Origem: Revista O Cristão – Os Ouvidos

Uma Voz Mansa e Delicada

Estas palavras são encontradas em 1 Reis 19:12 e dizem respeito ao profeta Elias, que havia fugido da terra de Israel para o Monte Horebe, onde a lei de Deus havia sido originalmente dada a Moisés. Pouco antes de fugir, Elias, com o poder de Deus, tinha conquistado uma grande vitória sobre Satanás e a idolatria no Monte Carmelo. Os profetas de Baal foram completamente derrotados e finalmente mortos, depois que o povo viu o fogo de Deus descer e consumir não apenas o sacrifício de Elias, mas também a madeira, as pedras, o pó e a água que estava no rego ao redor do altar. Mas então Jezabel ameaçou a vida de Elias, e em vez de confiar no Senhor, ele fugiu dela.

É instrutivo notar que Elias fugiu para o Monte Horebe, pois Elias tinha sido um pilar da lei que havia sido dada lá. Sabemos que a lei de Moisés foi introduzida com uma grande demonstração do poder de Deus, como registrado em Êxodo 19. Lemos sobre “trovões e relâmpagos e sonido de buzina [trombeta] muito forte” (v. 16). Também lemos que “o SENHOR descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subia como fumaça de um forno, e todo o monte tremia grandemente” (v. 18). Se o homem deveria ter uma relação com Deus baseada em obediência, ele precisava sentir a majestade e a glória de Deus e o que a santidade de Deus exigia. Sabemos que, apesar da promessa de Israel de que “tudo o que o Senhor tem falado faremos” (Êx 19:8), nenhum filho de Adão poderia manter a lei de Deus. Foi somente com base em um sacrifício de sangue que Deus poderia caminhar com o homem culpado.

Comunhão com Deus 

Além de tudo isso, a lei não deu ao homem qualquer comunhão com Deus. Não, ela deixou claro os requisitos santos de Deus, mas não aproximou os homens a Ele. A fidelidade exemplar de Elias na busca de trazer Israel de volta à lei não foi eficaz, embora a demonstração do poder de Deus tenha resultado na morte de todos os profetas de Baal. No entanto, devemos lembrar que o poder, mesmo que seja de Deus e para Deus, tende a nos concentrar em nós mesmos e trazer orgulho e exaltação própria. Infelizmente, este foi o caso com Elias, embora ele tenha sido um grande servo do Senhor.

Encontramos Elias fugindo de Jezabel, que havia ameaçado tirar a vida dele no dia seguinte, e está registrado que “ele se levantou, e foi para escapar com vida” (1 Rs 19:3). Mas é sim uma estranha contradição que no versículo seguinte ele “pediu em seu ânimo a morte e disse: Já basta, ó SENHOR; toma agora a minha vida” (v. 4). Aqui estava um homem piedoso, mas reduzido ao extremo desânimo. Ele estava fugindo para escapar com vida, mas também querendo morrer. Qual era o problema?

Manifestação de poder 

Aprendemos com a história de Elias que as maiores lições da vida não são aprendidas por uma demonstração de poder, mas em quietude e humildade, na presença do Senhor. O poder, às vezes, é necessário, como uma ajuda à comunhão com o Senhor, mas não pode ser um substituto para ela. Quando o servo fica ocupado consigo mesmo e os resultados não são o que ele espera, o desânimo pode facilmente se estabelecer. Mas o Senhor sabia como alcançar o coração de Seu estimado servo e ensinar a ele a lição necessária.

Em primeiro lugar, o Senhor falou com ele, perguntando-lhe o que ele estava fazendo lá no Monte Horebe. A resposta de Elias revela a sua ocupação consigo mesmo, pois ele acusa o povo de Deus e se descreve como o único fiel que resta em Israel. É então que Deus dá várias exibições de Seu poder – um vento, um terremoto e um fogo. Elias certamente estava familiarizado com tudo isso, e é significativo que ele foi capaz de ficar no monte enquanto tudo isso acontecia. Era uma exibição comparável à que ocorrera centenas de anos antes, quando a lei foi dada. No entanto, Deus não estava em nenhuma dessas forças poderosas. Sem dúvida, Seu poder estava lá, mas não o próprio Deus. Finalmente Elias ouve uma “voz mansa e delicada”, e ele reconhece instantaneamente o Senhor. Em reverência, ele envolve o rosto no manto e vai para a entrada da caverna. Novamente vem a pergunta: Que fazes aqui, Elias? Novamente Elias dá a mesma resposta de antes, acusando o povo de Israel e exaltando-se como o único fiel deixado em Israel. Qual foi o resultado?

O fim do ministério da lei 

Deus não podia mais usá-lo e disse-lhe, entre outras instruções, para ungir Eliseu como profeta para tomar o seu lugar. Há uma grande instrução para todos nós nisso. O poder de Deus é grande, e a demonstração ocasional disso é necessária para nos lembrar de Quem Deus é e do que Ele pode fazer. Precisamos ser lembrados de que somos criaturas e que todo o poder está nas mãos de Deus. No entanto, como observamos anteriormente neste artigo, o poder pode nos ocupar com nós mesmos, ainda que seja o poder de Deus. É numa voz mansa e delicada que Deus realmente é conhecido e Sua mente revelada. Por essa mesma razão, o Senhor Jesus poderia lembrar os Seus discípulos não para se alegrar porque os demônios estavam sujeitos a eles por meio do Seu nome, mas sim se alegrar porque os seus nomes estavam escritos no céu (Lc 10:20). No caso de Elias, o coração de Deus para com o Seu povo não tinha mudado, mesmo que precisassem estar sob a Sua disciplina. Mesmo no final de história deles, Ele ainda poderia dizer-lhes: “Com amor eterno te amei” (Jr 31:3). Embora Deus possa muito bem trazer disciplina sobre Seu povo, Ele não aprecia que os acusemos perante Ele.

Para finalizar, podemos notar que Elias parece ter sido quebrado pelos comentários feitos a ele pelo Senhor e por lhe ter sido dito para ungir Eliseu para ser profeta em lugar dele. Mas, novamente, a graça de Deus é exibida, pois uma vez que Elias aprendeu a ouvir a voz mansa e delicada, Deus lhe concede uma prorrogação. É verdade que ele ungiu Eliseu, mas então Eliseu segue Elias e o serve. Elias não desaparece imediatamente da cena; por aproximadamente dez anos ele continua a atuar como um profeta, enquanto Eliseu aprende com ele.

Muitas vezes acontece o mesmo na nossa vida. Podemos ter que aprender uma lição difícil, mas uma vez que essa lição é aprendida, Deus Se deleita em manifestar Sua graça para conosco. Que tenhamos os ouvidos abertos e prontos para ouvir aquela “voz mansa e delicada”! Nos dias difíceis em que vivemos, podemos contar com a graça de Deus em nossa vida, embora, em algum momento, Sua disciplina possa ser necessária. Como diz o hino:

A graça de Deus até o fim
Brilho mais claro e brilhante;
Nem coisas presentes, nem futuras,
Podem mudar Seu amor divino.

Toplady

W. J. Prost

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