Origem: Revista O Cristão – Vencendo

Ao Que Vencer

Apocalipse 21:1-8 levanta o véu da eternidade e descreve o estado eterno. Aqui temos a mais completa descrição na Escritura da bem-aventurança do novo céu e da nova Terra, nos quais todas as coisas serão feitas novas. O tempo dos caminhos de Deus no governo se encerrou, e Deus descansa na bênção de Seu povo redimido de acordo com a perfeição de Sua natureza. Mas em maravilhosa graça o Espírito de Deus menciona um elo com as coisas que se passaram: “Quem vencer herdará estas coisas, e Eu serei para ele Deus, e ele será para Mim filho” (Ap 21:7 – JND). No estado eterno, não haverá mais vencedor, pois não haverá nada a ser vencido. Antes, essa nota de triunfo nos leva de volta ao campo de batalha do passado, onde os Seus lutaram nas batalhas sobre as quais Deus coloca Seu selo. Quem, a não ser Deus, poderia ter chamado a eles novamente? Se os próprios indivíduos tivessem recordado sua experiência no conflito, poderíamos esperar que o registro não passasse de fracasso e derrota. Mas na graça soberana esse é o caráter que Ele lhes dá e tudo o mais é esquecido. Alguma coisa poderia afetar nosso coração mais profundamente ou nos encorajar para o conflito que permanece? Se corretamente entendido, certamente a preciosa graça de Deus – além de todos os nossos pensamentos – é o mais forte incentivo para sermos vencedores!

Como Cristo venceu 

A expressão aqui é muito geral – nenhuma circunstância particular ou conflito é especificado. Mas, voltando-se para a Escritura para buscar luz quanto a isso, uma pista preciosa é encontrada em outra passagem deste livro. “Ao que vencer lhe concederei que se assente Comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono” (v. 21). Esta pequena cláusula, “assim como Eu venci” tem uma doçura peculiar. Ela nos faz lembrar do Senhor Jesus em Seu caminho aqui e nos ocupa com a perfeição na qual Ele passou por conflitos. Podemos, então, aprender dos Evangelhos algo do caráter do conflito e da maneira pela qual Ele venceu?

Vencendo o mal com o bem 

Mas antes de nos voltarmos diretamente para eles, há uma expressão em Romanos que, embora não seja exatamente aplicada a Ele, só pode ser entendida quando vemos n’Ele a expressão perfeita dela: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:21). Poderia alguma coisa ser mais característica do caminho do bendito Senhor? Em um mundo mau, Ele foi a revelação da perfeita bondade de Deus. No poder desse bem Ele Se colocou acima de todo o mal e nunca foi vencido por ele. Nós temos que passar pelo mesmo mundo e somos testados em nossa experiência todos os dias. Devemos ser vencidos do mal, ou o infinito bem que conheço em Cristo tomou posse do meu coração de tal forma que, no poder d’Ele, eu venci? Em Sua força, somos capazes não apenas de resistir ao mal, mas por meio da graça de vencer o mal com o bem. “Onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5:20).

O valente guarda armado 

Duas vezes nos Evangelhos o Senhor nos fala de Sua vitória. A primeira é em Lucas 11:21-22: “Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem. Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele e vencendo-o, tira-lhe toda a armadura em que confiava e reparte os seus despojos”. Aqui somos levados de volta ao conflito que nenhum outro olho, a não ser o de Deus, testemunhou e percebemos como Ele venceu, Aquele que Se provou ser o mais forte. Ele “foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). Satanás O tentou de três maneiras diferentes, apresentando aquilo que apelava à concupiscência da carne, à concupiscência dos olhos e à soberba da vida. Em cada caso, nosso bendito Senhor venceu, mantendo o lugar que Ele havia tomado como Homem, de dependência e obediência. Em cada caso, Ele respondeu a Satanás com a Palavra de Deus e simplesmente disse: “Está escrito”. O diabo não conseguiu obter nenhum ponto de apoio. Tudo quanto à glória de Deus e a realização de Seus propósitos na graça dependiam da questão daquele conflito, mas o Senhor Jesus Se ancorou completamente em “Está escrito”. Que exemplo para nós!

