Origem: Livro: A Epístola de Paulo aos COLOSSENSES
3) Ritualismo Judaico (vs. 16-17)
O terceiro perigo que ameaçou o progresso espiritual dos colossenses é o ritualismo judaico. Paulo diz: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras [vindouras – JND], mas o corpo é de Cristo”. Esses versículos indicam que esses falsos mestres provavelmente eram de origem judaica, mas se tornaram heterodoxos em suas doutrinas. Visto que os Cristãos judeus foram removidos das obrigações legais com as quais estavam vinculados por estarem “mortos com Cristo” (Rm 6:8, 7:4), eles não deveriam permitir que alguém os colocasse novamente sob aquelas ordenanças legais. A morte de Cristo acabou com todas as conexões com esse sistema legal para eles. Paulo usa a palavra “julgue” aqui em conexão com aqueles que encontrariam falhas em santos que entenderam sua liberdade em Cristo. Assim, os colossenses não deveriam deixar que as críticas daqueles que não estavam livres do judaísmo os dissuadissem (Gl 5:1).
Ao mencionar “comer”, “beber”, “dias de festa”, “lua nova” e os “sábados”, Paulo estava indicando que essa libertação não era meramente da lei dos dez mandamentos, mas também das leis cerimoniais, estatutos e rituais que compõem o judaísmo como um sistema. Essas coisas eram “sombras das coisas futuras” em Cristo. Nos tempos do Velho Testamento, a luz de Deus estava brilhando sobre Ele, e todas aquelas formas e cerimônias na ordem levítica de aproximação a Deus eram apenas sombras projetadas por Ele. Mas agora, desde que Cristo veio, esses tipos e sombras deram lugar à substância real. Paulo indica isso acrescentando: “Mas o corpo é de Cristo”. Ao afirmar isso, ele não está se referindo ao corpo físico de Cristo, nem está se referindo ao corpo místico de Cristo, do qual os crentes são membros. Em vez disso, ele está usando a palavra “corpo” para indicar que Cristo é a substância de projeta essas sombras. F. B. Hole disse: “Mas o corpo – isto é, a substância – é de Cristo” (Paul’s Epistles, vol. 2, pág. 103).
Aliás, a palavra “corpo” é usada de seis maneiras diferentes nesta epístola:
- Como o corpo místico de Cristo (cap. 1:18, 24, 2:19, 3:15).
- Como o corpo físico do Senhor (cap. 1:22).
- Como o corpo glorificado do Senhor (cap. 2:10).
- Como todo o sistema da carne como uma entidade que Deus julgou (cap. 2:11).
- Como a substância de Cristo nos tempos do Velho Testamento, lançando uma sombra das boas coisas que estavam por vir (cap. 2:17).
- Como os corpos dos santos (cap. 2:23).
Uma vez que esses tipos e sombras deram lugar à substância real em Cristo, o sistema judaico com suas formas e rituais serviu ao seu propósito de apontar para Cristo. Ensinar que os Cristãos devem se aproximar de Deus por meio de formas e rituais externos, como no judaísmo, é negar a verdade que veio à luz na morte e ressurreição de Cristo. Isso é algo que os Cristãos interpretaram mal por séculos. Em vez de ver as coisas no judaísmo como sendo cumpridas em Cristo, e não necessárias no culto Cristão, a maioria dos grupos Cristãos estabeleceu seu culto ao longo de linhas judaicas e misturaram os princípios e práticas do judaísmo com os do Cristianismo. O resultado é algo híbrido de ambos, coisa que Deus nunca pretendeu para a adoração Cristã.
As igrejas da Cristandade perderam o ensinamento claro da Escritura que mostra que o tabernáculo é uma figura do verdadeiro santuário ao qual os Cristãos agora têm acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24). Em vez disso, eles usaram o tabernáculo e o templo do Velho Testamento como padrão para suas igrejas. Eles têm emprestado muitas coisas em um sentido literal da ordem judaica para seus locais de adoração e serviços religiosos. Isto pode ser visto no uso de templos literais e catedrais para locais de adoração, tendo uma casta especial de homens que oficiam em nome da congregação (o clero), o uso de instrumentos musicais para ajudar na adoração, o uso de um coral, as vestes especiais dos “ministros” e membros do coral, a prática do dízimo, a observância dos dias santos e festas religiosas, etc. É verdade que muitas dessas coisas judaicas foram alteradas um pouco para se encaixar em um contexto Cristão, mas elas ainda têm os ornamentos do judaísmo. Uma vez que essa mistura de princípios e práticas judaicas e Cristãs permeou o testemunho Cristão e existe há tanto tempo, tornou-se aceito pelas massas como o ideal de Deus. É defendido e sustentado tenazmente por Cristãos sinceros (mas enganados). No entanto, misturar essas duas ordens distintas destruiu a particularidade de cada uma delas, e o que resultou da mistura não é nem judeu e nem Cristão.
O Remédio
O remédio de Paulo nos versos 16-17 era que os colossenses não deveriam deixar ninguém os convencer de que precisavam acrescentar a ordem judaica de se aproximar de Deus à sua adoração Cristã. Independentemente de qual forma o judaísmo possa estar embrulhado – seja o judaísmo pleno nas sinagogas ou a mistura semi-judaica encontrada nas igrejas da Cristandade – isso não tem lugar no Cristianismo. Abraçar-se a essa ordem externa de aproximação a Deus tende a “entorpecer” as sensibilidades espirituais Cristãs, impedindo seu crescimento e progresso. O resultado disso é que o crente permanece um “bebê”. Esse foi o caso daqueles a quem a epístola aos Hebreus foi escrita (Hb 5:11-14).
