Origem: Revista O Cristão – A Vinda do Senhor

Meu Senhor Tarda em Vir

Satanás sempre procura corromper o que ele não pode destruir, e a verdade sobre a vinda do Senhor como a bendita esperança do crente não é exceção a isso. Desde que o Senhor graciosamente reviveu essa verdade neste período de encerramento do dia da graça, ela dominou tão fortemente a alma de Seus santos por todos os lugares, como nunca foi visto antes desde os tempos apostólicos, nem desde aqueles dias foi ela antes tão largamente aceita como ela é agora. Não temos razão para pensar que, como uma doutrina da Escritura, ela cairá novamente no esquecimento como ocorreu nos tempos pós-apostólicos.

“Eis o Noivo” 

No início, todas as virgens saíram ao encontro do Noivo (Mt 25:1), mas quão logo esse testemunho foi abandonado, e “tosquenejaram todas e adormeceram”. Quão silencioso estava o verdadeiro testemunho Cristão! Mas à meia-noite houve um clamor despertador: (1) “Eis o Noivo!” (2) “Saí ao Seu encontro!” (Mt 25:6 – ARA). Quão perfeitamente isso foi cumprido, e quão intimamente conectadas essas duas coisas estão – a Pessoa de Cristo e o encontro com Ele –, o coração saindo em direção a Ele como Aquele que está vindo! Agradecemos a Deus pelo fato de o poder do Espírito Santo ter acompanhado esse testemunho de tal maneira que os mais poderosos esforços de Satanás não terão sucesso em privar os Cristãos daquilo que Deus tão graciosamente restaurou para a Sua Igreja. Mas há o perigo de que a própria profundidade de nossas convicções sobre essa verdade possa fechar nossos olhos para a armadilha mais sutil a que estamos expostos, mesmo que estejamos biblicamente sãos na doutrina em si. A característica mais excelente que essa esperança possui, considerada no sentido prático, é sua iminência sem data ou, em outras palavras, sua proximidade indefinida, mas certa. Se Satanás, portanto, conseguisse remover esse aspecto peculiar, ele bem sabe que a anularia de tal maneira que, embora a casca da doutrina permanecesse em sua integridade estrutural para satisfazer seus adeptos, o núcleo seria abstraído. O valor intrínseco dela seria renunciado, já que deixaria de ser um poder sempre operante e uma “bem-aventurada esperança” diante da alma.

O atual perigo 

Esse é o perigo peculiar dos dias atuais, e, prevendo isso, o Senhor forneceu uma parábola expressamente para alertar contra essa armadilha singular que o inimigo coloca para os Cristãos professos (Mateus 24:45-51). Outra Escritura alerta contra os escarnecedores dos últimos dias (2 Pedro 3), mas essa fase do assunto não está diante de nós agora. O laço especial de Satanás nesta hora pós-meia-noite é o da retenção da sã doutrina quanto ao advento e ao reinado pessoal de Cristo, juntamente com o mundanismo e coisas semelhantes que o Senhor expõe na figura do espancar os conservos e de comer e beber com os bêbados. Tal violência e devassidão, exercidas ou contidas, são as reais obras da carne e da permissividade em relação ao mundo, quando desenvolvidas e manifestas.

Gostaríamos, portanto, de deixar clara para nossa própria alma e para vocês a profunda importância de vigiarmos contra esse esmorecimento de coração quanto à volta do Senhor, que é a última armadilha de nosso astuto inimigo. Tendo já aguardado por Ele há tanto tempo, será que podemos dizer que estamos cada vez mais convencidos de que Ele está próximo? Estão tanto o desejo quanto a expectativa de Sua vinda crescendo a cada dia mais fortes dentro de nossa alma? Esse é o verdadeiro resultado e conclusão da fé.

Reascendendo ou esfriando nosso desejo 

Uma de duas coisas deve ser verdade a nosso respeito. De um lado, se o desejo tão estimado de nosso coração ainda não foi gratificado, nós, portanto, nos apegamos mais tenazmente a ele, tendo o desejo reacendido novamente em nossas afeições a cada dia que passa e nossa expectativa diária se aproximando cada vez mais de uma certeza de que Ele está próximo. Do outro, podemos ter deixado nossa fé falhar, nossos desejos esfriarem e nossas expectativas vacilarem. Seria como se tivéssemos dito: “Esperamos por Ele todos esses anos, e Ele nunca veio, nem sabemos quando Ele virá”. Assim, a percepção disso como uma crescente “bem-aventurada esperança” escapou do coração. Não é de admirar que o pobre e infiel coração então se volte para o mundo, que ele sem perceber permitiu que o traísse e o fizesse cair em declínio, dizendo dentro de si: “O meu Senhor tarda em vir”, e consequentemente dando liberdade à carne e às suas obras.

Quão diferente é para a fé! Será que estão as cenas da Terra em seu momento mais sombrio, o pobre corpo colocado à beira da porta da morte e a vida se esvaindo rapidamente? Para nós, não há trevas que não possam ser dissipadas pelos raios penetrantes da “resplandecente Estrela da manhã” – não há espaço de tempo tão curto a ponto de impedir a Sua vinda, já que, se tão somente houver tempo para um piscar de olhos, há tempo para Ele vir. Para o gozo de Seu próprio coração, o primeiro ato de Sua vinda será produzir o pleno efeito dela sobre os corpos das incontáveis multidões de Seus santos no mesmo piscar de olhos! É igualmente o privilégio da fé ver a vinda do Senhor como a coisa mais brilhante em nosso horizonte, envolvendo nosso coração de maneira suprema e afirmando seu pleno lugar e poder, mesmo quando os favores divinos na Terra estão em sua mais reluzente exibição diante de nosso grato coração. Se não é assim conosco, podemos muito bem questionar nossa alma quanto a se a Pessoa de Cristo e a promessa de Sua vinda já assumiram seu lugar no coração como deveriam.

A mesa do Senhor e Sua vinda 

A isso acrescentamos que não conhecemos nada que seja usado pelo Espírito Santo de forma mais poderosa e mais revigorante para reavivar essa preciosa esperança no coração dos santos do que a mesa do Senhor. A ceia do Senhor realmente possui a maravilhosa e única propriedade de convergir em um só foco Sua morte e Sua vinda, trazendo de volta Sua morte como “nosso único ontem” e antecipando Sua vinda como “nosso único amanhã”, a mesa sendo nosso único “hoje”, na qual nossa comunhão é com o Pai e o Filho, e uns com os outros “até que [Ele] venha”. Nosso ontem é um Cristo morto de Quem nos lembramos, nosso hoje é um Cristo glorificado a Quem estamos unidos, e nosso amanhã é um Cristo que está vindo por Quem ansiamos! Ele brilha sobre nós como a “resplandecente Estrela da manhã”, enquanto mantemos vigília durante a longa noite de Sua prolongada ausência.

Que o Espírito Santo mantenha fresca diante de nossa alma essa “bem-aventurada esperança”, e não permita que ela seja prejudicada por nenhuma das mutáveis cenas da Terra. Acima de tudo, que possamos ser preservados de, ainda que em um grau remoto, dizer em nosso coração com a leviandade e o mundanismo de Laodiceia: “Meu Senhor tarda em vir”. Não é na quantidade de serviço que prestamos, mas sim na medida do quanto de Cristo é apresentado, que o valor do nosso serviço é determinado, em um mundo onde não há nada de Deus.

W. R., Christian Friend, 6:32

Compartilhar
Rolar para cima