Origem: Livro: Aos Pais de Meus Netos
A Casa de Nazaré
Dificilmente podemos deixar de ficar impressionados com as poucas famílias cujas histórias traçamos no Novo Testamento. Mas Aquele que está diante de nossa visão agora permanece Único. Nunca, antes ou depois, houve uma Criança como o Pequenino que nasceu naquele estábulo em Belém, porque não havia lugar para Ele na hospedaria.
Ó Estranho sempre sem-lar
Assim, O mais querido Amigo para mim:
Um Rejeitado na manjedoura
Que Tu possas estar conosco.
Como justamente se elevaram os louvores
Do céu, aquela noite maravilhosa,
Quando os pastores cobriram seus rostos
Na mais brilhante luz angelical:
Venha agora e veja aquela manjedoura:
Contemple o Senhor da Glória,
Um Estranho sem-casa e sem-lar
Neste pobre mundo por ti.
“Glória a Deus nas alturas
E paz na Terra”, para encontrar
E aprender essa história maravilhosa –
‘Bom prazer no homem.’
Bendito Bebê que repousa humildemente
Ali na manjedoura;
Descido do Altíssimo,
Para compartilhar de todas nossas tristezas.
Nós nos apegamos a Ti na fraqueza,
A manjedoura e a cruz –
Nós contemplamos Tua mansidão
No sofrimento na dor e perda
Lá vemos a glória da Divindade
Brilhar através daquele Véu humano,
E voluntariamente ouvimos a história
Do amor que veio para curar.
Minha alma em segredo segue
Os passos de Seu amor—
Eu sigo o Homem de Dores
Para provar Sua graça infinita.
Uma criança em crescimento e estatura
No entanto, cheio de rara sabedoria:
Filiação na natureza consciente –
Suas palavras e caminhos declaram.
Ainda assim, em humilde submissão,
Ele trilhou pacientemente Seu caminho;
Para atender Sua missão celestial,
Desconhecida por todos, menos para Deus.
J. N. Darby
Gostaríamos de permanecer naquele querido lar em Nazaré: mas a sabedoria de Deus, na maioria das vezes, colocou um véu sobre aqueles anos de infância. Nós temos aquele maravilhoso vislumbre d’Ele quando Ele tinha doze anos de idade: e nós O ouvimos dizer a Sua mãe: “Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” (Lc 2:49). O significado literal é: “Não sabeis que devo estar nas coisas de Meu Pai?” As “coisas” de Seu Pai eram a própria atmosfera em que Ele vivia. No entanto, veja-O, o SENHOR da Glória, voltar com Seus pais para aquele humilde lar; e lá Ele “era-lhes sujeito”.
Na casa daquele carpinteiro em Nazaré, nosso Senhor foi “criado”. É quase exatamente a mesma palavra que o Espírito usa em relação a nós, com nossos filhos, em Efésios 6:4 (Trepho e Ek-trepho). “Criai-os na doutrina e admoestação do Senhor”. No entanto, disso podemos falar mais tarde. Mas nós, que somos pais, contemplamos por um momento essa ‘criação’. Nunca houve tal Criança: Ele nunca foi desobediente; nunca contradizente; nunca insatisfeito; nunca rude; nunca voluntarioso; nunca falso. Quão diferente de nós, quando éramos crianças! Quão diferente dos filhos que buscamos, por Sua graça, criar agora! Ele tinha quatro irmãos: Tiago e José, e Judas e Simão, além de “Suas irmãs” (Mc 6:3). Neste versículo Ele é chamado de “o carpinteiro” e, sem dúvida, quando menino e jovem, Ele trabalhava na oficina de José na carpintaria. Talvez nessa época José já fosse falecido, pois aqui nosso Senhor é mencionado como “o filho de Maria”, e nenhuma menção é feita a José.
