Origem: Livro: Impedimentos à Comunhão
3. Outros movimentos e atividades
Mencionei apenas um movimento, mas as mesmas características permeiam a maioria dos nossos procedimentos religiosos modernos. Foi o mesmo com o “Movimento da vida superior”[14]. Muitas sociedades são fundadas sobre o mesmo acordo tácito ou declarado, para ignorar a Igreja de Deus; e muitos trabalhadores individuais, aqueles cujos nomes chamam mais a atenção do público, professamente tomam o mesmo terreno. Permita-me, então, querido irmão, perguntar-lhe, com toda a clareza de expressão, se você acha que pode ser agradável a Deus ficar em silêncio quanto à questão de Sua Igreja? Poderia o verdadeiro Cabeça da Igreja olhar com complacência para qualquer acordo feito pelo homem, poderia Ele ficar em silêncio sobre arranjos que praticamente afetam a unidade de Seu corpo? Não pode haver qualquer dúvida quanto à resposta. Há nossa ampla justificativa para recusamos associação com aqueles que assim agem.
[14] Esse movimento enfatizou demais a vida espiritual interior e a contemplação, mas subestimou a necessidade de um estudo objetivo da Palavra. Era uma forma de dualismo, ligada a influências pagãs e misticismo, segundo os quais as filosofias do corpo e das coisas materiais são de ordem “inferior”, enquanto as questões espirituais e religiosas são de ordem “superior”. ↑
O caso ainda é mais flagrante. Não é apenas de indiferença que acuso aqueles de quem falei, mas de hostilidade – oposição aberta ao verdadeiro terreno sobre o qual Deus queria ter Seus santos reunidos. Esta é uma posição muito grave a ser assumida; pois se há apenas um terreno na Terra (como a Escritura ensina) sobre o qual os crentes devem ser reunidos, é uma coisa solene, de fato, ser hostil a ele, ou seja, estar disposto a endossar todos os fundamentos do sectarismo, mas não o verdadeiro fundamento da Igreja. Portanto, não poderíamos, sem ser falsos à verdade, dar as mãos àqueles que se opõem à reunião somente nesse terreno.
Há ainda outro aspecto do caso. Enquanto somos condenados por outros companheiros crentes por permanecermos sozinhos, aqueles que nos condenam não desejam nossa comunhão, a menos que façamos promessas, as quais eles não têm o direito de exigir, e que não poderíamos fazer sem sermos infiéis ao Senhor. Algum tempo atrás, pediram-me para pregar o evangelho em um edifício não denominacional. Antes que eu pudesse responder, isto foi adicionado: “Claro que você não mencionará nenhuma das suas peculiaridades”. Será que alguém, para ir a um determinado lugar, concordaria de antemão reter qualquer coisa que o Senhor pudesse colocar em seu coração para falar? Não, isso volta ao ponto já abordado na última carta. É o Senhor ou meus irmãos que tenho que colocar diante de mim? O apóstolo diz: “Se estivesse ainda agradando aos homens (fazer disso meu objetivo), não seria servo de Cristo” (Gl 1:10).
Gostaria de aprofundar um pouco mais esta questão. Como vimos antes, nosso lugar é “fora do arraial” (Hb 13:13) e, portanto, um lugar de separação. São esses servos de quem temos falado, dentro ou fora do arraial? Eles não estão fora, pois aprovam claramente ou se ligam abertamente a todos os sistemas sectários que o homem organizou e criou, esses mesmos sistemas que, em sua totalidade, formam o arraial. Se, então, eu, pela graça de Deus, fui levado para fora do arraial a Cristo, devo retornar a ele ou associar-me àqueles que estão nele, por motivo de comunhão? Devo perder a comunhão com Cristo[15] ou evitar a comunhão com aqueles que estão nessa posição. Sendo assim, você verá a necessidade de continuarmos separados; que, de fato, a fidelidade a Cristo e a lealdade ao testemunho que Ele nos confiou nos impedem que tomemos qualquer outro caminho.
[15] No que diz respeito à luz que o Senhor me deu, eu perderia o gozo da comunhão com Ele, por causa da minha desobediência. Isso não significa que os crentes que estão no arraial não tenham comunhão nenhuma com o Senhor. Eles são ignorantes quanto ao verdadeiro caráter do arraial aos olhos de Deus, mas podem desfrutar da comunhão com Ele, de acordo com a luz que têm. ↑
