Origem: Livro: A Primeira Epístola de Paulo aos CORÍNTIOS
As Consequências da Sabedoria Mundana na Assembleia (Cap. 3:1-17)
No capítulo 3:1-17, o apóstolo continua a expor os perigos da sabedoria humana. Nos capítulos 1-2, ele mostrou que a sabedoria do mundo não produzirá nada de positivo nas coisas de Deus. Agora, no terceiro capítulo, ele mostra que isso realmente tem sérios efeitos negativos sobre a assembleia.
Paulo prossegue dizendo aos coríntios das tristes consequências que resultam do trabalho da sabedoria do mundo entre os santos. Longe de ser proveitosa, foi destrutiva para a vida da assembleia. Ele mostra que ela:
- Vs. 1-2 – Impede o crescimento dos santos.
- Vs. 3-8 – Divide a assembleia.
- Vs. 9-17 – Contamina a casa de Deus.
1) O crescimento espiritual é impedido (Cap. 3:1-2)
Vs. 1-2 – Primeiramente, a sabedoria do mundo, sendo oposta à sabedoria de Deus, é contraproducente para o crescimento espiritual dos santos. As ideias humanas da filosofia não só não deram aos santos a verdade de Deus pela qual eles cresceriam, mas elas na verdade impediram seu crescimento! Os coríntios eram uma prova viva disso. Eles eram anões espirituais. Paulo lhes escreveu esta epístola cerca de cinco anos depois de terem se tornados Cristãos, e à época que foi escrita ainda eram muito “criancinhas em Cristo” (ATB)[5]. Isso era para sua vergonha.
[5]  Há três ocasiões em que o apóstolo fala de uma criança de uma maneira indesejável. Os Cristãos judeus ainda estavam nesse estado porque não haviam abandonado as formas e rituais da religião terrena – o judaísmo (Hb 5:11-14). Os coríntios ainda eram criancinhas por causa de seu mundanismo e carnalidade (1 Co 3:1-2 – ATB). E então, em Efésios 4:14, ele fala de uma pessoa que permanece sendo um menino, por não valer-se dos dons dados à Igreja, que ajudam a pessoa a se desenvolver nas coisas de Deus. Nenhum destes é louvável. A única vez que a infância espiritual é aceitável é quando alguém é jovem na fé, sendo recém–salvo (1 Jo 2:18-27). ↑
O apóstolo se refere a três estados nesta parte da epístola. No final do capítulo 2, ele falou daqueles que eram “espirituais” (uma pessoa salva que possui o Espírito e é controlada por Ele) e daqueles que eram “naturais” (uma pessoa perdida que não tem o Espírito). Agora, no capítulo 3, fala daqueles que eram “carnais”. Isso se refere a uma pessoa que é salva, possui o Espírito, mas não vive sob o controle do Espírito.
O problema com a maioria dos coríntios era que estavam em um estado carnal. Isso foi evidenciado pelo fato de que Paulo não lhes podia ministrar “as profundezas de Deus” (“carne” – JND), mas apenas as verdades elementares da fé Cristã (“leite”). Eles simplesmente não estavam em um estado capaz de absorver nada além.
2) Um espírito de rivalidade se desenvolve (Cap. 3:3-9)
Vs. 3-8 – Outro resultado negativo de se absorver a sabedoria do mundo é que ela estimula e promove a contenda na assembleia. Tomar partido, é claro, não promove unidade divina, mas, ao contrário, estimula a carne com “inveja e contenda” (v. 3). Os coríntios copiaram, dos fundadores de certas escolas de pensamento, as maneiras do mundo de se exaltar, dizendo: “Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo”. Isso levou ao orgulho partidário – cada um buscando defender seu mestre favorito. Essa rivalidade polarizou os santos (“divisões”) e apenas confirmou seu estado carnal (v. 4).
Quando há águas turbulentas (contenda e divisões) em uma assembleia local, isso indica que a assembleia está em um estado fraco ou “carnal”. Se os santos são distraídos com brigas internas e problemas no meio deles, não podem se alimentar e crescer. É imperativo, portanto, que haja “águas tranquilas” na assembleia (Sl 23:2).
O apóstolo explica que os mestres dotados em seu meio não deveriam se colocar em rivalidade uns contra os outros. Cada um tinha um lugar diferente para ocupar no corpo, e cada um tinha um serviço diferente para cumprir. Foi o Senhor Quem lhes deu os seus distintos dons e, portanto, era impossível compará-los quando havia tal diversidade de serviços (v. 5 – ARA).
