Origem: Revista O Cristão – Sonhos e Visões

Uma Visão da Noite

Muitas pessoas se aglomeraram em um “cenáculo”, onde um evangelista de uma cidade distante falaria de Jesus. Tal visão não é incomum em nosso país, mas no extremo sul da França as reuniões de pregação do evangelho não são tão frequentes, e muitas pessoas que lá estavam iriam ouvi-lo pela primeira vez.

Com rostos ansiosos fixos no pregador, eles ouviam, enquanto ele lhes rogava que corressem para o Salvador, para imediatamente encontrar salvação em Sua obra consumada na cruz. Ele lhes mostrou que “refúgio da mentira” é o falso ensino que diz ao pecador que sua tentativa de boas obras pode lhe render o céu. Mas, ao mesmo tempo em que falou do amor de Deus, que enviou Seu Filho ao mundo para que, crendo n’Ele, não perecêssemos, ele também os alertou sobre um juízo que certamente viria e implorou fervorosamente que eles viessem a Jesus antes que fosse tarde demais.

Concluindo em tom profundamente solene, que comoveu o coração de seus ouvintes, ele relatou o seguinte incidente de sua própria vida, que pode ser uma voz de advertência até mesmo para alguns em nosso país:

“Criado por uma mãe verdadeiramente piedosa, que desde a minha mais tenra infância tentou me levar a Jesus, nunca fiquei sem impressões profundas. Eu queria que o Salvador de minha mãe fosse meu e admirava a beleza de Cristo exemplificada na vida dela. Mas, embora desejasse ardentemente ser um dia um filho de Deus como ela, eu continuava adiando o momento de me decidir por Cristo.

E assim minha infância passou. Estava se aproximando o tempo em que eu deveria deixar minha casa para sair pelo mundo, e eu ainda era um não convertido, sem Cristo, apesar dos constantes e sinceros apelos de minha mãe. Por fim, o próprio Deus falou comigo por meio de um sonho de advertência. Já faz vinte anos, mas ele está tão vívido em minha mente como se tivesse sido ontem.”

“Sonhei uma noite que estava ocupado em meus estudos com o tutor, minha mãe assentada ao meu lado. Era meio-dia, quando a luz devia estar mais forte; mas de repente a luz do Sol desapareceu e uma profunda escuridão cobriu os céus.

Espantado, me levantei e, tateando em direção à janela, a abri e fiquei olhando para a escuridão cada vez maior, que se tornou uma ‘escuridão que podia ser sentida’. Ao longe, discerni um pequeno ponto luminoso, vindo direto do céu, que aumentava gradualmente seu brilho enquanto eu o contemplava.

Um terrível pressentimento tomou conta de mim. ‘Será que é a vinda do Senhor?’, exclamei.

Aquele não era um pensamento novo para mim, pois minha mãe, em suas solenes advertências, frequentemente me dizia que Ele viria novamente, implorando que eu estivesse pronto para encontrá-Lo.

Fiquei paralisado, incapaz de tirar meu atento olhar daquela luz brilhante que, parecendo dominar a escuridão, crescia cada vez mais e se aproximava cada vez mais, até que vi nitidamente, no meio da glória, a Pessoa do próprio Filho de Deus e percebi que meus piores medos se concretizaram.

Anjos brilhantes saíram daquele centro glorioso e desceram rapidamente, entrando nas habitações, onde quer que estivessem os comprados pelo sangue do Salvador. Observei os mensageiros celestiais retornando, alguns conduzindo apenas um, outros dois ou três santos à presença do Senhor, e vi a doce recepção de cada um pelo Salvador – o olhar de terno amor e boas-vindas que Ele lhes dava – e entendi que eles realmente haviam entrado na ‘abundância de alegrias’ (ARC). Minha alma estava cheia de desejo de compartilhar tamanha gloriosa felicidade, mas eu sabia que não estava pronto. Ah, se eu pudesse recuperar algumas horas daquele tempo precioso que Deus em Sua longa paciência havia dado a mim – e que agora se fora para sempre!”

“Com prazer eu teria olhado por mais tempo para aqueles rostos, iluminados com tão santo arrebatamento, mas outra cena atraiu minha atenção e prendeu meus olhos horrorizados – uma cena de miséria, desolação e aflição acontecendo na escuridão abaixo. Almas perdidas, que naquela hora terrível haviam em vão procurado se esconder da ira do Cordeiro, amaldiçoavam a Deus e O insultavam à medida que o inevitável juízo as alcançava. Eu as ouvia blasfemando contra Seu nome, enquanto eram levadas para a perdição, para as ‘trevas exteriores’, onde ‘haverá pranto e ranger de dentes’; ‘onde o seu bicho não morre, e o seu fogo nunca se apaga’.

