Origem: Revista O Cristão – Sonhos e Visões

As Visões do Apóstolo Paulo

Em outro artigo desta edição de O Cristão, mencionamos que sonhos e visões eram frequentemente usados no Velho Testamento, antes que a Palavra de Deus estivesse completa e antes da vinda do Espírito Santo para habitar em cada verdadeiro crente. Também mencionamos que Deus continua a usar sonhos e visões hoje, especialmente em partes do mundo onde Sua Palavra pode não estar disponível. No entanto, o Senhor usou sonhos e visões de tempos em tempos na Igreja primitiva, particularmente com Pedro e Paulo.

Tanto Pedro quanto Paulo viveram em um tempo de transição, e o Senhor não parou imediatamente de usar essa forma de Se comunicar com Seus servos. Estavam “passando as trevas”, e a “verdadeira luz” já estava brilhando (1 João 2:8), mas isso aconteceu durante um período de tempo. Paulo foi usado pelo Senhor para “cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus” (Cl 1:25) e, portanto, ele tinha um chamado muito especial. Houve sete ocasiões em sua vida em que o Senhor escolheu falar com ele em uma visão direta, em vez de simplesmente guiá-lo pelo Espírito Santo.

A primeira vez que Paulo teve uma visão foi quando o Senhor apareceu a ele na estrada para Damasco (At 9:3-6). Uma luz mais brilhante que o Sol de repente o atingiu, e uma voz lhe falou: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” Saulo, como era chamado antes de ser salvo, imediatamente reconheceu isso como uma “visão celestial” (At 26:19) e respondeu: “Quem és, Senhor?”. Ele sabia que o próprio Senhor estava falando com ele e esperou que o Senhor lhe dissesse o que fazer a seguir.

É importante reconhecer que Saulo estava perseguindo os Cristãos com uma boa consciência, pois ele pôde dizer mais tarde ao Sinédrio Judeu: “Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até ao dia de hoje” (At 23:1 – ARA). Saulo pensou que estava fazendo a coisa certa e que perseguir os Cristãos era agradável ao Senhor. Mas o Senhor iria mostrar a ele o contrário e que colocar as mãos nos crentes em Cristo era perseguir o próprio Cristo.

A segunda visão que Paulo teve foi logo depois, quando ele estava em Damasco, cego por três dias, com tempo para refletir sobre o que lhe havia acontecido. Durante esse tempo, Saulo evidentemente teve outra visão – a visão de um homem chamado Ananias vindo até ele, impondo sobre ele as mãos e devolvendo-lhe a visão (At 9:11-12). O Senhor também tinha enviado a Ananias uma visão, mandando-lhe ir fazer isso, e tinha dito a Ananias que Saulo o estaria esperando. Durante essa mesma visita de Ananias, Saulo foi batizado e foi “cheio do Espírito Santo” (At 9:17).

Foi pouco antes disso que Estêvão foi martirizado enquanto Saulo observava com aprovação, mas como alguém comentou: “Era típico dos caminhos de Deus nesta dispensação da graça que, quando Satanás conseguiu apagar uma das luzes mais brilhantes da Igreja primitiva, Deus pegou o pior dos responsáveis e falou, por assim dizer: ‘Venha e tome o lugar dele!’”. O Senhor então fez de Saulo de Tarso um servo ainda maior do que Estêvão.

Para a terceira visão, devemos ir para Atos 22:17-21, onde lemos o relato de Paulo sobre como Deus deu a ele direção no serviço. Saulo (nessa época chamado Paulo) estava evidentemente em Jerusalém, orando no templo, quando o Senhor lhe disse claramente: “Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe” (At 22:21). Ao contrário da missão de Pedro, que era para os Judeus, a comissão de Paulo era para os gentios. Mais tarde, quando Paulo voltou a Jerusalém para testemunhar à sua própria nação (os Judeus), foram só problemas. Tudo isso é uma boa lição para nós; estamos sempre certos em fazer o que o Senhor nos dá para fazer. Seguir nosso próprio caminho, mesmo com bons motivos, nunca cumprirá os propósitos de Deus.

A quarta visão nos é dada em Atos 16:9, pois aqui Paulo e seu companheiro Silas não sabiam ao certo o que fazer. Se em Jerusalém Paulo recebeu orientações gerais quanto ao seu serviço para o Senhor, ele também precisou de orientações específicas algumas vezes. Eles “foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra na Ásia” e, quando tentaram “ir para Bitínia”, lemos que “o Espírito de Jesus não lho permitiu” (ARA). Mas então, depois de chegarem a Trôade, eles receberam outra visão, dizendo-lhes que havia um homem na Macedônia pedindo-lhes: “Passa à Macedônia, e ajuda-nos” (v. 9). Eles tinham trabalhado para o Senhor na Ásia, mas agora era hora de o evangelho ser introduzido na Europa. Mais uma vez, quão maravilhosos são os caminhos de Deus. Mal sabiam Paulo e Silas que, para chegar àquele homem (o carcereiro em Filipos), eles teriam que suportar açoites e prisão. Paulo estava aprendendo como ele deveria sofrer pelo nome de Cristo (At 9:16).

