Origem: Revista O Cristão – Vestes

As Vestes do Cristão

A palavra “vestes” é usada muitas vezes na Palavra de Deus e tem diferentes significados em sua figura, dependendo do contexto em que é usada. Às vezes, é claro, refere-se apenas a roupas, como quando o profeta Aías “se tinha vestido de uma veste nova” (1 Rs 11:29), ou quando Esdras diz: “rasguei a minha veste e o meu manto” (Ed 9:3). Em outras ocasiões, no entanto, há significado espiritual para o termo. Eu sugeriria que há pelo menos dois significados principais para a palavra “veste”, como figura, na Palavra de Deus.

Direitos naturais 

Em primeiro lugar, encontramos a palavra “vestes” usada para indicar o que era o direito natural ou a posse de um homem. Sob a lei mosaica, era ilegal tirar a roupa de um homem como penhor sem restaurá-la ao anoitecer, como é dito: “Se tomares em penhor a veste do teu próximo, lho restituirás antes do pôr-do-Sol, porque aquela é a sua cobertura e a veste da sua pele; em que se deitaria?” (Êx 22:26-27) A veste era dele – parte de seus direitos como homem, e não poderia ser tirada dele, mesmo que ele tivesse uma dívida.

Eu sugeriria que há pelo menos uma aplicação desse princípio no Novo Testamento, quando o Senhor Jesus diz a Seus discípulos: “o que não tem espada, venda a sua veste e compre-a” (Lc 22:36). Os discípulos não perceberam o significado figurado das palavras do Senhor, pois eles simplesmente apresentaram duas espadas literais que já estavam na posse deles. Mas talvez o significado da figura (que eles entenderiam mais tarde) é que, para ter a espada do Espírito, podemos ter que desistir de nossos direitos naturais neste mundo. Depois da morte e ressurreição do Senhor, os que criam n’Ele seriam uma companhia desprezada e rejeitada, num mundo hostil. Eles não podiam mais contar com a hospitalidade e apoio daqueles a quem eles pregavam, antes, eles deveriam fornecer seus próprios meios com recursos que somente o Senhor poderia fornecer. Mais do que isso, devem estar dispostos a abrir mão de seus direitos para alcançar almas, assim como o Senhor Jesus abandonou Seus direitos para alcançar um mundo perdido.

Estilo de vida 

Segundo, e talvez mais óbvio na Escritura, as vestes são usadas para indicar nosso estilo de vida e as circunstâncias em que vivemos e nos movemos. Assim, em Levítico 13-14, temos lepra numa pessoa, numa roupa e numa casa. Do ponto de vista médico, a lepra não ocorre em uma peça de roupa ou em uma casa e, portanto, a instrução dada deve ter um significado figurado para nós. A instrução sobre a lepra numa veste é dada em Levítico 13:47-58. Se a lepra estava claramente atuando e se espalhando, a veste deveria ser queimada, mostrando-nos que se nossas circunstâncias e estilo de vida como crentes promovem o pecado em nós, devemos nos livrar dessas coisas. No entanto, se a lepra fosse detida, bastaria lavar a roupa ou talvez tirar aquele pedaço da roupa em que a lepra estava. Tudo isso é muito importante, pois no Novo Testamento Paulo pôde dizer aos coríntios que “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33). Associações pecaminosas em nosso trabalho, escola, lares e recreação terão um efeito prejudicial em nosso Cristianismo, e devemos nos afastar delas, ou pelo menos eliminar essa parte de nosso estilo de vida. Nosso próprio Senhor pôde dizer aos Seus discípulos que, se a mão, o pé ou o olho os ofendessem, eles precisavam cortá-los ou removê-los para entrar na vida. Não devemos permitir que algo esteja entre nós e o Senhor.

Padrões mistos 

Da mesma forma, foi dito aos israelitas para não usarem uma roupa “de diversos estofos de lã e linho juntamente” (Dt 22:11). Assim, o crente não deve ter padrões mistos, que vêm da tentativa de misturar princípios divinos e mundanos em nossa vida aqui. Quanto dano tem sido feito pelos crentes que desejam viver para o Senhor, mas ao mesmo tempo se acomodam no mundo para serem confortáveis e aceitos! De maneira semelhante, um crente pode contaminar suas vestes (veja Apocalipse 3:4) misturando-se com o mundo e seu mal.