É significativo para nós que a ordem das táticas do inimigo com o Senhor seja a mesma contra a qual os jovens têm que estar prevenidos em 1 João 2. Eles venceram o maligno pela Palavra de Deus que habitava neles, mas o mundo é o perigo agora. É dito a eles: “Não ameis mundo” e, por causa da traição de nosso coração, acrescenta-se: “Nem o que no mundo há” (1 Jo 2:15). Não é a posse que está em questão, mas o que um homem espera possuir – o que o coração está determinado. Todos os objetos de Deus para nós estão centralizados em Cristo e encontrados onde Ele está. Deus não pode apresentar nada como um objeto para o coração que é de, ou em, um mundo que rejeitou Seu Filho. Se há algo aqui que nos atraiu e se tornou nosso objeto, é o tentador astuto que, afastado da porta da frente, deu a volta pela porta dos fundos e ganhou uma entrada pelo que desejamos para nós mesmos ou para nossas famílias. Como alguém disse: “um pouco de algo em uma vitrine pode fazer o seu trabalho”, mas se isso não acontecer, ele pode ampliar a isca até todos os reinos deste mundo. No entanto, na estimativa de Deus, não há nada neste mundo moralmente, além de desejo e orgulho – o miserável desejo por aquilo que não temos ou o desprezível orgulho por aquilo que temos.

Vitória pela fé 

Mas como devemos vencer a armadilha do diabo do mundo? Em 1 João 5:4, lemos primeiro: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo”. Na própria vida e natureza que recebemos de Deus, temos um princípio de vitória sobre o mundo. Em segundo lugar, temos: “e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5:4). Isto é, pelo objeto apresentado à fé nos tornamos vencedores. Terceiro, é perguntado: “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (Jo 5:5). Nada menos do que a plena glória da Sua Pessoa como o Filho de Deus é suficiente. Precisamos do brilho total de Sua infinita glória como Filho de Deus para nos dar a vitória sobre o mundo e seus enganos. Então saberemos algo de um coração tão cheio d’Ele para adoração e serviço que, como com o Senhor quando Ele esteve aqui, não haverá espaço para qualquer objeto do mundo de Satanás.

Em nada vos espanteis 

A segunda ocasião em que o Senhor Se apresenta como vencedor é trazida diante de nós em Suas palavras finais com Seus discípulos em João 16:33: “Tenho-vos dito isso, para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo”. Este é outro lado do mundo. Não é o aspecto sedutor pelo qual Satanás esperava derrubar o Senhor e que é o perigoso para os jovens, mas antes o aspecto perseguidor – um mundo onde muita tribulação seria encontrada no caminho para a glória. É a nossa porção designada aqui, e há um perigo real de ceder diante da pressão dele e se tornar infiel. Se Satanás não pode seduzir o Cristão pelo mundo, ele irá persegui-lo, como em Esmirna.

Esse aspecto do mundo pode não ser tão traiçoeiro, mas é muito real, e nossa única segurança é manter os olhos n’Aquele que nos diz: “tende bom ânimo; Eu venci o mundo”. Assim, novamente, as palavras “Assim como Eu venci”, têm seu peso sobre o nosso caminho. Foi dito aos filipenses: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer n’Ele, como também padecer por Ele, tendo o mesmo combate” que viram em Paulo e viam estar também neles (Fp 1:29-30). Não era da vontade de Deus que eles ou nós fôssemos desencorajados – “E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação, e isto de Deus” (Fp 1:28).

O poder de Satanás 

Temos que nos confrontar com o poder de Satanás no mundo, mas é de um modo muito diferente daquele em que o Senhor o enfrentou. Naquela momento, o diabo estava orgulhoso com o sucesso de quarenta séculos. Nunca antes um homem foi capaz de se levantar contra ele, firme e completamente. Mas agora ele está completamente desconcertado. “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se d’Ele por algum tempo”, e Jesus retornou no poder do Espírito, o mesmo poder em que Ele havia ido ao seu encontro, na Galileia (Lc 4:13-14). Se aquela temporada foi passada por Satanás reunindo todos os seus recursos para o último ataque sobre o Senhor Jesus, foi apenas para encontrar sua derrota final, pois pela morte Ele aniquilou aquele que tinha o império da morte, para livrar os que com medo da morte, como nos tempos do Velho Testamento, toda a sua vida estavam sujeitos à escravidão (Hb 2:14-15). Porque para a fé ele é um inimigo derrotado, pode-se dizer: “resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7). Ele não pode ficar em pé diante do mais fraco santo que levante o dedo mindinho da resistência, e em breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo de nossos pés.

Aquele que vencer terá a eternidade para desfrutar em paz a herança dessas coisas. “Eu serei Seu Deus, e ele será Meu filho” – a soma de toda a bem-aventurança. No entanto, essa palavra, característica daqueles assim abençoados, conta como Deus não havia esquecido os conflitos do passado, embora apenas lembrado pela graça que os tornou vencedores. Nós somos, de acordo com Romanos 8:37, “mais do que vencedores” (pois a palavra é a mesma traduzida como “vencedores”, embora com uma força maior) “por Aquele que nos amou”.

Que o Senhor, por Sua maravilhosa graça e pelo exemplo que Ele estabeleceu para nós, desperte todos os nossos corações para uma fidelidade mais séria e devota no conflito que ainda permanece, pois Ele pode dizer: “Assim como Eu venci”.

Adaptado de Truth for Believers

J. A. Trench

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