Origem: Revista O Cristão – Betel

As Ursas de Betel

Vemos um notável contraste entre o ministério de Elias e o de Eliseu, embora cada um deles fosse sem dúvida chamados por Deus e cada um fosse fiel a Deus no caráter do serviço que lhes havia sido confiado. O nome de Elias significa “meu Deus é Jeová”, e ele procurou trazer o povo de Israel de volta ao Deus de seus pais e de volta à lei de Deus. Eles se afastaram de Deus para adorar ídolos e, por essa razão, muitos de seus milagres foram milagres de julgamento. Embora ele demonstrasse abertamente o poder de Deus e foi capaz de destruir os profetas de Baal em uma determinada ocasião, não parece que o coração do povo tenha mudado. Mas durante os últimos anos de sua vida, ele recebeu o privilégio de treinar o jovem Eliseu para ser profeta em seu lugar.

Graça recusada 

O ministério de Eliseu era diferente e era caracterizado pela graça, não pela lei. A maior parte de seus milagres foram milagres da graça e, por essa razão, seus poucos milagres de julgamento se destacam. Três deles estão registrados na Palavra de Deus – a dilaceração dos rapazes pequenos de Betel pelas ursas (2 Reis 2), a lepra de Geazi (2 Reis 5) e a morte do capitão que recebeu instrução quanto à comida deixada pelos sírios em fuga (2 Reis 7). Todos estão conectados com o desprezo da graça e, portanto, não refletem de maneira negativa o ministério de Eliseu, mas nos mostram o julgamento de Deus sobre aqueles que desprezam e rejeitam Sua graça. Deus ama agir em graça, mas a graça que é recusada traz o julgamento.

À primeira vista, o terrível incidente envolvendo os pequenos rapazes de Betel e as ursas pode parecer incomum em sua gravidade. Deveria um ato de escárnio desses jovens ser punido com sua morte e de maneira tão terrível? No entanto, devemos lembrar que, enquanto Eliseu amaldiçoava os rapazes em nome do Senhor, foi o próprio Deus Quem enviou as ursas. Há uma lição solene a ser aprendida em tudo isso.

A história manchada 

Betel, como cidade, tinha uma longa história e seu nome significa “a casa de Deus”. Nos primeiros dias da história de Israel na terra de Canaã as pessoas iam até lá para consultar o Senhor, pois Siló estava muito perto de Betel, e o tabernáculo estava montado lá no início. Mas as coisas haviam se deteriorado a ponto de, no tempo de Eliseu, haver um bezerro de ouro, que foi criado por Jeroboão. Era um dos dois lugares no reino do norte, das dez tribos, designados por Jeroboão para adoração idólatra, e isso ainda acontecia nos dias de Elias e Eliseu. Como outro exemplo do estado manchado da cidade, a Escritura registra que foi um homem chamado Hiel, de Betel, que desafiou a palavra do Senhor e reconstruiu a cidade de Jericó.

Mas Deus não Se deixou sem testemunha. Havia uma escola de profetas ali, onde os jovens eram treinados no caminho do Senhor. Sem dúvida, homens piedosos como Elias e Eliseu foram usados pelo Senhor para ensinar esses jovens, e essa mesma escola foi uma testemunha para o povo de Betel. Mas parece que a idolatria continuou apesar desse testemunho: não havia desejo pelo ministério dos fiéis profetas de Deus.

Os zombadores 

Mas então algo mais notável aconteceu. Elias foi arrebatado ao céu em um redemoinho, sem passar pela morte. Não era segredo, embora apenas Eliseu tivesse visto isso, pois os filhos dos profetas em Betel sabiam disso antes de ter acontecido. Esta notícia deveria ter tido um efeito preocupante sobre essas pessoas pecadoras, mas parece que elas estavam muito contentes em se livrar de Elias. Quando seu sucessor aparece, eles querem se livrar dele também. A zombaria usando as palavras “calvo, sobre, calvo” era um verdadeiro insulto a Eliseu, pois falavam que ele deveria subir como seu mestre havia subido. É altamente improvável que as crianças tenham concebido esse insulto por si mesmas. Certamente eles ouviram em casa, entre os mais velhos; elas apenas repetiam o que seus pais e outros haviam dito.

O julgamento 

O julgamento do Senhor foi terrível, mas é impressionante notar em quem caiu. Não é tão aparente em nossas traduções para o português, mas no hebraico original, a palavra usada para “rapazes” no versículo 23 não é a mesma usada no versículo 24. A palavra usada no versículo 23 para descrever todo o grupo – “subindo ele pelo caminho, uns rapazes pequenos saíram da cidade” – é corretamente traduzida, pois a palavra significa jovens rapazes, da infância até a adolescência. Mas a palavra usada no verso 24 – “então, duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois daqueles pequenos” – embora possa ser traduzida como “pequenos”, também pode significar “filhos ou homens jovens”. É traduzido “rapazes” várias vezes na Palavra de Deus, como, por exemplo, em 1 Reis 12:8, concernente aos jovens de quem Roboão buscou conselho, ou em Gênesis 4:23, a respeito do jovem morto por Lameque. Assim, parece que o Senhor colocou a mão sobre os mais velhos do grupo – os meninos mais velhos que eram os mais responsáveis. Mais uma vez, que solene resposta do próprio Senhor à rejeição do seu profeta da graça! Sem dúvida, era o que poderia ser chamado de “sinal de julgamento”, pretendido como um aviso, não apenas para o povo de Betel, mas para todo o Israel.

Uma mensagem profética 

Há talvez uma indicação de profecia aqui também. Deus está agindo em graça hoje para com a nação culpada de Israel, convidando-os a vir a Cristo e serem salvos. Somos gratos por cada um que responde, mas, infelizmente, a maior parte da nação é como a maioria dos betelitas, que rejeitaram a graça de Deus. Israel hoje não apenas rejeitou a Cristo em Seu caminho terrenal (figurado por Elias), que procurou trazê-los de volta à sua responsabilidade para com Deus, mas eles agora rejeitam a graça de Deus do Cristo Ressurreto (figurada por Eliseu). Em um dia vindouro eles sofrerão grande tribulação sob algo muito pior do que duas ursas. Eles serão expostos à tirania da besta romana e do anticristo. O número daqueles jovens que foram mortos também é significativo, pois o sofrimento dos judeus durante a tribulação continuará por quarenta e dois meses, ou três anos e meio.

Mas a graça terá a vitória. De Betel, Eliseu vai para o Carmelo, que significa “jardim” ou “campo fértil”. Esta será a condição final de Israel após o julgamento, quando as promessas de Deus forem cumpridas. “E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre” (Is 32:16-17).

W. J. Prost

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