Origem: Revista O Cristão – O Homem Perfeito e Dependente

Verdadeira Dependência – O Que É Isso?

Em outros artigos nesta edição de O Cristão, o Senhor Jesus é retratado como o Homem perfeito e dependente. Como sempre, quando queremos buscar a perfeição em qualquer reino moral e espiritual, devemos trazer Cristo nisso. Ele foi Aquele que, como Homem, exemplificou a perfeição em dependência aqui neste mundo. No entanto, talvez pudéssemos explorar o que é a verdadeira dependência do ponto de vista prático, no dia em que estamos vivendo. Ou seja, o que é a verdadeira perfeição no que se refere àqueles que ainda têm vontade própria, que ainda possuem uma natureza pecaminosa e que talvez tenham alguma confiança em suas habilidades naturais? Quando os tempos são bons e as coisas estão indo bem, é fácil definir a dependência para nós mesmos, de uma maneira simplista, como aquele estado de espírito que não finge possuir alguma força própria, mas se apoia na força do outro. Talvez em nossa definição também possamos incluir que não devemos ter vontade própria, mas sim, procurar fazer a vontade do Senhor. Porém, quando os tempos ficam difíceis e as coisas não vão bem, podemos pensar de forma diferente sobre a dependência.

Antes de considerarmos o que constitui a verdadeira dependência, vejamos algumas atitudes que podem passar por dependência, mas não são realmente confiança no Senhor da maneira certa.

Descuido 

Em primeiro lugar, a dependência no Senhor não consiste em levar uma vida descuidada e desleixada e depois dizer: “Estou dependendo do Senhor”. Não, Deus é um Deus de ordem e disciplina, e não podemos esperar que o Senhor cuide de nós quando não somos diligentes em nossas responsabilidades do dia a dia. Lembro-me de visitar um querido irmão e sua família (há mais de 50 anos) e, mesmo quando jovem, pude ver que ele não estava administrando seus negócios da maneira certa. Eles estavam evidentemente sem dinheiro, mas quando o acompanhei em uma chamada de serviço para um cliente, vi-o prestar um bom serviço para alguém que certamente deveria ter pago por isso. No entanto, ele não cobrou do cliente e, quando comentei sobre isso durante a viagem de volta, sua resposta foi: “Meu pai cuidará de mim, mas não conte à minha esposa!” De certa forma, sua filantropia era boa, mas não é isso que a Escritura quer dizer ao nos dizer para sermos dependentes do Senhor.

A mente do Senhor 

Outro efeito desse tipo de pensamento é que podemos decidir o que queremos fazer, sem buscar adequadamente a mente do Senhor. Então podemos dizer que estamos dependendo do Senhor para nos capacitar a realizar o que nós decidimos. Lembro-me de uma jovem Cristã que queria se casar com um certo rapaz (aparentemente um crente), e a maioria de nós que o conhecia não achava que fosse uma boa ideia. Quando lhe falaram sobre como era desaconselhável o casamento, sua única resposta foi: “O Senhor é capaz”. Sim, o Senhor é certamente capaz, mas Ele não abençoa o que é produto de nossa própria vontade. O jovem casal prosseguiu com o casamento e, como havíamos previsto, terminou em desastre e divórcio.

Outro tipo de falsa dependência é quando sentimos a necessidade da ajuda do Senhor, mas então, em vez de esperar n’Ele, ficamos ansiosos e assustados, e talvez tentemos isso ou aquilo, querendo, à nossa maneira, lidar com o problema. Sim, como observamos anteriormente neste artigo, não devemos negligenciar nossas próprias responsabilidades em nossa vida, mas também há momentos em que, como Israel na margem do Mar Vermelho, devemos estar “quietos” e ver “a salvação do Senhor” (Êx 14:13). Quando parecia não haver saída humana para a dificuldade, você se lembrará de que os filhos de Israel ficaram com muito medo e até queriam voltar ao Egito como escravos novamente. Eles não perceberam que o Senhor tinha tudo sob controle. Novamente, isso não é dependência do Senhor.

