Origem: Revista O Cristão – Vasos

O Vaso Quebrado do Oleiro: Jeremias e Seus Tempos

Eu sinto muito distintamente que há um caráter especial neste tempo presente pelo qual estamos passando. As grandes potências que estão destinadas a completar a ação do dia de encerramento da Cristandade estão se preparando, cada uma em suas várias esferas, com grande seriedade e habilidade. Eu me refiro ao civil e o eclesiástico.

Não duvido que, por um período, a vontade eclesiástica prevaleça. A mulher deve montar a besta (Apocalipse 17) por um tempo – um símbolo profético, creio eu, significando a supremacia eclesiástica. E este momento presente é marcado por muitos esforços em favor daquilo que toma o lugar da Igreja, para se exaltar a si mesma. Ela está tão habilmente direcionando esses esforços que o sucesso rapidamente será alcançado, e então o sangue dos santos poderá ser derramado novamente.

O poder civil, no entanto, é tudo menos ocioso. O tremendo avanço que está fazendo todos os dias demonstra grande habilidade e atividade da sua parte. Está se gabando em grande parte, mostrando o que tem feito e se comprometendo com o que mais pretende fazer. Eu não duvido que o poder civil tenha que abrir mão da supremacia por um tempo, e a mulher irá a montar novamente, embora que a grandeza dela seja apenas por um momento, pois o poder civil se ofenderá e removerá a mulher.

Se nós, na graça de Deus, mantivermos uma boa consciência para com Cristo e Sua verdade, poderemos contar com o fato de que nenhuma herança na Terra vale muito. Se consentirmos em nos tornar o que quer que os tempos nos fizessem ser, é claro que podemos continuar, e isso também, avançando com um mundo que está evoluindo (Eu falo simplesmente das coisas como elas são na Terra. Eu sei que a qualquer momento, independentemente delas, os santos podem ser levados para se encontrarem com Senhor nos ares).

O espírito de Jeremias 

Tenho sido sensível ultimamente a respeito de quanto o espírito de Jeremias se adapta a estes tempos. A iniquidade era abundante na cena ao redor dele, embora fosse reconhecida pelo nome de Deus, e lá era de fato Seu lugar na Terra. A casa de oração havia se tornado um “covil de ladrões”, embora ainda clamassem: “Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este”. Ele sabia que o julgamento de Deus estava à espera de tudo isso, e ele esperava dias felizes que estavam distantes, além da corrupção presente e do julgamento que se aproximava. Sobre toda essa corrupção, Jeremias lamentou contra tudo o que ele testemunhou, e como seu Mestre, ele foi odiado por causa de seu testemunho (Jo 7:7). Ele estava, no entanto, cheio de fé e esperança, e na força disso (antecipando o futuro) ele colocou seu dinheiro na compra da herdade de Hananel (Jeremias 32). Tudo isso era belo – a atual tristeza por causa da corrupção da filha de seu povo, a certeza da fé no juízo vindouro e a perspectiva de esperança da coroa de glória no final.

Este é um padrão para o nosso espírito. E eu observo outra característica do poder no profeta. Ele não seria seduzido pelas aparências ocasionalmente justas e promissoras a afastar-se das conclusões da fé (ver Jeremias 37). O exército caldeu tinha penetrado o acampamento sob os muros de Jerusalém por causa da chegada dos aliados egípcios. Esta circunstância bajulava o povo judeu em esperanças, mas Jeremias deixou a cidade porque ele ainda mantinha a conclusão dada pela fé, que Jerusalém estava condenada por Deus com um julgamento justo. Tudo isso é uma bela exibição de uma alma caminhando pela luz de Deus, não apenas através da escuridão, mas através das trevas que pareciam ser leves. Como nos dias de Jeremias, a separação é o lugar e o chamado do Cristão – separação por causa da cidadania celestial e da união com um Cristo já ressuscitado.

