Origem: Revista O Cristão – Vasos
O Vaso no Oleiro, o Oleiro no Vaso
“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido” (At 9:15).
“E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas. Como o vaso que ele fazia de barro se quebrou na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos seus olhos fazer” (Jr 18:3-4).
“Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Rm 9:21).
Deus, o Oleiro Mestre
É de grande interesse para nós traçar a história das almas na Palavra de Deus. Em toda essa obra Sua soberania brilha visivelmente, e Ele nos concede de acordo com Ele mesmo o Seu próprio lugar nisso, pois Ele “faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade”. Ele tem o direito de fazer o que quiser; já o homem não tem esse direito. Os homens procurariam vincular Deus a certas leis criadas por eles próprios e, assim, restringir Sua vontade soberana. Mas, uma vez que sabemos que todas as nossas bênçãos dependem dessa soberania e que Ele Se agrada em Se mostrar em misericórdia, tudo é transformado. De fato, permanecemos calados diante de Deus. Não temos mais direito de reivindicar a salvação de nossa alma por Ele do que temos o poder de trocar de lugar com Ele em Seu trono de glória! Precisamos de graça para renunciar a essa suposta reivindicação – nos colocar diante d’Ele, conscientes de que Ele tem o direito de fazer o que Lhe agrada. Descobriremos, também, que o descanso da alma é encontrado em Sua própria natureza – a qual, se Ele não tivesse Se agradado em nos revelar em Cristo, nós nunca nem a teríamos conhecido.
Foi do Seu agrado criar um mundo, para colocá-lo girando no espaço entre as inúmeras órbitas que brilham nos céus ao nosso redor. Foi do Seu agrado permitir que o pecado e a morte entrassem naquela bela cena. Quem pode contestar? Foi do Seu agrado escolher e chamar um povo desse mundo e permitir que eles se destruíssem, enquanto Ele, com longanimidade, os suportava até “que mais nenhum remédio houve”. Foi do Seu agrado enviar Seu Filho para suportar a cruz e suportar Sua ira. Quem foi antes d’Ele em tudo isso? Ninguém. Em todas as coisas em que Ele trabalhou, Ele permitiu, Ele ordenou, e é Ele quem desafia o coração teimoso que diria: “Por que Se queixa Ele ainda? Porquanto, quem resiste à Sua vontade?” É Ele Quem responde: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” (Rm 9:20).
O vaso na mente do oleiro
Você já visitou a casa de um oleiro e o observou enquanto ele trabalhava nas rodas? O trabalhador pega um punhado de barro, o pressiona contra a roda, a roda gira diante de seus olhos. Onde agora (deixe-me perguntar) está o vaso? Está na mente do oleiro, antes de ser formado, o seu formato está lá. Seus dedos moldam a massa diante dele, gradualmente cresce diante de seus olhos; gradualmente, o pensamento em sua mente é transferido para o barro, e ele se eleva diante dele, e os pensamentos, que até então não estavam expressos, se desenvolvem no recipiente que seus dedos moldam.
O oleiro vê uma falha em seu vaso
Ele vê uma falha, uma imperfeição no barro. Outros não detectaram essa falha, mas ele sim, com o olho de um artista. Ele esmaga o barro sob sua mão e o transforma novamente em uma massa sem forma. E novamente seus dedos moldam e o forma de acordo com seu projeto. De novo e de novo aparecem defeitos. De novo e de novo o barro é reduzido a uma massa sem forma, até que finalmente se eleva, na perfeição do seu desígnio diante dele, seu olho examina-o com satisfação, e ele o remove da roda para ocupar seu lugar com as coisas escolhidas da Terra ao redor.
Onde está agora o oleiro? Onde estava o vaso antes do oleiro começar seu trabalho? Estava no oleiro! Onde está agora o oleiro? Ele está no vaso. Tudo o que sua mente projetou e forjou está ali para ser visto. O vaso está apto para aquele a que ele foi feito.
E esta é a história da alma. O barro está na mão do Oleiro. Seus dedos o moldam, ainda há defeitos, o barro precisa mais uma vez de Sua paciente manipulação e habilidade. Ainda não está suave nem uniforme, nem maleável à Sua mão. Ele esmaga o barro vez após vez. O vaso perfeito estava diante de Sua mente e proposto antes que Sua mão pegasse o barro e o colocasse na roda. Mas quando tudo está feito, Ele transferiu Seu pensamento com habilidade infalível para o barro, o Oleiro é agora visto em Sua obra, e é um vaso de misericórdia, que Ele preparou de antemão para a glória.
Quão importante, à medida que esses esmagamentos acontecem, é a necessidade da interpretação desta habilidosa obra da mão do Oleiro! Quantas vezes as lições são mal entendidas, ou não são entendidas de forma alguma! Na história das almas na Palavra, essas ações são vistas, os resultados são alcançados. Neles, lemos a história de Suas obras com nossa própria alma e com a obra de Deus. Nós olhamos então para as linhas de beleza, resultantes de Sua mão, nós nos entregamos às coisas que acontecem, vemos o objetivo do Senhor. “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto” (Rm 8:28).
Como um Oleiro, o Senhor Deus tomou do pó da Terra, na primeira criação, e o transformou em um homem. Ele então “soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Mas o vaso foi danificado. Mais uma vez, o divino Oleiro toma a mesma massa, exibe novamente Sua habilidade e forma um vaso de misericórdia para a glória eterna – uma nova criação “em Cristo”.
