Origem: Revista O Cristão – Um Caminho Solitário
“Verdadeiramente Viúva”
A viúva é frequentemente vista na Escritura como o objeto especial dos pensamentos de Deus. Mas só depois de chegarmos a 1 Timóteo é que temos a indicação daquelas que são viúvas de acordo com a mente divina. O apóstolo se dirige a Timóteo e a nós, por meio dele, para que honremos a tais, mostrando o lugar que elas devem ocupar entre os santos de Deus.
Três características são dadas à “verdadeiramente viúva” Ela “não tem amparo espera em Deus e persevera em súplicas e orações, noite e dia” (1 Tm 5:5 – ARA). É notável que três viúvas sejam encontradas no Evangelho de Lucas, que correspondem exatamente aos detalhes desta descrição. A viúva de Naim, cujo filho estava sendo levado para o enterro quando foi encontrada por nosso bendito Senhor, era realmente a desolada (Lucas 7). A viúva pobre, que depositou suas duas moedas na arca do tesouro do templo, certamente esperava em Deus (Lucas 21). E em Ana encontramos a última característica, pois é dito dela que “ela … e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia” (Lc 2:37).
A desolada
Espiritualmente, nada poderia ser mais belo do que a viúva assim retratada, mas é preciso lembrar de que sua desolação está apenas no aspecto terreno. Sua condição muito desolada tem sido o meio, no cuidado do Deus de todo conforto, escolhido para sua bênção. É precisamente aqui onde a aplicação à Igreja pode ser vista. É quando a Igreja percebe sua viuvez, no que diz respeito à Terra, que ela entra mais plenamente no gozo das afeições ilimitadas de seu Senhor. Mais do que isso, toda a sua dependência d’Ele é conscientemente intensificada e, por causa disso, aumentam suas contínuas súplicas e orações noite e dia. Na “verdadeiramente viúva” temos uma imagem perfeita da Igreja na Terra. Além disso, as características dadas são vistas em nosso bendito Senhor. Ele estava sozinho, não tinha onde reclinar a cabeça, e ninguém na Terra tinha verdadeira comunhão com Ele. Ele confiava em Deus e estava constantemente ocupado em oração (Lc 5:12, 16). Cada crente, portanto, deve ser distinguido desta forma.
Viver em prazer
O apóstolo, havendo descrito a “verdadeiramente viúva”, fornece o contraste daquela que “se entrega aos prazeres” e que “mesmo viva, está morta” (1 Tm 5:6 – ARA). Essa pessoa é falsa para com seu caráter, negando que seja viúva e usando sua condição solitária como uma oportunidade para satisfazer suas inclinações e desejos mundanos, em vez de ouvir a voz d’Aquele que fala com ela por meio de suas tristezas. Então, vivendo, ela está morta – morta para com Deus, no meio de seus prazeres. Temos a analogia de tal viúva em Apocalipse, junto com a certeza de sua condenação vindoura. “Quanto ela se glorificou e em delícias esteve, foi-lhe outro tanto de tormento e pranto, porque diz em seu coração: Estou assentada como rainha, não sou viúva e não verei o pranto. Portanto, num dia virão as suas pragas: a morte, e o pranto, e a fome; e será queimada no fogo, porque é forte o Senhor Deus, que a julga” (Ap 18:7-8). Tal é a condenação da Babilônia, que, embora afirmando ser a esposa de Cristo, não era nada além de uma prostituta apóstata, que “estava vestida de púrpura e de escarlata, adornada com ouro, e pedras preciosas, e pérolas, e tinha na mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição” (Ap. 17:4).
