Origem: Livro: Aos Pais de Meus Netos
Ana
A doce história de Ana e Elcana vem a seguir diante de nós. Há um conforto peculiar para o coração de um pai e uma mãe na fé dessa mãe. Vocês se lembram de que Ana ficou tão triste com as humilhantes provocações de sua competidora, porque ela não tinha filho, a ponto de nem conseguir comer. Ela fez a coisa certa, a melhor coisa que poderia ter feito; ela levou o problema ao Senhor em oração. E isso, a coisa mais óbvia para um pai ou uma mãe Cristã fazer, é justamente onde falhamos. As crianças nos irritam, nossos amigos nos irritam com críticas e comparações. Nossos familiares muitas vezes nos atormentam com conselhos bem-intencionados, mas não entendem nem um pouco as condições reais. Quantas vezes deixamos essas coisas nos aborrecerem, como Ana fez, de modo que mal podemos comer. Sigamos o seu exemplo e levemos tudo ao Senhor em oração. Não foi completamente fácil, houve provações, quase se poderia dizer oposições e críticas, de quem deveria ter dado ajuda e empatia; mas isso só serviu, por um lado, para imprimir a oração daquele dia ainda mais profundamente no coração da mulher triste e do velho sacerdote; e, por outro lado, para extrair do próprio Eli aquela maravilhosa bênção: “Vai em paz, e o Deus de Israel te conceda a tua petição que Lhe pediste”. Podemos notar quão profundos são o conforto e o consolo dessas palavras para aquele coração ferido, pelo fato de que, vários anos depois, ela mesma usa quase essas mesmas palavras.
E agora, observe o que acontece: seu semblante não está mais triste. Esse é o verdadeiro resultado da oração. Ao derramarmos nossas queixas e lançarmos nosso fardo sobre o Senhor, Ele alivia o fardo, e nossa tristeza e aflição se transformam em paz que excede todo o entendimento. “em tudo sejam conhecidos os vossos pedidos diante de Deus pela oração e pela súplica com ações de graças. A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus” (Fp 4:6 – TB). Assim foi com Ana, e aquela paz incompreensível manteve sua alma e mudou seu semblante. Isso nos lembra de nosso próprio bendito Senhor: “estando Ele orando, transfigurou-se a aparência do Seu rosto” Eu sei que o significado é totalmente diferente e as circunstâncias de um caráter especial e extraordinário; mas, em certo sentido, é verdade até para nós, em nossa própria oração: quando oramos, realmente oramos, a aparência de nosso semblante é alterada.
E agora, alguns anos depois, quando a criança é desmamada, ela o leva até o Tabernáculo para o velho Eli, aquele cujas palavras produziram tanto conforto para sua alma amargurada. “Por este menino orava eu” diz ela, “e o SENHOR me concedeu a minha petição que eu Lhe tinha pedido”.
Quantas mães e pais podem ecoar essas palavras: “Por este menino orava eu”! Quantas vezes os meninos (e as moças também) nos deixam de joelhos! Não desanimem, pai e mãe, o Senhor ouve quando vocês pedem por aquele menino. Continue orando por ele e “Vai em paz, e o Deus de Israel te conceda a tua petição que Lhe pediste”.
Mas há outra lição para nós, pais, aprendermos com Ana. Ela desistiu de reivindicar seu filho e o cedeu ao Senhor enquanto ele viveu. Certamente este é o caminho certo para cada um de nós. Outra mãe, anos depois, escreveu:
“Com alegria, com gozo, meu filho eu dou a Ti;
E ainda o considero Teu presente escolhido para mim,
O que Tu deste, com gozo, eu Lhe dou de novo,
E ainda que dor no gozo e que gozo na dor”.
Que Deus ajude cada um de nós, pais, a manter os filhos que Ele nos deu, como a mais santa responsabilidade que Deus pôde colocar sob nossa guarda. Alguns são “mordomos” dos bens do Senhor, mas quão mais pesada é a responsabilidade de ser confiada a almas preciosas e imortais, para treinar e preparar para Si mesmo e Seu serviço!
E só há uma maneira certa de fazer isso. Esses preciosos dons devem ser entregues – “devolvidos” (ARA) “ao Senhor” enquanto viverem. E então, ao percebermos de Quem eles são, não apenas perceberemos mais solenemente nossa responsabilidade, mas também conheceremos mais profundamente Aquele que está pronto e disposto a dar a infinita graça, paciência e sabedoria necessárias para treiná-los para Si mesmo. Observe, também, que os pais “degolaram um bezerro e assim trouxeram o menino a Eli”. Só podemos devolver nossos filhos ao Senhor por meio da morte, um reconhecimento de que eles só merecem a morte, mas que Outro morreu por eles.
E é bom lembrarmos que quando os devolvemos ao Senhor, o Senhor aceita a devolução, e daquele dia em diante eles são d’Ele. Ana não foi, depois de alguns meses, trazer seu filho para casa novamente para tê-lo com ela por um tempo. Foi um negócio finalizado que ela realizou com o Senhor com toda a seriedade, e o Senhor aceitou sua devolução. Muitas vezes tendemos a esquecer disso e agir como se aqueles filhos devolvidos ao Senhor fossem nossos, e os treinamos para seu próprio proveito, ou para nós mesmos, ou para o mundo, e não para Aquele a Quem eles pertencem.
Teu, Salvador, Teu –
Não mais este meu filho
Pertence a mim, mas devolvido a Ti
É Teu para sempre, doravante para permanecer
Como inteiramente Teu.
