Origem: Livro: Os Patriarcas
A corrupção de Caim
Caim é declarado pelo Espírito de Deus no apóstolo como sendo “do maligno”. A primeira coisa que vemos nele é sua religião. Ele rende a Deus, como oferta ou sacrifício, o fruto do solo amaldiçoado, o produto de sua própria labuta. Mas isso era incredulidade. Foi a negação de tudo o que aconteceu desde a criação, a negação religiosa dela. Foi a contradição direta do caminho da fé, ou de Abel. Abel tomou o caminho da promessa a Deus, a vitória sangrenta da Semente da mulher, a morte e ressurreição de Cristo, e ofereceu do seu rebanho; mas Caim recusou ver a ruína do homem e a redenção de Deus, dando a Deus o fruto da terra; na verdade, dizendo que Ele deveria ser entendido e conhecido nos espinhos e nos cardos, no suor, na tristeza e na morte; e pelos serviços formais do seu altar ele estava negando toda verdade.
Este era o caminho de um coração profundamente afastado de Deus. Ele estava colocando o cenário de ruína à porta de Deus, assim como Adão, antes de se arrepender, havia depositado ali o próprio pecado.
Seu próximo caminho está em terrível sintonia com tudo isso. Ele odeia seu irmão, sendo daquele maligno que é um homicida (Jo 8:44), e no devido tempo ele o mata.
Tremendo fruto da natureza apóstata e desviada. Ele foi o primeiro daquela geração que entregou Jesus para ser crucificado – hipócrita e homicida. Por inveja os Judeus entregaram Jesus; e Caim matou Abel porque as suas próprias obras eram más e as de seu irmão justas. Este é o mundo. “Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos aborrece. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; quem não ama a seu irmão permanece na morte. Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna”.
O Senhor pleiteou com ele (veja Gênesis 4:6-7). Seu coração concebeu o pecado, mas sua mão não produziu fruto para a morte; e com uma voz de longanimidade, graça e advertência, o Senhor pleiteou com ele. A graça foi desprezada; esta graça de suplicar-lhe na última hora, assim como a graça da promessa já havia sido desprezada antes.
“E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” A luz que o Senhor Jesus estava trazendo Consigo era a luz da vida ou salvação (Is 49:6; Jo 8:12). E esta foi a luz que Caim odiou e recusou.
Existe a luz da justiça ou santidade. Mas a recusa dela não é irremediável. Naquela luz, o Senhor Deus entrou no jardim e perguntou a Adão: “onde estás?” Adão não pôde suportar, pois ele havia pecado. Era intolerável para ele. Ele estava aquém dessa glória. Ele se retira dela. E então o Senhor Deus brilha em outra luz. A promessa é feita. O caráter da glória é mudado. Deus Se assenta em uma luz à qual o pecador pode se aproximar e, crendo, Adão aparece.
Esta foi a luz que Caim desprezou, a luz da salvação, a luz da promessa, a luz na qual Deus brilha diante dos homens fora do jardim. E Caim é, portanto, amaldiçoado como Adão não foi. Como é dito de outra geração: “Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e desaparecei”.
Tudo isso é a história solene do primeiro incrédulo. Mas o tesouro da natureza corrupta que havia nele se gasta em outras formas de maldade. Nele estava nascendo aquela fonte que iria liberar seu “acúmulo de malícia”. Ele mente depois de tudo isso e se justifica. “Não sei”, diz ele; “sou eu guardador do meu irmão?” Pois ele queria “satisfazer os desejos” daquele que era seu “pai”; e quando o diabo “profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”.