A responsabilidade da assembleia
Além disso, o apóstolo dá instruções a Timóteo quanto à ação da assembleia em relação às viúvas. É digno de nota que a primeira dificuldade na Igreja surgiu em relação a elas (veja Atos 6:1). Isso mostra que elas eram uma classe numerosa, mesmo na Igreja da época do Pentecostes, e parece, pelas instruções dadas a Timóteo, que algumas sempre serão encontradas entre os santos de Deus. Este é um pensamento abençoado, porque como alguém disse, “Deus muitas vezes ofusca o brilho deste mundo, a fim de atrair a visão para a glória que está além”. Se, portanto, Ele faz alguém uma viúva, é para que Ele possa desapegá-la da Terra e conquistá-la para Si. Mas o ponto aqui, é que a viúva em suas necessidades, pode ser um embaraço para a Igreja. Consequentemente, o apóstolo dá instruções específicas a cerca de quem deve “ser inscrita” (1 Tm 5:9-10). Com isso, entendemos que, somente aquelas que correspondem à descrição aqui dada, deveriam ser formalmente ligadas à assembleia; isto é, reconhecidas como tendo direito a um apoio regular. Outras poderiam, é claro, ser ministradas em particular pelos santos, ou ocasionalmente pela Igreja, mas ninguém, a não ser estas, deveria ser colocada na lista daqueles que tinham reivindicações inegáveis sobre os fundos da assembleia. Se essa sabedoria de Deus tivesse governado esse pormenor, a Igreja teria sido resguardada de muita perplexidade. Também será observado que a idade, por si só, não dá a qualificação necessária. Ela não deve ter sido casada duas vezes e deve ter boa reputação sobre seus deveres domésticos e sobre suas atividades no serviço do Senhor. O caráter de suas boas obras – obras que estão, portanto, de acordo com a mente de Deus – pode muito bem ser encomendada por muitos para consideração em um dia como este de atividade incessante e crescente.
Comportamento de viúvas
As viúvas mais jovens devem ser recusadas; ou seja, julgamos que não devem “ser inscritas”. A razão é dada. “porque, quando se tornam levianas contra Cristo, querem casar-se; tendo já a sua condenação [sendo culpadas – KJV] por haverem aniquilado a primeira fé” (1 Tm 5:11-12). Sua “primeira fé” provavelmente significaria que, no tempo de seu luto, quando o Senhor as trouxe por meio de sua dor para perto de Si mesmo, elas se dedicaram inteiramente a Ele. Mas, perdendo o desejo por Cristo, “irão”, ou melhor, “desejarão se casar”, encontrando-se incapazes, em tal estado de alma, de se apoiarem em Cristo, para todo apoio de que necessitam; e assim elas se voltam com desejo ansioso para as afeições e forças humanas. Um coração insatisfeito é a fonte de muito pecado, como o próximo versículo certamente revela. “E, além disto, aprendem também a andar ociosas de casa em casa; e não só ociosas, mas também paroleiras e curiosas, falando o que não convém” (v. 13). Este comportamento tem sido fonte de infelicidade e tristeza na Igreja de Deus em todas as épocas. O antídoto é: “Quero, pois, que as que são moças [as mais jovens – JND] se casem, gerem filhos, governem a casa e não deem ocasião ao adversário de maldizer” (v. 14). O termo “as mais jovens” talvez seja geral, embora com referência especial às viúvas. O lar é a esfera de serviço designada para tudo isto, se elas estiverem em sujeição ao Senhor e em relativa proteção contra as ciladas de Satanás. Uma outra palavra é dada para definir as responsabilidades dos crentes em relação às viúvas de suas próprias famílias, e isso para que a Igreja possa estar livre para “socorrer as que são verdadeiramente viúvas” (v 16).
“Verdadeiramente viúva”
Podemos extrair da consideração desta passagem da Escritura, algumas lições úteis. Primeiro, aprendemos a afeição que Deus tem por aquelas que são verdadeiramente viúvas. Evidências disso são encontradas tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Segue-se, portanto, que, se estivéssemos em comunhão com Ele, elas deveriam ser sempre o objeto de nosso amoroso cuidado e ministério. Por fim, podemos concluir dessas instruções dadas a Timóteo, que importante esfera de serviço uma “verdadeiramente viúva” ocupa perante Deus. Ana é um exemplo disso entre o pequeno remanescente que procurava a redenção em Jerusalém. Em seus contínuos jejuns e orações, ela foi levada à comunhão com a mente de Deus. Ela foi, portanto, conduzida ao templo no momento em que o Menino Jesus estava sendo apresentado a Jeová; seu coração estava cheio de gozo, seus lábios com louvor, e ela saiu como a mensageira das boas novas de Cristo para aqueles que haviam esperado por este bendito momento.
Onde, então, estão as “verdadeiramente viúvas” dos dias atuais? Moralmente, ocupamos a mesma posição que a do pequeno grupo em Jerusalém. Como eles, estamos esperando nosso Senhor; Enquanto isso, Deus chama aquelas que são verdadeiras viúvas para se ocuparem com os jejuns e as orações, para que, assim, possam ser o meio de acender novamente, em muitos corações, a bendita esperança da volta do Senhor. Há muitos para servir em obras de amor, mas há ainda uma necessidade maior de serviço daqueles que, como Epafras, sabem trabalhar fervorosamente pelos santos em orações. É este serviço para o qual as “verdadeiramente viúvas” são chamadas, e para o qual elas foram divinamente qualificadas.
