Origem: Livro: Breves Meditações
Citações
Passagens do Velho Testamento citadas, como estão, em todas as partes do Novo, com muitos e muitos olhares, ou referências tácitas e não expressas, unem todas as partes do Volume e lhe conferem um caráter de unidade e completude. O próprio conteúdo do Volume faz o mesmo. Também lhe confere unidade e completude, pois é uma série de eventos que se estende do início ao fim, da criação ao reino. E as profecias no Velho Testamento, dos eventos no Novo, são como citações no Novo de passagens do Velho. E assim, na boca de várias testemunhas da mais alta dignidade, temos a unidade e a consistência do Volume divino, do início ao fim, plenamente expostas e estabelecidas.
Isso nos diria que tudo é o sopro de um só e do mesmo Espírito. A própria Escritura anuncia o mesmo. E, novamente, o próprio conteúdo fala também neste caso. “Sua luz e poder que se evidenciam por si mesmos”, as glórias morais nas quais a luz e poder brilham tão intensamente, tão abundantemente e tão variadamente, testemunham que Deus é sua fonte. E assim a origem divina do Livro, bem como sua unidade e consistência, é estabelecida. E nos apegamos a essas verdades diante de todo o insulto que lhes é lançado por homens irracionais e ímpios; as oposições da crítica, falsamente assim chamadas, apenas se esgotam em vão, como ondas furiosas na praia. O próprio Deus estabeleceu os limites; e essas coisas apenas retornam sobre si mesmas, espumando sua vergonha.
No progresso das Escrituras do Novo Testamento, o Senhor e o Espírito Santo, em suas diversas maneiras e épocas, usam as Escrituras do Velho Testamento. Isso é um selamento delas, se é que precisavam. Mas é assim. É Deus colocando Seu selo sobre elas depois que elas surgem, assim como foi Ele Quem as soprou antes que surgissem.
Quanto ao Senhor, descobriremos que Ele usa as Escrituras do Velho Testamento de diversas maneiras diferentes.
- Ele as observa obedientemente, ordenando Sua vida, formando Seu caráter, por assim dizer, de acordo com elas.
- Ele as usa como Suas armas de guerra, ou escudo de defesa, quando atacado pelo tentador, ou pelo mundo.
- Ele as trata como autoridade ao ensinar ou argumentar.
- Ele declara e afirma sua origem divina e seu caráter indestrutível, e isso também em cada jota e til delas.
- Ele as cumpre, não Se retirando de Seu lugar de serviço e de sofrimento, até que pudesse examiná-las por inteiro (na medida em que esse serviço e sofrimento tivessem relação com elas) como realizadas, verificadas e cumpridas.
De maneiras como essas, e talvez de outras, o Senhor honra as Escrituras. Que visão! Que fato precioso! Quão abençoado é vê-Lo em tais relações com a Palavra de Deus, aquela Palavra que é o fundamento e o testemunho de toda a confiança, liberdade e paz que conhecemos diante de Deus! Lemos o Salmo 119, que traça a relação de um adorador com as Escrituras, e achamos edificante observar as respirações de um santo sob os ensinamentos, as delineações e as inspirações do Espírito Santo. Mas é ainda mais comovente observar e traçar as relações que o Senhor Jesus Se coloca com a mesma Escritura.
Então, quando o ministério do Senhor termina, quando o Filho retorna ao céu e o Espírito desce, Ele aparece (como nos apóstolos que Ele enche para escrever as epístolas), realizando o mesmo serviço por nós. Pois em todas as Epístolas encontramos citações dos escritos do Velho Testamento.
E não há limite para isso. Essas citações são encontradas em todas as partes do Novo Testamento e são tiradas de todas as partes do Velho, de Gênesis a Malaquias – e em grande quantidade. De modo que temos, na estrutura do Volume divino, nada menos do que o entrelaçamento mais estreito, completo e intrincado de todas as suas partes entre si, sendo que o fim retorna ao princípio, e o princípio antecipa o fim. Em certo sentido, estamos em todas as partes do Volume quando estamos em qualquer parte dele, embora a variedade das comunicações, ao revelar as dispensações de Deus, seja infinita.
E certamente dizemos que essas qualidades do Livro Sagrado são, no mais elevado sentido, divinas; pois seu conteúdo ou material contém uma compreensão e exibição de glórias morais em toda excelência imaculada, que, da maneira mais clara, falam de Deus, inequivocamente, ao coração e à consciência.
Mas, além disso, a Escritura se vincula à eternidade.
Se temos predições no Velho Testamento de eventos no Novo, também temos, tanto no Velho quanto no Novo, predições da eternidade que está por vir.
Se temos citações no Novo Testamento de passagens do Velho Testamento, também temos, tanto no Velho quanto no Novo, referências à eternidade passada. A Escritura ultrapassa suas próprias fronteiras, por assim dizer, e está nas cenas e glórias da eternidade vindoura; a Escritura também se retira para além de suas fronteiras e está nos segredos e conselhos da eternidade passada, revelando “o rolo do livro” e revelando predestinações que foram formadas e estabelecidas em Cristo antes que os mundos existissem.
Certamente é maravilhoso! Mas o Espírito d’Aquele que conhece o fim desde o princípio nos explica isso – mas nada menos poderia fazê-lo. E o Livro, como já foi dito, é um milagre maior do que qualquer outro que ele registra.
E é bem-aventurado para nós saber e provar que ele nos prepara para tudo, para tudo o que nos cerca neste momento. Confusão e corrupção podem ser infinitas, mas temos tudo isso antecipado no Livro e pelo Livro, ao qual damos ouvidos como a testemunha de tudo para nós em nome e na verdade de Deus. Não precisamos temer nenhum espanto, visto que o temos. Podemos (se isso for uma ação santa da alma) “zombar”, e não “temer”, da insolente infidelidade do dia; e, se tivermos graça, orar por esses homens ímpios, para que Deus lhes conceda o arrependimento para o conhecimento da verdade.
E eu acrescentaria isto: que estas citações de Seus próprios escritos, feitas pelo próprio Deus, primeiro na Pessoa do Filho e depois na Pessoa do Espírito Santo, são belas neste caráter ao qual antes me referi: assim como Ele enviou estes escritos como procedentes de Si mesmo, no princípio, sendo Ele a Fonte deles, assim também, depois que eles surgiram e foram incorporados em formas humanas e aceitos pelos homens, como em todas as línguas das nações, e assentados no meio da família humana, Ele mesmo vem para autenticá-los ali. Ele os inspirou e os selou – e nós os recebemos assim apresentados a nós por Ele mesmo – e não pedimos mais nada.
E podemos dizer das Escrituras, do princípio ao fim, que uma parte delas não pode ser tocada sem que todas sejam afetadas. Para usar a linguagem inspirada: “se um membro padece, todos os membros padecem com ele”, Deus assim forjou tudo isso junto. E posso ir mais longe na mesma analogia e dizer que as partes menos bonitas receberam honra mais abundante – como, por exemplo, no Livro de Provérbios, encontramos um testemunho tão rico e abençoado do Cristo de Deus em Suas glórias misteriosas quanto encontramos em qualquer outro lugar.
Sim, e eu me atrevo a acrescentar que, se todas as outras partes, como os membros do corpo, se ressentem da transgressão e do dano feito a qualquer parte, assim o Espírito dirá de Deus e das Escrituras, como diz de Deus e dos Seus santos: “aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho”. Tenho certeza disso. Deus fará da contenda contra as Escrituras a Sua própria contenda. “Quem Me rejeitar a Mim, e não receber as Minhas palavras,” diz o Senhor Jesus, “já tem Quem o julgue”.