Origem: Livro: Os Patriarcas
Bênção patriarcal
Há, no entanto, um alívio, e um alívio muito importante, no meio desta cena corrompida e sombria. “Pela fé, Isaque abençoou Jacó e Esaú, no tocante às coisas futuras”. Esta é a própria referência do Espírito Santo a este capítulo em Hebreus 11.
Mas antes de falar do alívio ou conforto que isso traz para nós quando pensamos em Isaque, aproveito a oportunidade para perguntar: Qual foi a natureza ou o caráter dessa bênção dos patriarcas sobre seus filhos, que encontramos repetidamente no Livro do Gênesis?
Uma bênção estava nas mãos de Melquisedeque em Gênesis 14; como novamente, muito tempo depois, houve uma bênção nas mãos de Arão em Números 6. Esses casos podemos facilmente entender – essas bênçãos foram conferidas ou pronunciadas em razão do cargo. Elas foram pronunciadas por meio do sacerdócio ordenado por Deus. Não havia nada profético ou oracular nelas. As palavras que estes sacerdotes usaram foram mais preparadas do que inspiradas; palavras já prescritas pela provisão divina, em vez de comunicadas no momento pela iluminação divina, pelo menos no caso de Arão.
Com a bênção patriarcal, porém, foi claramente o contrário. Houve uma profecia ou um oráculo nas palavras de Isaque sobre Esaú e Jacó aqui em Gênesis 27; e o mesmo ocorreu posteriormente nas palavras de Jacó sobre seus filhos em Gênesis 49, e em suas palavras sobre os filhos de José em Gênesis 48; e o mesmo aconteceu antes, nas palavras de Noé, em Gênesis 9, sobre Sem, Cam e Jafé.
Mas por que, pergunto eu, esse grande assunto foi confiado aos patriarcas?
Se não me engano, alguns dos segredos da religião patriarcal, da adoração e do ministério patriarcal estão envolvidos na resposta a isto. A religião tinha, nestes primeiros dias, as mesmas grandes verdades que ainda tem como espírito e princípio. A “queda” e a “recuperação” do homem, ou a “ruína” e a “redenção”, foram então divulgadas e recebidas pela fé. Os altares dos pais e a ordenança dos limpos e impuros nos falam de fé e das apreensões de fé naqueles dias. A tenda dos patriarcas vivos e a Macpela dos patriarcas falecidos nos dizem que eles entenderam o chamado do estrangeiro e uma ressurreição vindoura; e o bosque [a tamargueira – TB] de Abraão em Berseba (Gn 21), e sua aliança com os gentios no poço do juramento, nos dizem também, em linguagem clara, embora simbólica, que eles entenderam alguns dos segredos brilhantes e felizes da era milenar, ou do “mundo vindouro” ou “século futuro”.
E a adoração e o ministério, naquela época inicial, estavam em suas formas mais simples. Posso dizer que a natureza sugeria que o pai ou cabeça da casa deveria ser o profeta, o sacerdote e o rei ali. Em tempos posteriores, quando a condição das coisas se espalhou, e quando, com o crescimento e a idade, a corrupção entrou, a santidade de Deus exigiu um povo separado ou circuncidado; e, relacionado com isso, um sacerdócio separado ou ungido. Agora, em nossos dias, no dia do reino de Deus, que, como sabemos, “não consiste em palavras, mas em virtude [poder – ARA]”, é necessário que o ministério seja algo mais do que a natureza sugeriria, ou do que a santidade demandaria; deve haver poder, tal como o próprio Espírito prepara e transmite. Mas nos primeiros dias de Gênesis, naqueles dias da família – aqueles primeiros dias iniciais – a voz da natureza foi ouvida, e de maneira adequada e oportuna; e, consequentemente, o cabeça da família era o ministro de Deus para a família, e tanto as dignidades quanto os serviços dos profetas, sacerdotes e reis, dentro do alcance da propriedade familiar, ou no templo da família, centralizavam-se no pai.
A bênção dos filhos parece fluir disso. Foi um ato realizado nas virtudes combinadas de profeta e sacerdote, que, como vemos, os pais de família carregavam em suas próprias pessoas. Eles receberam uma comunicação da mente divina e depois a proferiram como “oráculos de Deus”; e, sendo representantes separados ou sacerdotais de Deus para seus filhos, pronunciaram sobre eles Sua bênção, a bênção de Deus.
Eles parecem sustentar esse caráter por todo o Livro do Gênesis.
