Origem: Livro: Os Patriarcas

Ainda um estranho e peregrino

Estas são as grandes coisas de fé na alma dos eleitos. Mas ainda mais longe, nesta história fecunda e cheia de mudanças. Abraão, no final, é visto mantendo sua primeira posição, bem como obtendo suas vitórias como no início. Ele mantém, pela graça, em pé e firme, aquela mesma atitude que ele assumiu imediatamente e no início, quando pela fé deu ouvidos ao chamado de Deus.

Esse chamado de Deus fez essas duas coisas com Abraão, posso dizer, por Abraão; isso o separou da Mesopotâmia e ainda assim o deixou como um estranho em Canaã. Ele havia sido retirado da sua terra, da sua parentela e da sua casa paterna; mas ainda assim, no meio daquela terra e do povo para o qual ele havia vindo, ele seria apenas um peregrino, habitando como se estivesse na superfície dela, em uma tenda, em qualquer parte dela que ele pudesse passar ou visitar.

Esta posição era muito santa. Sua separação foi dupla: separação da contaminação, tais como as que ele poderia encontrar em Canaã; separação de alianças naturais, tais como as em que ele nasceu na Mesopotâmia. Ele estava sob o chamado do Deus da glória; e tal chamado não fez acordo nem com a carne nem com o mundo. Em certa medida de santidade levita, ele não conheceu os filhos de sua mãe; em certa medida de santidade da igreja, ele não conheceu nenhum homem segundo a carne. Não; além de tudo isso, em alguma virtude de seu divino Senhor, ele não conhecia a si mesmo. Ele era o herdeiro da terra onde era um peregrino. A promessa de Deus era dele, tão certa quanto o chamado.

Ele sabia que estava destinado, por propósito divino e incontestável, à dignidades de ordem muito elevada. Mas até o fim ele estava disposto a passar por desconhecido, totalmente desconhecido. Ele falava de si mesmo para os filhos da terra apenas como sendo um estrangeiro e peregrino. Ele pagaria pelo menor terreno que quisesse. Ele não seria nada e ninguém no meio deles. Ele nunca falou das dignidades que ele sabia, o tempo todo, estarem realmente ligadas a ele. Davi, com o mesmo espírito, em outros dias, tinha sobre si o azeite de Samuel, a consagração de Deus ao trono das tribos de Israel; e ainda assim ele ficava escondido e agradecia a um vizinho rico, em sua necessidade, por um pedaço de pão. Esses homens de Deus não conheciam a si mesmos. Este foi o caminho do nosso Abraão; e esta foi a virtude d’Aquele que, neste mesmo mundo morto e mau, tornou-Se sem reputação, embora fosse o Deus do céu e da Terra.

Benditas virtudes da alma sob o poder do chamado de Deus, por meio do Espírito Santo! A Mesopotâmia foi abandonada, Canaã foi afastada e o eu foi esquecido e escondido! O chamado de Deus se propõe a fazer hoje conosco o que naquele dia fez com Abraão. O chamado estaria inclinado a nos conformar consigo mesmo. Sua autoridade é suprema. Não é que a terra ou a parentela estejam, necessariamente, contaminando. A natureza os credencia; e a lei de Deus, a seu tempo, os reconhece e aplica. Mas o chamado de Deus é supremo e exige separação de uma ordem muito elevada, bela e peculiar. E foi isso que se dirigiu a Abraão quando ele habitava na Mesopotâmia, o lugar de seu nascimento, de sua parentela e de suas associações naturais, e foi isso que ainda ecoou em seu coração durante todo o tempo de sua peregrinação em Canaã.

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