Sabemos que por algum tempo depois que Ele entrou em Seu ministério público, Seus irmãos não acreditaram n’Ele; e é mais do que provável que a inveja dos irmãos de José (naquela linda história em Gênesis), tão diferente de seu irmão José, fosse apenas uma imagem da inveja desses irmãos incrédulos em Nazaré. Isso tornaria a vida difícil para a Criança; mas quão doce é ver que o próximo em idade, e talvez mais próximo a Ele, “Tiago, irmão do Senhor” (Gl 1:19), foi rapidamente conquistado para ser Seu seguidor leal e fiel. Tampouco Tiago foi o único daqueles quatro que foram ganhos por Ele; pois em 1 Co 9:5, vemos “os irmãos do Senhor” ligados a Cefas. E podemos muito bem acreditar, (como poderíamos esperar), que cada um daquela família em Nazaré tornou-se seguidores sinceros, verdadeiros e devotados de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando nos voltamos para a Epístola de Tiago, quase certamente escrita pelo irmão de nosso Senhor, lemos no primeiro versículo: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. É muito revigorante ver Tiago vincular o Senhor Jesus Cristo a Deus dessa maneira, mostrando sua fé absoluta na divindade de Cristo: e é maravilhoso ver com que inteireza de coração ele O confessa como Senhor e reconhece a si mesmo como Seu “escravo”, pois este é o significado da palavra traduzida como “servo”. Um escravo é alguém comprado por um preço, e Tiago, o irmão de nosso Senhor, confessa isso abertamente nas primeiras palavras de sua carta.
É usar nossa imaginação demais para supor que aqueles anos, quando nosso Senhor estava sendo “criado” na mesma casa que Tiago, Seu ‘irmão’, estavam entre as influências que o conquistaram para Aquele que era Seu ‘irmão’ e ainda seu Senhor? À luz de 1 Pedro 3:1, podemos concluir que isso era assim. Pedro está falando de maridos incrédulos, e ele diz: “e algum não obedece à Palavra, pelo procedimento [porte – ACF] de sua mulher seja ganho sem palavra”. A palavra traduzida como ‘porte’ realmente significa: ‘modo de vida; comportamento; conduta’. É uma palavra favorita de Pedro. Ele a usa oito vezes em suas duas pequenas epístolas, enquanto nós a encontramos apenas outras cinco vezes em todo o Novo Testamento. Assim, o comportamento da esposa crente conquista o marido incrédulo. Tiago usa a mesma palavra em suas epístolas, capítulo 3, versículo 13. Eu me pergunto se ele, ao escrever essas palavras, estava pensando no ‘modo de vida’, no ‘comportamento’, na ‘conduta’ d’Aquele a Quem ele havia observado tão de perto durante a infância, a juventude, e na idade adulta. Sua mãe guardou todas essas palavras em seu coração, e não duvido que Suas palavras e Seu modo de vida também tenham penetrado profundamente no coração de Tiago.
“Deixai vir os pequeninos a Mim”
Não posso ignorar as mães que trouxeram seus “pequeninos” a nosso Senhor, para que Ele pudesse colocar as mãos sobre eles e orar. Encontramos a história contada três vezes: Mateus 19:13-15; Marcos 10:13-16; Lucas 18:15-17. Lucas, o médico, nos conta que eles eram “bebês recém-nascidos” (Brephos). Marcos, que tantas vezes registra detalhes minuciosos da aparência, tom ou ato de nosso Senhor, nos diz que Ele, “tomando-os nos Seus braços e impondo-lhes as mãos, os abençoou”. Aqui o Espírito de Deus usa uma palavra muito forte para abençoar, reservada apenas para essas criancinhas, e não é usada em nenhum outro lugar do Novo Testamento. Pode ser traduzido, “Ele os abençoou fervorosamente”. E quando os discípulos repreenderam essas mães, Marcos também nos diz que o Senhor ficou “indignado”. Mais uma vez o Espírito usa uma palavra muito forte, que tem o significado de “entristecido, indignado e irado”. Vocês se lembram de como Ele disse: “Deixai vir os pequeninos a Mim e não os impeçais”. Lemos no Novo Testamento seis vezes que outros ficaram muito descontentes, ou entristecidos, ou indignados, ou irados: os próprios discípulos em mais de uma ocasião, os fariseus, o principal da sinagoga. Mas apenas uma vez encontramos essa palavra usada por nosso Senhor, e isso foi para com Seus próprios discípulos, quando eles tentaram impedir as mães de trazer seus pequeninos a Ele. Há uma lição muito grave para nós nesta palavra; pois, é triste dizer, há muitos hoje, homens bons também, que andam nas pegadas dos discípulos e procuram impedir os pais Cristãos de levar seus filhinhos ao Senhor. Essas pessoas pensam que estão prestando serviço a Deus, mas infelizmente temo que seu Senhor esteja triste, indignado, irado. “Amado, não sigas o mal, mas o bem”.
