Origem: Livro: DISCIPLINA CRISTÃ

Corinto

Em 1 Coríntios 5 temos a apropriada disciplina da assembleia como tal, em seu caráter completo, isto é, Cristo como Filho sobre Sua própria casa, por meio de Seu apóstolo da Igreja lembrando aos santos em Corinto sua responsabilidade de purificar Sua casa da contaminação (Jo 2:13-17), despertando-os assim para o senso do seu dever sob a graça de “Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo”.

O câncer do espírito partidário minou a Igreja de Corinto a tal ponto que toda verdadeira bênção se tornou quase impossível. Apenas alguns, como Estéfanas e sua família, Acaico e Fortunato, pareciam ter-se mantido sem contaminação em meio ao fermento que levedara quase toda a massa, e que fez sentir seus efeitos perniciosos em todas as direções, inclusive se estendendo até mesmo à mesa do Senhor, onde muitos não discerniam mais o corpo do Senhor. Esse terrível pecado de profanação foi visitado pelo Senhor em alguns casos com doenças e em outros até com a morte.

Existe uma lei natural bem conhecida, que diz que quanto mais delicada, terna e excelente for uma coisa, mais rápida e completa será a sua corrupção. Pela mesma razão, um apóstata cai num grau mais baixo de degradação moral do que muitos homens não convertidos, entregando-se a pecados os quais os incrédulos se envergonhariam. Assim foi em Corinto. O câncer do espírito partidário, com suas paixões concomitantes de vaidade, vanglória e ciúme, minou tão completamente a base Cristã originalmente sólida na Igreja de Corinto, que eles não apenas ficaram individualmente orgulhosos em si mesmos, mas entre si e uns contra os outros; os diferentes partidos comparando-se entre si e exaltando-se uns acima dos outros, em vez de em humildade considerarem-se uns aos outros melhores do que si mesmos. Quanto maior o orgulho, mais profunda será a queda. Assim aconteceu em Corinto. Um pecado de caráter tão vergonhoso e antinatural, que nem mesmo entre os gentios havia, foi cometido no meio deles. Mas em vez de se lançarem com muitas lágrimas diante do Senhor, como fez Esdras e aqueles que estavam com ele, que tremeram com as Palavras do Deus de Israel por causa da infidelidade daqueles que foram levados cativos, e em vez de dizerem a cada um: “Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a Ti a minha face, meu Deus, porque as nossas iniquidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem crescido até aos céus Nós temos transgredido contra o nosso Deus mas, no tocante a isso, ainda há esperança e agora que coloquemos fora” (Ed 9:6; 10:2; 10:3 – JND), os coríntios continuaram a ficar orgulhosos, e Paulo lhes diz: “nem ao menos vos entristecestes, por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação”.

Cristo, como Filho sobre Sua própria casa, interveio por meio de Seu apóstolo a fim de manter tanto Sua própria autoridade desconsiderada quanto a pureza de Sua casa. Paulo, em virtude da autoridade apostólica que lhe foi concedida pelo Cabeça da Igreja, foi, portanto, obrigado a escrever aos coríntios. “Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus”.

Mas Paulo agiu aqui em virtude da sua autoridade apostólica, não exatamente como Pedro fez com Ananias e Safira, pois em Corinto o pecado a ser tratado era conhecido por todos, o que não aconteceu no de Ananias e Safira. Tornou-se, portanto, necessário que a Igreja de Corinto, como tal, em sua responsabilidade pela santidade e pureza, tornando-se a “casa do Deus vivo”, participasse da colocação do mal fora, o que deu a esse ato solene o caráter não apenas de disciplina apostólica, mas de disciplina da assembleia[6]. Paulo, portanto, embora falando com plena autoridade de apóstolo do Senhor Jesus Cristo (como Cabeça da Igreja e Filho sobre Sua própria casa), e como apóstolo da Igreja, “em nome do Senhor Jesus Cristo”, ao mesmo tempo, como membro da Igreja, que é o corpo de Jesus Cristo, assumiu seu lugar comum entre eles na assembleia, acrescentando: “juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus”.
[6] O malfeitor, o “iníquo”, não deveria apenas ser afastado da mesa do Senhor, mas “dentre vós”. É dito a eles que “com o tal nem ainda comais”.

Naquele grande e honrado servo de Cristo percebemos, em belo uníssono, autoridade apostólica, humildade Cristã, graça e sabedoria, para despertar o coração e a consciência dos coríntios, tão cegos pelo inimigo, para fazerem o que era devido a Deus e Seu Filho, como Cabeça da Igreja, e para obter o resultado desejado para a própria glória de Deus e sua bênção comum, e para a restauração daquele que caiu.

Que Deus conceda à Sua Igreja, nestes dias perigosos e difíceis de declínio, graça e sabedoria, bem como decisão e fidelidade em seguir o exemplo de Seu grande, porém humilde, apóstolo. Nestes dias de espírito partidário religioso, carnalidade e mundanismo (onde o exercício da verdadeira disciplina piedosa no temor e no amor de Deus e de Cristo se torna mais difícil do que nunca, embora nem por isso menos obrigatória por esse motivo), os mestres e pastores, dados pelo Cabeça da Igreja, farão bem em se lembrar (no caso da necessidade de disciplina da assembleia, algo tão triste e humilhante para todos nós) que eles são “irmãos”, assim como pastores e mestres. Em tais ocasiões angustiantes, não haverá nenhum proveito dirigir-se à consciências adormecidas, com autoridade quase apostólica, para despertá-las da sua condição dormente. Este não é o caminho nem para o coração nem para a conciência deles. Uma disciplina da assembleia realizada desta maneira não produzirá “frutos pacíficos de justiça”, mas exatamente o oposto. Este não é o espírito do “Filho sobre a sua própria casa”, que lavou os pés até mesmo de um Judas, antes de exercer a disciplina, nem é o espírito do Seu apóstolo, que se autodenominava “menor do que o mínimo de todos os santos” (Ef 3:8 – TB) e falou até chorando daqueles “que são inimigos da cruz de Cristo”. O caminho para a consciência passa pelo coração, e se não soubermos como encontrar o caminho para o coração de um irmão, não encontraremos o caminho para a sua consciência (2 Pe 3:1; Jo 21:15-17).

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