Exibição pública 

Uma veste pode ter o significado adicional daquilo que nos caracteriza – nossa exibição exterior para com os outros. Assim, José tinha “uma túnica de várias cores” (Gn 37:3), enquanto Acã cobiçou “uma boa capa babilônica” (Js 7:21). Aqueles que queriam exibir exteriormente uma atitude de humildade e arrependimento usavam pano de saco, como aconteceu em Nínive quando Jonas pregou a eles (Jn 3:5-8) ou quando Acabe se humilhou diante do Senhor (1 Rs 21:27).

Esse pensamento nos leva a considerações adicionais sobre vestes, quando chegamos ao Novo Testamento, onde as vestes do crente são especificamente mencionadas. Primeiro de tudo, temos vestes em que os crentes são considerados vestidos, como resultado do poder purificador do sangue de Cristo. Quando o filho pródigo voltou para casa, seu pai ordenou: “Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho” (Lc 15:22), enquanto que aquele que vencer em Apocalipse 3:5 será “vestido de vestes brancas”. Aqueles que as usam são verdadeiramente do Senhor, pois estas são as vestes de todo verdadeiro crente – nossa verdadeira posição diante de Deus. De acordo com 2 Coríntios 5:21, n’Ele somos “feitos justiça de Deus”. Isso nunca pode mudar, pois repousa na obra de Cristo e no valor de Seu sangue derramado diante de Deus.

Fazendo a veste 

No entanto, a Escritura também fala de uma veste que fazemos para nós mesmos. Em Apocalipse 19:8, lemos sobre a noiva de Cristo: “E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos”. Aqui não é uma questão da justiça de Deus em Cristo, mas sim as “justiças dos santos”. É a exibição pública do que os santos fizeram em sua vida aqui embaixo, pois a veste em que a noiva será encontrada na ceia das bodas do Cordeiro será formada pelo que ela foi para Cristo durante o tempo de Sua rejeição. Este é um pensamento feliz e ao mesmo tempo solene. Se passamos o nosso tempo aqui neste mundo usando-o para nós mesmos e nos envolvemos com coisas mundanas, não haverá muito o que mostrar nequele dia. Mas todo pensamento e ação corretos farão parte desse manto de linho fino. Como alguém disse, “Tudo o que os santos fizeram por Cristo e em Seu nome durante o tempo de sua peregrinação na Terra – todos os sofrimentos, reprovações e insultos que eles suportaram, cada copo de água fria dado em Sua causa – será lembrado naquele grande dia e serão achados ‘para louvor e honra e glória’. O menor ato que tem Cristo como motivo será um ponto na confecção da veste que adornará a Igreja quando afinal ela for apresentada a Cristo sem mancha ou ruga ou qualquer coisa semelhante”.

O vestido de casamento 

Quando se trata de nossa aptidão para estar na casa do Pai, a vestimenta necessária é a “veste nupcial” (Mt 22:11-12), suprida por nosso Senhor como resultado de Sua obra na cruz do Calvário. Quando é a exibição da beleza da noiva no casamento do Cordeiro, temos o privilégio de fazer uma veste que é de material “puro e resplandecente”, para encontrar o olhar do nosso Noivo. Que privilégio precioso é este! Mas temos apenas o nosso tempo aqui embaixo para costurar aquele “vestido de noiva”, nós não podemos fazer isto ou adicionar algo a ele lá em cima. Será o resultado do que aconteceu no tribunal de Cristo para os crentes, quando tudo o que não é para Cristo terá sido queimado. Então somente aquilo que é “puro e resplandecente” permanecerá. Estas duas últimas vestes durarão por toda a eternidade: uma que Cristo fez para nós e uma que temos a oportunidade de fazer por nós mesmos em nosso caminho Cristão.

W. J. Prost

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