Plano B 

Outro tipo comum de falsa dependência é fingir confiar no Senhor, mas depois ter o que é comumente chamado de “plano B” no fundo de nossas mentes. Embora possamos não admitir isso, mesmo para nós, isso está realmente dizendo que, como o Senhor pode não honrar minha fé, preciso ter algum outro plano para recorrer, caso o Senhor não cuide de mim. Novamente, isso não é real dependência no Senhor. Precisamos lembrar que, embora o Senhor possa testar nossa fé, Ele nunca decepcionará nossa fé. Se Ele não fizer o que pedimos, temos que entender que Ele nos ama muito e sempre agirá para o nosso bem e bênção.

Dependência 

O que é, então, a verdadeira dependência? É, antes de tudo, uma caminhada em comunhão com o Senhor. Sem isso, não pode haver real dependência n’Ele. Se somos verdadeiramente salvos, somos habitados pelo Espírito de Deus e podemos andar em comunhão contínua com o Senhor. Nosso Senhor Jesus Cristo foi o Exemplo perfeito disso e, assim, pôde discernir a vontade de Seu Pai, mesmo quando as circunstâncias pareciam indicar algum outro curso de ação. A força de Deus nos ampara quando estamos no caminho da Sua vontade, mas Ele não pode nos apoiar no caminho errado.

Em segundo lugar, a verdadeira dependência reconhece que, embora devamos cumprir fielmente nossas responsabilidades diárias, devemos sempre reconhecer nossa necessidade de dependência. Quando Pedro estava caminhando para o Senhor Jesus sobre a água, ele ficou assustado quando viu a força do vento. Mas sem o poder do Senhor, ele não poderia andar melhor em águas lisas do que em águas agitadas. Assim também não podemos lidar melhor com situações diárias normais do que com grandes problemas, sem depender do Senhor. O rei Asa (2 Cr 14) passou dez anos em paz fortalecendo Judá, mas quando os problemas vieram, ele enfrentou um exército muito maior do que o seu. Ele reconheceu sua necessidade da ajuda do Senhor e clamou a Ele. Como resultado, ele obteve uma grande vitória.

Espere em Deus 

Terceiro, a verdadeira dependência reconhece a necessidade de esperar em Deus e deixá-Lo lidar com a situação em Seu tempo. O rei Saul não percebeu isso, e ele “forçou-se” e ofereceu holocausto, quando Samuel não veio tão rapidamente quanto Saul esperava. Quantas vezes em nossa vida somos tentados a “nos forçar” por causa da falta de dependência no Senhor! Tanto Davi quanto Jó tiveram que aprender a esperar no Senhor, e tendo aprendido isso, Davi pôde dizer: “Espera no Senhor espera, pois, no Senhor” (Sl 27:14). Jó foi sabiamente informado por Eliú: “E quanto ao que disseste, que O não verás, juízo há perante Ele; por isso, espera n’Ele” (Jó 35:14). O tempo de Deus está sempre certo.

Situações difíceis 

Quarto, a verdadeira dependência entende que às vezes o Senhor nos permite passar por uma situação difícil, em vez de nos livrar dela. Falamos com toda a reverência quando dizemos que o Senhor Jesus era perfeitamente dependente de Seu Pai quando disse profeticamente: “Em Ti confiaram nossos pais; confiaram, e Tu os livraste” (Sl 22:4). Mas então, Ele teve que dizer de Si mesmo: “Eu Souopróbrio dos homens e desprezado do povo” (Sl 22:6). Apesar de Sua dependência em Deus, Seu clamor foi ouvido, mas não respondido. Ele teve que passar pelo terrível sofrimento da cruz, mas havia aquela confiança perfeita de que Deus O conduziria até o fim.

Da mesma forma, o apóstolo Paulo pediu três vezes que o “espinho na carne” fosse removido, mas a resposta do Senhor foi: “A Minha graça te basta” (2 Co 12:8-9).

Força por meio da fraqueza 

Finalmente, devemos apreciar que o Senhor às vezes tira parte de nossa força natural para que possamos confiar mais em Sua força. Nosso coração natural não gosta disso, pois gostamos de nos sentir fortes e capazes de administrar nossa própria vida. Isso aconteceu com o apóstolo Paulo, como já vimos, e então ele pôde escrever, citando o que o Senhor lhe disse: “o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9). Se agirmos com nossa própria força, tendemos a levar o crédito por isso. Se algo é feito na força do Senhor, nós damos a Ele a glória. Ele deve ter toda a glória no final; vamos dar-Lhe glória enquanto ainda estamos neste mundo.

W. J. Prost

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