Queridos amigos, peço que se lembrem de que isso é apenas um sonho e que, portanto, tolerem alguns detalhes que não são bíblicos. Não são anjos que virão para conduzir os redimidos à presença do Senhor. Vocês verão, se abrirem em 1 Tessalonicenses 4:16-17, que Ele não confiará essa missão a nenhum outro, mas que Ele mesmo descerá do céu e chamará os Seus para se juntar a Ele nos ares. O terrível juízo que cairá sobre os ímpios não ocorrerá até depois que os filhos de Deus estejam seguros em casa, na casa do Pai, longe dessa cena de aflição. No entanto, em meu sonho, Deus, em Sua graça, com o propósito de me despertar completamente, trouxe vividamente diante de mim todos os horrores dos condenados, ao mesmo tempo em que me mostrou a bem-aventurança dos santos. Foi realmente um momento terrível.

Clamei em alta voz, numa febre de ansiedade, rogando por aquela misericórdia que eu sabia que havia sido tão livremente oferecida a mim um pouco antes, misericórdia da qual eu havia então me afastado com indiferença, mas que agora percebia ser de valor eterno. Orei por salvação – a salvação que eu havia adiado aceitar quando estava ao meu alcance. Supliquei por apenas mais uma hora. Mas, enquanto clamava a Deus, senti, em minha angústia, que não havia ninguém para ouvir; a oração voltou como um eco vazio ao meu próprio peito. Eu sabia que era tarde demais; o dia da graça havia acabado, o dia do juízo havia começado!

Meus olhos buscaram novamente aqueles brilhantes mensageiros do Senhor. Um deles deveria vir à nossa casa, pois sem dúvida havia uma filha de Deus ali. Uma tênue esperança surgiu dentro de mim, de que, quando o mensageiro viesse para ela, ainda pudesse haver misericórdia para mais alguém; de que talvez (não tendo positivamente recusado a salvação, embora tão culpado em demorar a aceitá-la) eu pudesse encontrar perdão e ser arrebatado com ela para me juntar à alegre multidão ao redor do Senhor.

A porta se abriu, e um anjo radiante estava diante de nós, seu rosto brilhando com o amor e a paz d’Aquele de cuja presença ele tinha vindo. Senti que o momento decisivo havia chegado e que meu destino estava selado. Quantos dos ocupantes daquele cômodo ele chamaria?”

“Acenando para minha mãe, o anjo disse: ‘Segue-me’, e ela se levantou rapidamente e o seguiu. Ele vai chamar apenas um? Não tem ele nenhuma palavra para mim? Oh, quão alegremente eu também iria! Como um pobre suplicante, meus olhos de súplica estavam voltados para a face do anjo, mas nem um só olhar ou palavra tinha ele para mim. Foi a voz da minha amada mãe que pronunciou minha condenação, quando ela me deixava para sempre. Na porta, ela se virou e, lançando sobre mim um sério olhar que penetrou a minha alma, disse em tom triste: ‘Meu filho, muitas vezes falei com você sobre isso e disse que, se você quisesse ser salvo, deveria crer no Senhor Jesus Cristo; agora é tarde demais! Tarde demais!’.

A porta se fechou, e ela se foi, deixando-me com as ardentes palavras ecoando em meus ouvidos: ‘Tarde demais! Tarde demais!’. Desmoronei no chão em agonia de dor, chorando como se meu próprio coração fosse se partir. Nada me restava, tudo havia desaparecido num instante – tanto a Terra quanto o céu, minha mãe e o Senhor. Nas profundezas da minha miséria, acordei!

Acordei e encontrei o travesseiro encharcado com minhas lágrimas. O quê! Um travesseiro, uma cama! Então essa terrível cena não passara de um sonho. Não era ainda para eu levantar os olhos no inferno, estando em tormentos, arrastado para longe da eterna luz por aqueles temíveis arautos do juízo.

‘Apartai-vos de Mim, malditos!’ ainda não tinha sido dito. Aquelas terríveis palavras, ‘Tarde demais! Tarde demais!’, ainda não eram verdade. Os santos resgatados ainda não estavam reunidos na casa do Pai. Eu tinha ainda uma hora de ouro; nem um só momento dela devia ser perdido. Pulei da cama e, lançando-me de joelhos diante de Deus, com muitas lágrimas clamei por misericórdia, enquanto agradecia a Ele por ter me dado mais uma hora em Seu ‘dia da salvação’.

Bendito seja Deus! Ainda havia tempo para eu encontrar a Cristo, ser lavado em Seu precioso sangue e viver de agora em diante para Aquele que morreu por mim, enquanto aguardava Sua vinda.”

Essa foi a história contada pelo pregador naquela noite na pequena cidade francesa.

Caro leitor, você que ainda está sem esperança e sem Deus no mundo, oh! Não demore para vir a Jesus enquanto há tempo. Não descarte isso como sendo apenas um sonho, pois nele há uma solene lição. Cristo certamente voltará; o clamor: “Eis o noivo!” (ARA) soou. Acaso há azeite em sua vasilha, e, com sua lâmpada preparada, você vai sair ao encontro d’Ele? Como será com você quando Ele chamar Seus santos para se juntarem a Ele nos ares? Esteja avisado: corra para Cristo, enquanto a longanimidade do nosso Deus é salvação, e lance sua sorte com aqueles que estão esperando dos céus o Filho, a saber, “Jesus, que nos livra da ira vindoura” (ARA).

D. & A. C.

Compartilhar
Rolar para cima