Origem: Revista O Cristão – Vasos
Vaso da Ira
Em conexão com as pragas que o Senhor trouxe sobre o Egito, é evidente a partir de Êxodo 7:13, bem como em outras Escrituras que se seguem, que o Senhor endureceu o coração de Faraó. Este fato também é referido em Romanos 9, onde a questão da soberania de Deus e da responsabilidade do homem é tratada. Neste capítulo, lemos a respeito do Senhor: “[Ele] endurece a quem quer” (Rm 9:18). Alguns não admitem a ideia de que Deus endureceu o coração de Faraó de forma que ele não pudesse deixar o povo ir embora somente depois que Faraó havia se mostrado um inimigo incorrigível de Deus e de Seu povo. Em vez disso, eles insistem que Deus endureceu seu coração arbitrariamente antes que o faraó mostrasse suas ímpias intenções para com o povo de Deus. Citamos alguém que traz este ensinamento: “Não é endurecimento judicial… mas soberano ‘endurecimento’ de uma criatura caída e pecaminosa por nenhuma outra razão senão… a soberana vontade de Deus”.
O endurecimento judicial
Mas vamos notar palavras que descrevam melhor a situação: “O rei do Egito era um homem completamente egoísta, cruel e profano quando Deus lhe enviou pela primeira vez uma mensagem por meio de Moisés e Arão. O efeito da intimação em tal espírito foi expor sua blasfêmia contra Jeová e uma opressão ainda mais feroz sobre Israel. Deus fez de faraó um exemplo mais marcante, não apenas expondo sua malícia, mas manifestando Seu próprio poder nesse contexto, para que Seu nome fosse assim divulgado largamente por toda a Terra. Deus nunca faz um homem mau, mas o homem mau Faraó, tornado ainda pior por sua resistência aos mais impressionantes apelos divinos, foi manifestado por Ele, levantando-o a uma alta posição como a que tinha entre os homens, a tal altura que sua queda pudesse falar às consciências por todo o mundo. Endurecido desde o início, Deus finalmente o selou num endurecimento judicial. Se fosse verdade, como Calvino diz, que aqueles que perecem foram destinados à destruição pela vontade de Deus, o caso era realmente difícil. Mas as Escrituras nunca falam assim, e a linguagem dos textos geralmente citados em apoio a tal decreto, quando examinados de perto e de forma imparcial, invariavelmente afastam tal pensamento, por mais perto que pareça se aproximar”.
Preparados para destruição
Romanos 9:22-23 também foi distorcido para fornecer apoio para uma visão errada dos tratamentos de Deus: “E que direis se Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou”. Estes versos são usados por algumas escolas de opinião para declarar que Deus preparou estes vasos, alguns para a destruição de um lado e alguns para a glória do outro. Mais uma vez, citamos um forte expoente dessa teoria. “[O apóstolo] insinua aqui que antes de nascerem, eles são destinados a sua sorte”. Isso é falsificar o que o apóstolo disse, pois ele não disse tal coisa como é alegado aqui.
Um exame cuidadoso desses versículos mostrará que não é dito que Deus preparou tais vasos para a destruição, mas que Ele preparou os vasos de misericórdia para a glória. Dizer mais do que é dito aqui é adicionar coisas à Palavra de Deus. Além disso, em vez de dizer que Ele preparou os vasos da ira para a destruição “antes de nascerem”, diz-se que Ele “suportou com muita paciência” estes vasos – nem uma palavra sobre Ele preparando-os, mas sobre Sua tolerância para com eles.
Vaso da ira
Mais uma vez, citamos um autor mais confiável: “Homens pecadores vivendo assim em inimizade contra Deus são aqui denominados ‘vasos de ira’, por outro lado, já aqueles que creem são designados ‘vasos de misericórdia’ do outro… Mas há um tom de diferença, tão distinto quanto refinado e profundamente verdadeiro, que nenhum leitor deve ignorar. É dito dos vasos da ira que estão ‘preparados para a destruição’. Mas isso não é dito nem implicado aqui, ou em qualquer outro lugar, que Deus os preparou para isso. Eles foram preparados por seus próprios pecados e, acima de tudo, por sua incredulidade e rebeldia contra Deus. Mas quando ouvimos Ele falar sobre os fiéis, a frase é completamente diferente: ‘vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou’. O mal é do homem e, em nenhum caso, é de Deus; o bem é d’Ele e não nosso. Deus, não os santos, preparou os vasos de misericórdia para a glória. Mais estritamente, Ele os preparou de antemão tendo em vista a glória. Assim, o homem perdido será no fim compelido a justificar a Deus e a assumir toda a culpa sobre seus próprios ombros, aqueles que preferiram confiar em Satanás como seu amigo e conselheiro, em vez de em Deus; enquanto os salvos, embora habitando em bem-aventurança, saberão e serão conhecidos como as riquezas da Sua glória, devedores de si mesmos à Sua infalível e insondável misericórdia”. E do mesmo escritor: “Para mim, confesso que parece a influência ofuscante da falsidade quando os homens ignoram a diferença de vasos de ira preparados, por um lado, para a destruição e vasos de misericórdia que Ele, por outro lado, preparou de antemão para a glória”.
Deus suporta com longanimidade
Vamos citar mais uma excelente fonte: “Embora seja verdade que os Cristãos são ‘eleitos n’Ele [Cristo] antes da fundação do mundo’ (Ef 1:4), nunca seria correto dizer que os pecadores perdidos foram, de maneira paralela, eleitos para a reprovação… No caso dos iníquos, longe de serem eleitos para a miséria eterna, descobrimos que Deus os suporta [enquanto estavam na Terra] – vasos de ira – com muita longanimidade, preparados não por Ele, mas por seus próprios atos para a destruição. A palavra ‘katartizo’ (Rm 9:22) significa corrigir, reparar, consertar; depois, em sua forma participial, ajustada, preparada. A palavra não supõe um decreto de Deus, mas uma obra do homem”. O homem não regenerado continua a dizer: “Ele prepara os não-eleitos para a destruição por meio de Seus decretos preordenados”.
O faraó era um déspota cruel muito antes de Moisés e Arão serem enviados a ele com uma exigência da parte Deus para que ele deixasse Israel ir. Mesmo antes de Moisés nascer, um faraó anterior havia emitido o decreto de que todas as crianças do sexo masculino deveriam ser afogadas no Nilo, e Moisés foi libertado daquele destino pela intervenção providencial de Deus. O faraó foi endurecido em seu cruel curso de exterminar o povo terrenal escolhido por Deus muito antes de Deus começar a trabalhar para livrar Seu povo do poder de faraó. Deus poderia com justiça ter matado faraó por seu pecado contra Ele naquele tempo, mas Ele suportou o perverso rei e finalmente endureceu seu coração em Seu governo de modo que faraó se precipitou nas garras da morte de uma maneira calculada para demonstrar o poder de Deus.
Cuidado com o endurecimento
Um jovem escarnecedor uma vez abordou um servo fiel de Cristo sobre o endurecimento de Deus do coração de Faraó, mas ele recebeu uma severa repreensão com as palavras: “Cuidado, jovem, para que Deus não endureça o seu coração”. E da mesma forma, à Cristandade, que rejeita amplamente a graça de Deus hoje, será dada uma mentira para que creia, de modo que aqueles que não quiseram a verdade possam perecer (veja 2 Ts 2:9-12). “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:31). Deus é paciente e longânimo, mas quando a graça é desprezada, Ele age em julgamento. É perigoso para alguém resistir às ofertas da graça; ele pode então ser cegado como sua justa punição.