Longe de colocar os trabalhadores em rivalidade, Paulo mostra que devem estar unidos em seus labores. Ele fala de si mesmo e de Apolo como um exemplo. Um “plantou” e o outro “regou”. Seus trabalhos se complementavam um ao outro. Eles não estavam competindo entre si como rivais; eles trabalhavam juntos para o mesmo fim comum. Além disso, quaisquer resultados que seus trabalhos produzissem não seriam, de qualquer maneira, seus feitos; era apenas o resultado de Deus trabalhando. Ele diz: “Deus deu o crescimento”. Portanto, estava completamente fora de lugar exaltar os servos do Senhor quando era realmente tudo trabalho de Deus (v. 6).
Os servos do Senhor não deveriam se ver como “alguma coisa”, seja ele quem “planta” ou aquele que “rega” (vs. 7-8). Se vamos ser usados por Ele em Sua vinha, precisamos nos ver como não sendo nada. O apóstolo disse: “Quem é Paulo?” Este é o espírito correto de se ter. Uma das coisas que Deus faz no treinamento de Seus servos é reduzi-los a um tamanho útil. Se formos muito grandes aos nossos olhos, ou aos olhos dos santos, provavelmente não seremos usados pelo Senhor de maneira apreciável. Se aqueles que servem se veem como algo importante entre o povo de Deus, isso poderia atrair o orgulho daqueles que os procuram para ministério, e levá-los a se gloriar nesses servos, o que, por sua vez, poderia levar à formação de um partido. Um irmão mais velho, que foi muito usado pelo Senhor em sua vida, foi perguntado quando o Senhor começou a usá-lo. Ele respondeu: “Quando percebi que Ele não precisava de mim!” Isso é algo importante de se entender para todos os que servem ao Senhor. Ele não precisa de nenhum de nós, mesmo que tenha prazer em usar-nos às vezes. Quando Ele o faz, devemos considerar isso um privilégio e procurar realizá-lo com humildade.
3) Traz contaminação mundana à casa de Deus e uma perda de galardão (Cap. 3:10-17)
Vs. 9-17 – Uma terceira consequência negativa ao se assimilar e apresentar sabedoria mundana é que ela traz corrupção para a casa de Deus, o que resulta em uma perda de galardão para o trabalhador.
O apóstolo mostra que, ao trabalhar na casa de Deus, é possível construir com material ruim que não alcançará a aprovação do Senhor. Isso leva o apóstolo a falar da qualidade do trabalho com que se deve laborar a fim alcançar a aprovação do Senhor. O trabalho de cada servo será revisto no tribunal de Cristo. Paulo aponta para o fato solene de que quando nossas obras forem revisadas, poderemos “sofrer detrimento”. Promover a sabedoria mundana e apoiar a divisão entre os santos é energia desperdiçada que de outra forma poderia ser usada para edificar a casa de Deus. Isso não resistirá ao teste do tribunal de Cristo. Todos os que agirem assim “sofrerão detrimento”.
V. 9 – Duas figuras são usadas para descrever a esfera na qual os servos do Senhor devem trabalhar para Ele. Uma é a “lavoura de Deus” (uma vinha); a outra é o “edifício de Deus” (uma casa). Eles apresentam dois aspectos da esfera do trabalhador. Os versículos seguintes enfocam particularmente o aspecto da casa (1 Tm 3:15).
Vs. 10-11 – Há dois aspectos para a assembleia como a casa de Deus. Primeiramente, os crentes são vistos como “pedras vivas” na casa (Mt 16:18; Ef 2:20-21; 1 Pe 2:5; Hb 3:6). Cristo é visto como o Construtor (Mt 16:18), e todos os que compõem a casa neste aspecto são verdadeiros. Em segundo lugar, há o aspecto da casa de Deus onde a profissão está incluída (Ef 2:22; 1 Tm 3:15; 2 Tm 2:20-21). Isto é, abrange todos os que professam Cristo, sejam eles verdadeiramente salvos ou não. Os homens são vistos como tendo parte no edifício e, portanto, existe a possibilidade de materiais ruins estarem na construção da casa. Paulo diz: “mas veja cada um como edifica sobre ele”. Tudo o que é construído deve estar de acordo com “o fundamento”, que é o próprio Cristo, a fim de alcançar a aprovação de Deus (v. 11). Isso significa que há responsabilidade ligada em se trabalhar na casa de Deus.
Três tipos de bom e três tipos de mau material
Vs. 12-13 – Os coríntios precisavam entender que, embora alguns da assembleia tivessem assumido o papel de ensinar, isso não significava que estavam necessariamente trabalhando com a aprovação de Deus. Alguém pode estar fazendo (o que ele acha que é) uma obra para Deus, mas não é uma obra de Deus – isto é, Deus não é o Autor dela. Paulo, portanto, indica que há pessoas que podem trabalhar ou construir na casa de Deus com materiais que são totalmente inadequados. Boas intenções não são os critérios para a aprovação de Deus, mas se está de acordo com a verdade.
