Ele aparecerão diante de Seu Pai e nosso Pai, e de Seu Deus e nosso Deus com gozo transbordante! E com grande gozo o próprio Deus contemplará o fruto e a perfeição de Seus próprios conselhos, sendo todos remidos conforme a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito dentre muitos irmãos (Rm 8:29)!

O caráter do julgamento 

Algumas observações preliminares devem ajudar muito a entender o caráter do julgamento.

O crente nunca será julgado por pecados. Em 2 Coríntios 5, não são os pecados, mas as obras feitas no corpo que são julgadas. De fato, supor que a questão da nossa culpa, nossos pecados, pudesse ser levantada novamente é ignorar, para não dizer falsificar, o caráter da graça e a obra da redenção. “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê n’Aquele que Me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação (julgamento – JND), mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24). “Porque, com uma só oblação, aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10:14). A questão do pecado foi resolvida e encerrada para sempre na cruz, e todo crente está diante de Deus em toda a permanente eficácia do sacrifício ali oferecido, e é aceito no Amado. Mesmo agora, portanto, estamos sem mancha diante de Deus, e nossos pecados e iniquidades não serão mais lembrados (Hb 10:17).

Esta verdade também é vista quando é lembrado que teremos nosso corpo glorificado e seremos como Cristo antes de comparecermos diante de Seu tribunal, pois a ressurreição dos santos que dormiram em Cristo, a transformação dos vivos e o arrebatamento de ambos para a presença do Senhor, precederá Seu julgamento. Isto é consolo indizível, por já sermos como Cristo, teremos plena comunhão com Ele em todo julgamento que Ele fizer sobre nossas obras, e, portanto, nos alegraremos com a exposição e rejeição de tudo o que procedeu da carne em nossa vida aqui embaixo, e não do Espírito Santo. Isso responde às perguntas feitas às vezes, se não devemos tremer e ter vergonha sendo todas as obras de nossa vida Cristã trazidas e mostradas em seu verdadeiro caráter? De fato, como alguém disse, “estamos na luz pela fé quando a consciência está na presença de Deus. Estaremos de acordo com a perfeição daquela luz quando comparecermos perante o tribunal de Cristo”. É algo solene, pois tudo é julgado de acordo com essa luz, mas é aquilo que o coração ama, porque, graças a nosso Deus, nós somos luz no Senhor!

As obras feitas no corpo 

Tendo essas coisas em mente, podemos considerar mais de perto a natureza do julgamento em si. Não somos nós que temos que ser julgados, nem, como foi explicado, nossos pecados reaparecerão contra nós, mas, como a própria Escritura diz, “todos devemos comparecer [se manifestar] ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal”. O corpo do crente é do Senhor, um membro de Cristo e o templo do Espírito Santo (1 Co 6:15-19) e, portanto, deve ser usado em Seu serviço para a exibição do próprio Cristo (Rm 12:1; 2 Co 4:10). Por isso a ardente expectativa e esperança do apóstolo era que Cristo fosse magnificado em seu corpo, fosse pela vida ou pela morte (Fp 1:20). É por causa disso que somos responsáveis pelos atos praticados em nosso corpo, de modo que, enquanto fomos aperfeiçoados para sempre por meio da única oferta de Cristo, não poderá haver nenhum pecado além sendo colocado em nossa conta.

Cada ato de nossa vida, não apenas atos de serviço, mas todo ato que tenhamos feito serão manifestados, testados e julgados no tribunal de Cristo. O bem será visto e declarado como tal. Enquanto estes foram certamente produzidos em nós e por nós por meio da graça de Deus e do poder do Seu Espírito, eles serão contados em Sua infinita compaixão como nossos, e como tal, receberemos a recompensa. As coisas más, por mais belas que pareceram aqui, também serão vistas e reconhecidas em seu verdadeiro caráter, e pertencentes a ninguém além de nós mesmos, um produto de nossa carne, e receberão sua justa condenação. Nós nos regozijaremos em ver tudo o que desonrou nosso bendito Senhor, embora feito por nós mesmos, recebendo seu justo julgamento. O tempo para segredos desaparecerá, pois aquilo que torna tudo manifesto é a luz, e então tudo será examinado e testado pelo brilho total da luz da santidade daquele tribunal.

Nossa responsabilidade 

Vale a pena considerar se essa verdade ocupa o devido lugar em nossa alma. Conhecendo a graça e a plenitude da redenção, existe o perigo de negligenciar ou esquecer nossa responsabilidade. Mas isso nunca deve ser o caso, e a perspectiva do tribunal de Cristo destina-se a exercer uma influência muito prática em nossa alma. A própria conexão na qual ela é encontrada mostra que esse é o caso. “Mas temos confiança”, diz o apóstolo, “e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pelo que muito desejamos também ser-Lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes” (2 Co 5:8-9). A perspectiva preparou a alma do apóstolo, estimulando-o com zelo inabalável em tudo o que ele fez para buscar apenas a aprovação de Cristo. De fato, é precisamente isso que ela faz por nós, permitindo-nos trazer todas as nossas ações para a luz de Sua presença agora, e nos ajudando a fazê-las por e para Ele. Aqui está a nossa força. Satanás é muito sutil e muitas vezes nos tenta a agradar aos homens, mas quando nos lembramos de que tudo será manifestado diante do tribunal, somos imunes a suas armadilhas, sabendo que, se nos recomendarmos aos outros, pode ser que isso desagrade a Cristo. E qual é o proveito de praticar o engano, seja sobre nós mesmos ou sobre os outros, quando a natureza de tudo o que fazemos está muito perto de ser exposta? Ser aceitável a Cristo será nosso objetivo presente na proporção em que tivermos o Seu tribunal diante de nossa alma.

Adaptado de The Christian Friend, 13:149

E. Dennett

Compartilhar
Rolar para cima