Origem: Livro: DISCIPLINA CRISTÃ
3 – Disciplina de Cristo como Filho sobre Sua Própria Casa, e Disciplina da Igreja propriamente dita (Hb 3:6; 1 Co 5).
Os dois primeiros tipos de disciplina mencionados anteriormente têm um caráter pessoal e visam evitar a disciplina da assembleia, isto é, a excomunhão da pessoa problemática da assembleia e, portanto, tristeza e vergonha geral. Alguém observou verdadeiramente que noventa por cento da disciplina Cristã é de caráter pessoal[4]. Se a questão chegou ao ponto que a disciplina de Cristo, como Filho sobre a Sua própria casa, se tornou necessária, não é, como nos casos anteriores, uma questão de restaurar alguém que pecou, mas da responsabilidade de todos manterem a casa de Deus incontaminada. A própria expressão, disciplina de “Cristo, como Filho sobre a Sua própria casa”, deveria servir para impressionar a assembleia com a profunda e solene percepção da sua responsabilidade corporativa perante Deus.
[4]  J. N. Darby, “Sobre Disciplina”. ↑
Cristo mantém não apenas as chaves da morte e do Hades em Sua mão vitoriosa, mas como “Filho sobre Sua própria casa”, Aquele “que é Santo, o que é Verdadeiro”, também possui a chave do testemunho e do serviço. E como poderíamos esperar que Ele, o Santo e Verdadeiro, daria uma “porta aberta” ao testemunho de uma assembleia que, embora professamente reunida ao Seu Nome, em descuidada indiferença sanciona com esse Santo Nome o mal que o desonra, revelando assim que tem pouca ou nenhuma noção do que é devido Àquele que leva esse Nome e é “o Filho sobre a Sua própria casa”?
O apóstolo, portanto, foi obrigado a recordar Seu Nome à memória dos Coríntios que praticamente pareciam ter esquecido seu significado com aquelas palavras: “em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás” etc. Os coríntios haviam esquecido o que era devido a Cristo como Filho sobre Sua própria casa, a “casa do Deus vivo”, a “habitação de Deus no Espírito”.
Como já foi observado, neste caso de disciplina da assembleia não se trata de uma restauração pessoal daquele que é o objeto da disciplina, mas da responsabilidade comum de todos de protegerem a casa da contaminação. A restauração do pecador pode ser o resultado da disciplina da assembleia; mas isso é outra coisa e não tem nada a ver com a necessidade da disciplina da assembleia como tal, nem pode alterar o seu caráter. O Nome do Senhor deve ser vindicado primeiramente.
Se casos como 2 Tessalonicenses 3:6-15, ou de uma repreensão pública, são designados como disciplina da assembleia em um sentido geral, não tenho objeção a isso; apenas eles aparecem para mim, como já disse, antes como meios para evitar a necessidade de disciplina por Cristo como “Filho sobre Sua própria casa”, que é a excomunhão da assembleia, e assim é ao mesmo tempo o começo e o fim da disciplina da assembleia em sentido estrito.
A autoridade de Cristo como Filho sobre a Sua própria casa é guardada e mantida por meio da presença e eficácia do Espírito Santo (o Qual glorifica a Cristo) na Igreja, como a “habitação de Deus no Espírito”. Ao dizer isso, não quero dizer que o próprio Cristo não pudesse assumir e exercer diretamente essa disciplina para a manutenção de Sua autoridade sobre Sua própria casa, caso Lhe agradasse fazê-lo. Houve casos solenes disso. Seu poder e autoridade são os mesmos em nossos dias como quando “Judas… saiu logo e era já noite”.
Mas quando a condição espiritual de uma assembleia é boa e, portanto, a operação do Espírito Santo não é impedida, a disciplina da assembleia, quando necessária, será realizada com pouco ou nenhum impedimento. Mas onde o estado de uma assembleia for baixo ou positivamente ruim, como foi o caso em Corinto, a execução da disciplina da assembleia será comparativamente difícil[5]. Mas para tais casos de dificuldade, que ocorrem com demasiada frequência nestes últimos dias da Igreja na Terra, a graciosa promessa do Filho sobre Sua própria casa torna-se duplamente graciosa: “onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Ele não diz “Meu Espírito está”, mas “Eu estou”. Mesmo na Igreja de Corinto ainda havia indivíduos fiéis, como Estéfanas, Fortunato e Acaico; e o próprio Senhor estava no meio deles e executou a disciplina necessária por meio de Seu apóstolo.
[5]  Compare a disciplina no caso de Acã (Js 7) com aquela em Judas 20, onde a sua execução causou a extirpação de quase toda a tribo de Benjamim. Compare ainda Atos 5 e 1 Coríntios 5 ↑
Dois casos são especialmente mencionados nas Santas Escrituras, onde o Senhor, como Filho sobre Sua própria casa, exerce disciplina. A primeira é a de Ananias e Safira; e a segunda, a exclusão do iníquo da igreja de Corinto.