A quinta visão é de encorajamento, pois aqui Paulo está em uma cidade grande, rica e muito importante da Grécia – Corinto. Paulo estava temeroso quando foi para lá, e ele admite isso mais tarde em 1 Coríntios 2:3: “E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor”. Não que ele tivesse alguma dúvida quanto ao poder do evangelho, mas ele temia que talvez aquelas pessoas ricas e cultas não quisessem ouvi-lo. O Senhor o encoraja dizendo-lhe que “ninguém lançará mão de ti para te fazer mal” e que Ele, o Senhor, tinha “muito povo nesta cidade” (At 18:10). O Senhor manteve Sua Palavra, e não lemos sobre nenhuma perseguição direta em Corinto, mesmo Paulo tendo permanecido lá por um ano e meio. A única tentativa dos Judeus de levantar perseguição resultou apenas na expulsão dos Judeus do tribunal por Gálio, o representante romano da região.

A sexta visão é muito preciosa, pois ocorre em um momento difícil na vida de Paulo, quando ele estava, sem dúvida, bastante desanimado. Mesmo depois de saber que ele havia sido comissionado para os gentios, seu amor por sua própria nação, os Judeus, fez com que ele, alguns anos depois, subisse novamente a Jerusalém, com a intenção de pregar a eles mais uma vez. No entanto, não houve bênção em seus esforços, e, se não fosse pelo Senhor permitir que os Judeus o expulsassem do templo, ele poderia ter comprometido seriamente sua posição Cristã (At 21:18-30). Como resultado do tumulto que se seguiu, ele foi levado sob custódia pelos romanos e, sem dúvida, sentiu profundamente seu fracasso. Na noite seguinte, o Senhor apareceu a ele e disse: “Paulo, tem ânimo; porque, como de Mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma” (At 23:11). Podemos chamar isso de encorajamento na provação, pois, como mencionamos, Paulo certamente deve ter percebido seu fracasso em subir a Jerusalém. Além disso, muitos crentes lhe haviam testemunhado, em sua viagem até Jerusalém, que ele não deveria ir para lá. Mas o Senhor teve piedade de Seu servo, pois sabia que os motivos de Paulo eram corretos. O Senhor primeiro dá crédito a Paulo por testificar d’Ele em Jerusalém e então lhe diz que ele também daria testemunho em Roma. Paulo sabia, a partir daquele ponto, que chegaria a Roma. Tudo isso deve ter tornado um pouco mais fácil para ele suportar os dois longos anos na prisão antes de ser finalmente enviado a Roma. Mas Paulo sabia que o Senhor estava no comando de todas as suas circunstâncias.

A sétima visão pode ser chamada de encorajamento ou inteligência no perigo. Após passar dois anos na prisão em Cesareia, Paulo foi finalmente embarcado em um navio com destino a Roma. Acabou sendo uma jornada perigosa, tanto que a maioria a bordo do navio pensou que eles se perderiam no mar. Paulo já tinha a resposta: ele sabia que isso não aconteceria, mas que chegaria a Roma. No entanto, agora Deus lhe deu uma visão adicional. Ele não apenas chegaria a Roma e seria levado perante César, mas o Senhor graciosamente preservaria todos os que estavam a bordo daquele navio (At 27:23-25). Quando Paulo revelou essa visão aos que estavam no navio, ele falou com autoridade, assumindo o comando do navio, embora fosse apenas um prisioneiro. O resultado foi que “todos cobraram ânimo” (At 27:36 – ARA). Novamente, isso é um encorajamento para nós, pois, quando um crente em Cristo fala com a autoridade de Deus, outros, até mesmo incrédulos, muitas vezes reconhecem a voz do Senhor e ouvem.

Podemos mencionar uma visão final que Paulo teve, embora tenha sido mais do que uma visão. Refiro-me ao momento em que Paulo foi “arrebatado até ao terceiro céu” (2 Co 12:2). Sem dúvida, Paulo foi realmente arrebatado ao terceiro céu (a morada de Deus), embora ele não tivesse consciência se estava no corpo ou fora do corpo. Foi uma prévia maravilhosa da glória vindoura, mas depois ele precisou de “um espinho na carne”, para ele não se “exaltar” (2 Co 12:7). O orgulho humano ainda poderia atrapalhar, e esse espinho manteve Paulo humilde. No entanto, Paulo, mais tarde, pôde se regozijar, pois o espinho apenas tornou o poder de Cristo mais evidente em sua vida.

Você e eu provavelmente não teremos visões como as que Paulo teve, mas Deus, por Seu Espírito Santo, pode deixar claro para nós qual é Sua mente, em todas as áreas em que Paulo teve visões. No entanto, devemos estar andando com o Senhor com um verdadeiro desejo de conhecer Sua mente.

W. J. Prost

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