Origem: Revista O Cristão – Vales
O Vale de Acor
O vale de Acor é mencionado cinco vezes na Palavra de Deus e está associado a conotações muito negativas, mas também positivas. As duas primeiras referências a este vale estão em Josué 7, em conexão com um evento muito solene na história de Israel. Depois de passar 40 anos vagando pelo deserto, Israel finalmente estava pronto para entrar na terra de Canaã e, consequentemente, atravessaram o rio Jordão. Em Josué 6, eles conquistaram a cidade de Jericó, e as instruções específicas de Jeová eram “Tão-somente guardai-vos do anátema, para que não vos metais em anátema tomando dela, e assim façais maldito o arraial de Israel, e o turveis. Porém toda a prata, e o ouro, e os vasos de metal e de ferro são consagrados ao SENHOR; irão ao tesouro do SENHOR” (Js 6:18-19). Apesar desse comando sério e muito claro, um homem foi dominado pela cobiça, e ele tomou “uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata e, uma cunha de ouro do peso de cinquenta siclos” (Js 7:21). Mais do que isso, ele os “escondeu na terra em sua tenda”, pensando que ninguém saberia. Como resultado desse pecado, Israel sofreu a derrota nas mãos de um pequeno povo local chamado Ai, e 36 homens foram mortos. As palavras do Senhor a Josué mostraram a ele a razão disso: “Diante dos vossos inimigos não podereis suster-vos, até que tireis o anátema do meio de vós” (Js 7:13).
O pecado de Acã
A sorte foi ordenada pelo Senhor e apontou claramente o dedo para um homem chamado Acã, que confessou o crime e até admitiu: “Verdadeiramente pequei contra o SENHOR, Deus de Israel” (Js 7:20). Mas foi uma confissão forçada, depois que ele falhou em confessar seu pecado adequadamente diante da desonra feita ao Senhor e das terríveis consequências para a nação. A sabedoria humana pode pensar que Acã poderia ser perdoado e ter outra chance, mas seu pecado, como o do homem que coletava gravetos no dia do sábado, era uma desobediência direta e voluntária ao Senhor. Mais do que isso, Acã escondeu seu pecado e não o confessou até que ele foi exposto pelo próprio Senhor. É um princípio de Deus que, se os pecados forem confessados imediatamente, o julgamento será muito menos severo do que se o indivíduo persistir neles e ocultá-los. “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28:13).
O terrível julgamento sobre Acã e sua família ocorreu no vale de Acor, onde lemos que “todo o Israel o apedrejou com pedras, e os queimaram a fogo e os apedrejaram com pedras. E levantaram sobre ele um grande montão de pedras, até ao dia de hoje” (Js 7:25-26). O vale recebeu esse nome porque Acor significa “perturbação”. Mas o pecado foi removido, e então Israel foi capaz de vencer Ai e destruí-la completamente.
A herança de Judá
Mais tarde, em Josué, lemos mais uma vez sobre esse vale, pois em Josué 15:7, descobrimos que parte da fronteira da tribo da herança de Judá ficava ao lado do vale de Acor. Que triste pensar em um homem dessa mesma tribo, que poderia ter tido uma herança ali, mas que mereceu nada além que um montão de pedras! Então, assim é hoje, homens que poderiam compartilhar uma herança com Cristo, se se arrependessem e viessem a Ele; cairão sob Seu julgamento e entrarão em uma eternidade perdida.
No entanto, encontramos duas referências posteriores ao vale de Acor. Em Isaías 65:10 lemos: “E Sarom servirá de curral de ovelhas, e o vale de Acor, de lugar de repouso de gado, para o Meu povo que Me buscar”. No começo deste capítulo, encontramos uma profecia a respeito do povo rebelde de Israel e o julgamento que o Senhor trará sobre eles em um dia futuro. No entanto, haverá aqueles em Israel que buscarão o Senhor, e especialmente da tribo real de Judá. O Senhor diz: “para que os não destrua a todos” (Is 65:8), pois os piedosos honrarão o Senhor, e o resultado do julgamento dos apóstatas será bênção e paz para “o Meu povo que Me buscar” (Is 65:10).
A porta da esperança
Da mesma forma, encontramos uma referência a este vale em Oséias 2. Como em Isaías, encontramos neste capítulo, um julgamento pronunciado sobre Israel por sua infidelidade. Porém, depois do julgamento, o Senhor a trará de volta no dia seguinte, dizendo: “Portanto, eis que Eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração” (Os 2:14). Então uma promessa é feita: “E lhe darei as suas vinhas dali e o vale de Acor, por porta de esperança; e ali cantará, como nos dias da sua mocidade e como no dia em que subiu da terra do Egito” (Os 2:15). Pode ser difícil pensar neste vale como uma “porta da esperança”, pois os terríveis eventos associados a ela nos fazem recuar. No entanto, é o caminho de Deus. O pecado não pode permanecer a Sua vista, e deve ser removido, antes que possa haver bênção. Vemos isso, não apenas com Israel, mas com este mundo em geral. O homem persistiu em seu pecado e em oposição direta ao próprio Deus. Deus procurou tratar com este mundo em graça, mas o homem recusou o amor e a graça de Deus. Não resta nada além de julgamento, pois “havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). Julgamentos terríveis serão necessários para limpar esta Terra num dia vindouro, mas o resultado será uma bênção que o homem não tem visto desde o Jardim do Éden.
O caminho da bênção
O mesmo acontece conosco em nossa vida. Quão agradecidos podemos ser, porque para nós que somos crentes, o julgamento por nossos pecados ocorreu na cruz e, assim, nas palavras de um hino: “Morte e julgamento ficaram para trás; graça e glória estão adiante”. Mas o pecado também pode entrar em nossa vida, pois ainda temos nossa natureza pecaminosa, a carne, e, se sua ação for permitida, pode estragar nossa comunhão com o Senhor. É triste dizer que, mesmo como crentes, podemos esconder nossos pecados dos outros, e até pensar que podemos escondê-los do Senhor. Às vezes, pode ser um pecado grave, mas talvez seja simplesmente o mundo entrando e assumindo o controle de nossa vida. É um bom exercício nos perguntar quanta cobiça e mundanismo estão escondidos “na terra” em nossas tendas!
O caminho de bênção para nós é confessar o pecado e permitir que o Senhor o leve ao vale de Acor. Os verdadeiros crentes nunca sofrerão judicialmente por seus pecados, embora possamos sofrer governamentalmente sob a punição das mãos do Senhor. Mas se permitirmos que o Senhor nos leve ao vale de Acor, o pecado pode ser confessado e abandonado, e a comunhão pode ser restaurada. Então, de fato, descobriremos que esse vale de problemas é realmente uma “porta de esperança”.