Origem: Revista O Cristão – Vasos

Vasos Vazios ou Cheios

Muito já foi dito e escrito, especialmente em poesia, sobre a necessidade de sermos vasos vazios, prontos para o uso do Mestre. O pensamento é que estarmos sempre vazios é a qualificação para uso imediato e que, quando estamos nessa condição, o Senhor pode nos levar, nos encher e nos enviar para qualquer serviço para o qual Ele chama. Isto é algo ensinado nas Escrituras?

Vamos considerar, em primeiro lugar, as Escrituras em que o termo “vasos” ou “vaso” é encontrado. Em 2 Coríntios 4, o apóstolo diz: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro” (v. 7). Esta passagem contém uma alusão a Gideão e seus homens. Nós lemos que “Então, repartiu os trezentos homens em três esquadrões; e deu-lhes a cada um nas suas mãos buzinas e cântaros vazios, com tochas neles acesas” (Jz 7:16). Podemos observar que os vasos [cântaros – ARC] estavam vazios, mas Gideão colocou as luzes (ou tochas) dentro. Isso nos ajudará a entender o significado do tesouro nos vasos de barro de que fala o apóstolo Paulo. É evidente, no contexto, o conhecimento daquela glória de Deus que, exibida na face do Cristo glorificado, Deus fez brilhar em nosso coração. Mas isso, uma vez recebido, não vem e vai, mas permanece como uma possessão permanente. A condição de sua exibição é outra coisa, envolvendo o constante levar no corpo do morrer de Jesus (v. 10 – ARA), mas o tesouro permanece no vaso.

Vasos santificados 

Em 2 Timóteo 2 o termo “vasos” também é encontrado. “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (vs. 20-21). A questão aqui não é de vasos vazios ou cheios, mas é inteiramente de associação. Para ser um vaso pronto para as mãos do Mestre, “um homem” deve estar separado dos vasos de desonra, confirmando assim o princípio de contaminação por meio de nossas associações e consequente desqualificação para o serviço. Somente quando purificado dos vasos de desonra, alguém pode se tornar um vaso para honra, alguém que o Mestre terá deleite em tomar e empregar. Mas passando para o próximo capítulo, aprendemos que se o homem de Deus deve ser “perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm 3:17), ele deve ser bem instruído nas Escrituras. O vaso deve estar cheio e, nesse estado, habitualmente, a Palavra deve permanecer no vaso, e então fluirá no ensino como o Mestre pode requerer.

Rios de água viva 

Se nos referirmos agora à verdade envolvida de maneira mais geral, o mesmo resultado será obtido. Quando nosso Senhor estava falando com a mulher samaritana, Ele disse: “Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). Aqui novamente a água uma vez recebida – um símbolo da vida no poder do Espírito Santo – permanece como uma possessão permanente. Por isso, se nos voltamos para João 7, descobriremos que a água não é apenas recebida, mas que também flui para fora: “Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (v. 38). Claro, deve haver a recepção constante, mas o vaso nunca deve ficar vazio. Em vez disso, o poço ou fonte está dentro, porque está ligado ao dom do Espírito que habita em nós. Possuindo, portanto, o Espírito Santo, o estado normal do crente deve ser o de estar cheio até transbordar com o Seu poder, para que “rios de água viva” possam fluir para a bênção dos que estão ao redor. Não poderia haver um vaso vazio, pois estar preparado para o serviço é estar cheio até transbordar. Por outro lado, se essas correntes, pelo entristecimento do Espírito Santo de Deus, não estiverem fluindo e o vaso, em certo sentido, se tornar vazio, este vaso não estaria, é desnecessário dizer, em condição de ser usado pelo Mestre.

Se nos referirmos agora a outra Escritura, a mesma conclusão será alcançada. Duas serão suficientes: “Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas, as vossas candeias” (Lc 12:35), e “Entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp 2:15). Agora, as “luzes” nestas e em outras Escrituras sempre significam Cristo – Cristo como resplandecendo, no poder do Espírito Santo, por meio da vida do crente. Mas Cristo deve ser recebido antes que Ele possa ser expresso, a luz deve estar dentro antes que possa brilhar.

Um vaso sem Cristo 

Um vaso vazio seria, então, um vaso sem Cristo. Eram as virgens imprudentes, e não as prudentes, que tinham seus vasos vazios, elas não tinham azeite com elas, significando o fato de elas não terem nascido de novo, e consequentemente não tinham o Espírito habitando nelas. As prudentes falharam em não acenderem suas lâmpadas, mas já que seus vasos não estavam vazios, elas foram levantadas a tempo para se encontrarem com o Noivo e foram com Ele para as bodas.

A questão então pode ser levantada, é possível um Cristão ser vaso vazio? Uma de duas coisas sempre acontecerá. Ou ele estará cheio de Cristo ou de si mesmo e das coisas que têm ele mesmo como centro. Assim, se não for preenchido com Cristo, ele estará sempre em perigo. Foi isso que aconteceu com a nação judaica. O espírito impuro da idolatria havia saído, mas não encontrando descanso, na linguagem de nosso bendito Senhor, o espírito imundo disse, “Voltarei para a minha casa, donde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má” (Mt 12:43-45) Se agora aquela nação tivesse recebido a Cristo, Ele teria preenchido o vazio, e eles teriam ficado seguros desta terrível intrusão de espíritos malignos. Da mesma forma, a menos que o Cristão esteja cheio de Cristo, ele estará sempre exposto para estar ocupado e possuído com as coisas que se opõem a Cristo.

Cheios com o Espírito 

É bem verdade que, se o Senhor envia qualquer um dos Seus para um serviço especial, tudo deverá ser recebido da parte d’Ele. Nada de nós mesmos, nada que flua de nós mesmos, poderá ser usado para Ele. Mas o ponto é que o crente não estará em uma condição de ser usado por Deus a menos que ele já esteja cheio. E quanto mais cheio ele estiver, quanto mais Cristo possua sua alma de maneira prática, mais dependente ele será, de forma consciente, e certamente, assim sendo, quando o privilégio de algum serviço aparecer ele olhará para cima para receber tudo o que ele precisa vindo do Senhor. Assim, na Igreja primitiva, foi depois deles estarem cheios do Espírito Santo que eles falaram a Palavra de Deus com ousadia (veja Atos 4:31; 2:4). Sendo assim, repetimos novamente, não são os vasos vazios, mas os cheios que o Senhor requer à Sua soberana disposição em serviço.

E. Dennett (adaptado)

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