Ele se refere a três tipos de materiais bons que são figurativos do trabalho que alcançam a aprovação do Senhor.
- “Ouro” – fala da glória de Deus; isto é, trabalhos que pertencem à exaltação da glória de Deus em Cristo.
- “Prata” – fala da obra de redenção de Cristo (Êx 30:12-16); isto é, trabalhos que ajudam a estabelecer as almas nas bênçãos do evangelho.
- “Pedras Preciosas” – fala da formação de Cristo nos santos de Deus (Ml 3:17); isto é, trabalhos que ajudam o aperfeiçoamento dos santos em sua caminhada com o Senhor.
Ele também se refere a três tipos de materiais maus que são figurativos do trabalho que não alcançarão a aprovação do Senhor. É triste dizer que os coríntios haviam trazido todas essas três coisas para a assembleia.
- “Madeira” – fala do que é natural e meramente humano (Am 2:9; Mc 8:24; Lc 3:9; Is 2:12-13, 7:2, 10:16-19).
- “Feno” – fala do que é carnal (Is 40:6; 1 Pe 1:24).
- “Palha” – fala do que é positivamente mau (Jó 21:17-18; Ml 4:1).
Três tipos de construtores na casa de Deus
Paulo fala então de três tipos de construtores na casa de Deus. Cada um desses construtores é indicado no texto pelas palavras: “Se a obra de alguém…” (vs. 14-15, 17).
V. 14 – Um bom construtor é um crente temente a Deus que se esforça “legitimamente” em seus trabalhos (2 Tm 2:5). Paulo fala de si mesmo como sendo “sábio arquiteto” sob Cristo, colocando “o fundamento” em Corinto, primeiro pregando o evangelho pelo qual eles foram salvos (v. 10). Ele seria um exemplo de um bom construtor. Ele procurou trabalhar de acordo com os princípios da Palavra de Deus e, portanto, seu trabalho resistirá ao teste do tribunal de Cristo. “Ele receberá galardão”.
V. 15 – Um mau construtor é um verdadeiro crente, mas trabalha com seus próprios princípios em ignorância ou desafio à Palavra de Deus. “Sofrerá detrimento; mas o tal será salvo”.
Vs. 16-17 – Um construtor corrupto é aquele que não é salvo, e ele contamina a casa de Deus por sua presença e doutrinas. Os trabalhos dos que são desta classe geralmente são os que atacam a Pessoa e a obra de Cristo, ou minam a fé Cristã de alguma forma.
“O Espírito de Deus” habita na casa de Deus, o templo de Deus. Ele não apenas habita nos santos, mas também habita entre eles coletivamente – que é o aspecto da presença do Espírito aqui (veja também Jo 14:17 – “convosco” e “em vós”). “Vós” em nosso texto (v. 16) é plural e refere-se aos santos coletivamente. Isso significa que é possível para uma pessoa perdida (um mero professante) estar entre os santos e onde o Espírito de Deus está trabalhando. Ele é assim feito participante do Espírito Santo de maneira exterior[6] Mas porque ele ocupa um lugar privilegiado na casa de Deus, é considerado responsável por suas ações, e seu fim é o julgamento – “Deus o destruirá”. O rei Acaz é um tipo de alguém que contamina a casa de Deus como um construtor corrupto (2 Rs 16:10-16).
[6]  Ele participa do Espírito somente de uma maneira exterior. Há duas palavras no grego para a palavra “participar” que não são distinguidas na tradução para o inglês. Uma (koinoneo), refere–se a um compartilhamento igual, completo e comum, em alguma coisa. A outra (metecho), indica um compartilhamento, mas não especifica em que grau o compartilhamento ocorre, implicando um mero compartilhamento superficial. É metecho que é usado em Hebreus 6:4 em conexão com meros professantes vazios participando do Espírito ↑
O apóstolo usa a expressão “não sabeis vós” dez vezes na epístola. Os coríntios se gloriaram em seu conhecimento, mas é espantoso o que não sabiam. Parece que eles não sabiam que:
- Os santos coletivamente são o templo de Deus – cap. 3:16
- Um pouco de fermento leveda toda a massa – cap. 5:6
- Os santos julgarão o mundo – cap. 6:2
- Os santos julgarão os anjos – cap. 6:3
- Os injustos não herdarão o reino de Deus – cap. 6:9.
- Os corpos dos santos são membros de Cristo – cap. 6:15.
- Quem se une a uma meretriz é um só corpo com ela – cap. 6:16.
- Os corpos dos santos são o templo do Espírito Santo – cap. 6:19
- Os que administram o que é sagrado vivem das coisas que foram oferecidas – cap. 9:13
- Os que correm em uma corrida correm contra todos os participantes – cap. 9:24.
