Origem: Revista O Cristão – A Vinda do Senhor

Amando Sua Aparição

Precisamos de toda a Escritura. Toda ela foi dada para nosso proveito. Um de nossos perigos é nos ocuparmos com certas partes dos escritos sagrados enquanto negligenciamos outras. Isso ficou claro na aceitação da vinda de nosso Senhor para nós como nossa esperança sem nos exercitarmos quanto ao reinado e juízos do Senhor em Sua Aparição e reino. É essa última linha de coisas a que Pedro se refere quando diz: “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça” (2 Pe 1:19). Sem dúvida, a luz da profecia não cumprida, quando recebida com fé, lança sua luz no caminho que estamos trilhando agora, e assim direção clara e muita bênção são concedidas àqueles que estão atentos a ela. O apóstolo Paulo, ao escrever para Tito, pelo Espírito, diz: “aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo”. Aqui, a vinda do Senhor e Sua Aparição estão conectadas, como sendo ambas aguardadas – não apenas “a bem-aventurada esperança” da vinda de nosso Senhor para nos receber para Si, mas também o Seu “aparecimento” depois disso em manifesta glória e em Seu lugar de direito na Terra como “Herdeiro de todas as coisas” e “Senhor de todos”.

A inteligência dos eventos 

Não é que muitos crentes não sejam inteligentes quanto aos eventos que se seguirão à vinda do Senhor para nós nem que não sejam capazes de distinguir claramente entre aquele feliz momento e o que vem em sequência, no qual seguimos o Senhor quando Ele deixa o céu, quando “todo o olho O verá”, mas nosso coração precisa estar em consciente empatia por nosso amoroso Senhor Jesus em Sua presente rejeição e estar, portanto, antecipando com gozo, em profunda comunhão com Ele próprio, aquela gloriosa Aparição, quando Ele terá Seu lugar de universal supremacia conferido a Ele por todos os seres inteligentes no céu, e na Terra, e debaixo da Terra.

O fato é que, enquanto alguns estão defendendo e corretamente batalhando pela verdade da “Igreja [ou assembleia] de Deus”, eles parecem ter deixado escapar a verdade do “reino de Deus”. Paulo foi definitivamente um ministro da Igreja, mas ele também nos diz que testificava sobre “o evangelho da graça de Deus” e pregava “o reino de Deus” (Cl 1:24-25; At 20:24-25). Tal era o lugar de proeminência que o reinado de Cristo e seus assuntos afins tinham no ministério público do apóstolo que, embora sua visita a Tessalônica provavelmente não tenha passado de três semanas, é-nos dito que ele sofreu perseguição por ter pregado “outro rei, Jesus”. E em sua segunda carta, quando ele se referiu ao “homem do pecado” e à destruição deste pelo Senhor “pelo esplendor da Sua vinda”, ele disse: “Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?” (2 Ts 2:5, 8).

Acreditamos ser um erro supor que aprenderemos a verdade profética para benefício da alma apenas agrupando eventos como se estivéssemos ligando uma série de fatos políticos. É fácil para uma mente ativa se ocupar dessa forma. Mas ter o coração e a consciência movidos de tal maneira com a “palavra profética” (ARA) divinamente dada, porque ela lança sua luz em nosso presente caminho, a ponto de produzir um andar e conduta que sejam adequados a ela é algo bem diferente. Por exemplo, é perfeitamente verdade que muito em breve será dito: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo”. Se então os interesses do Senhor são os nossos interesses e acreditamos que Ele ainda será manifestado como Senhor de todos, como podemos ter algum prazer com o entusiasmo político e com as lutas partidárias de hoje? Por que não esperar “até que venha Aquele a Quem pertence de direito” e que disse, ao Se aproximar da cruz, “Agora, é o juízo deste mundo”?

Verdades santificadoras 

Essas verdades são eminentemente santificadoras. Como podem ser de outra forma? Supor, portanto, que realmente podemos sustentá-las como doutrinas divinamente dadas e continuar em associações mundanas e carnais é cometer a maior violência contra elas. Se realmente cremos que é possível que o Senhor venha nos buscar antes da meia-noite, será que poderíamos continuar hoje com algo que soubéssemos que seria desagradável a Ele? Não deveríamos escolher sofrer por causa d’Ele e fazer o que sabemos que condiz com Sua mente? Se estamos realmente esperando e vigiando pelo Seu retorno, poderíamos passar um dia sequer sem nos importarmos de uma maneira ou de outra com alguns dos membros do Seu corpo? E porventura cuidar de Sua casa não é uma das marcas especiais de um servo sábio e fiel (Mt 24:45)? Além disso, se cremos na Palavra de Deus de que o mundo jaz no maligno e está sob juízo, e que o Juiz logo vem em labareda de fogo para executá-lo e julgar os vivos e os mortos, como nosso coração pode não se alegrar com o pensamento de que o outrora humilhado Nazareno tem Seu lugar de direito nesta Terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores?

Realmente amamos Sua Aparição? 

Será que nosso coração arde dentro de nós com o pensamento de que dentro em pouco Ele será publicamente manifestado como “Senhor de todos”? Não temos dúvida de que o conforto da redenção realizada, a consciência de Seu presente ministério e cuidado por nós enquanto Ele está escondido na glória, bem como uma sincera empatia por Ele quanto à Sua presente rejeição, acompanharão amar a Sua Aparição. Quão estranho deve parecer às autoridades e poderes nos lugares celestiais, que conhecem pela Igreja a multiforme sabedoria de Deus, que sejamos tão pouco movidos e afetados pela perspectiva da Aparição e do reinado do Salvador! Mas, quando formos movidos no mais íntimo de nossa alma a estarmos de fato nos preparando para a Sua vinda, então a esperança será conhecida em brilho e poder, e, quanto mais ponderarmos sobre o que Ele nos disse sobre reinarmos com Ele, mais iremos perceber Sua presente rejeição e amar a Sua Aparição. “Pelo que também Deus O exaltou soberanamente e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na Terra, e debaixo da Terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:9-11).

The Christian Friend, 1887

H. H. Snell

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