A parábola do oleiro 

Tudo isso pode nos admoestar, amado, mas eu tenho outra palavra em meu coração agora também.

A parábola do oleiro em Jeremias 18 e 19 foi projetada para mostrar a Israel que, embora levados à aliança, ainda estavam ao alcance dos juízos divinos. Na época de João Batista, Israel é encontrado no mesmo caráter de autoconfiança. Se nos dias de Jeremias eles dissessem: “Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este”, nos dias de João Batista eles diziam: “Temos por pai a Abraão”. Mas João, como Jeremias, os ensinaria novamente que, embora debaixo da aliança, o julgamento poderia alcançá-los. No ministério do Senhor, encontramos o mesmo. Israel ainda se vangloriava, e o Senhor repetidas vezes advertiu-os do julgamento vindouro. Tudo isso traz uma lição para nós também.

A Cristandade, ou Babilônia, tomou este antigo lugar de Israel. Ela confia na segurança, apesar da infidelidade. Ela se orgulha do Senhor, embora sua condição moral seja vil. Ela diz: “Estou assentada como rainha, não sou viúva e não verei o pranto” (Ap 18:7), embora o sangue, o orgulho e todas as abominações a manchem. Mas Apocalipse 18 é outra ação. Como a do profeta na casa do oleiro, ensina ao infiel que a perdição dos vasos quebrados, ou as pedras de moinho jogadas no mar, esperam por ela. Isso é para o nosso aprendizado. Deus nunca sanciona a desobediência. Ele não entrou no Jardim do Éden para aprovar o pecado de Adão, mas para trazer alívio dele por meio da graça. Assim, no evangelho Ele condena totalmente o pecado, enquanto liberta o pecador.

Ele também nunca Se compromete com Seus despenseiros. Ele Se compromete com os seus próprios dons e chamados (Rm 11:29), mas nunca com os Seus despenseiros. Eles sempre são considerados responsáveis perante Ele, e a desobediência resulta em perda. Cristo é o único Despenseiro que já Se levantou e respondeu por Si mesmo no lugar condicional, e como sempre, Ele é a contradição moral do homem. Na tentação (Mateus 4), o diabo procurou inspirar o Senhor com confiança, apesar da desobediência. Ele citou parcialmente o Salmo 91, citou a segurança prometida, omitindo a obediência exigida. Mas ele foi totalmente derrotado. O Senhor, ao responder, citou Deuteronômio 6 e agiu de acordo, pois nesse capítulo a obediência é declarada como a base da segurança de Israel. Deste modo, Jesus guardou Suas próprias bênçãos sob o Salmo 91 e as bênçãos de Seu Israel sob Deuteronômio 6. Mas todos os outros despenseiros, por sua vez, fracassaram, e o orgulho da Babilônia, que já ouvimos, é uma mentira.

Vasos orgulhosos 

Tudo isso pode ser lembrado de forma oportuna nos dias de hoje, pois vivemos em uma época em que a Babilônia está se enchendo de novo com essa ostentação, pouco antes de sua derrota, quando ela irá encontrar a destruição da mó (Ap 18:21). Pois o orgulho da “cidade eterna”, como ela se chama, apenas sinaliza para ela mais terrivelmente o julgamento de Deus. É o pensamento favorito dela, que enquanto outras Igrejas tremem pela sua segurança, ela está acima de tais medos, ela é a cidade de Deus e tem seus muros ao seu redor. Isso é imponente, mas quando considerado pelo ensinamento da Palavra, só mais distintamente declara o que ela é, e testemunha sua maturidade mais avançada para o julgamento de Deus. Este orgulho é um desafio. É a negação de sua sujeição a Ele, de sua mordomia ou lugar de ser responsável perante Ele e Seu julgamento. Isto a deixa pelo destino do vaso de oleiro no vale do filho de Hinom, ou da mó na mão do anjo. “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei Eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se” (Jr 19:11).

J. G. Bellett (adaptado)

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