Origem: Livro: AUTOESTIMA
“Cristo Vive em Mim”
Vimos que a verdadeira posição do Cristão é de estar morto, sepultado e ressuscitado com Cristo. No que diz respeito ao pecado, Deus o condenou na cruz. Na morte de Cristo, Deus viu a crucificação do meu velho homem, e a cruz foi o fim de tudo que eu era como criatura pecaminosa da raça de Adão. Agora, estou habilitado assumir essa posição na prática e me considerar “como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). Com essa bendita verdade em mente, podemos ir adiante e ver a verdadeira resposta bíblica sobre a autoestima.
O título deste capítulo vem de um versículo em Gálatas: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, O qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20).
A sabedoria deste mundo, como já vimos, diz que devemos desenvolver nossas boas qualidades e perceber qual é o nosso potencial. Devemos perceber que somos pessoas valiosas e que temos uma contribuição a fazer. É-nos dito que devemos ter fé em nós mesmos. Já comentamos que há algum mérito em reconhecermos nossas habilidades dadas por Deus, mas, a menos que o fator do pecado seja considerado e tratado, tal ensinamento nunca resolverá o problema da autoestima.
Ocupação com nós mesmos sempre resultará em orgulho ou em desapontamento. Tudo foi contaminado pelo pecado, e nós ou nos orgulharemos pelo que somos, ou ficaremos deprimidos pelo que não somos. Sem dúvida, em alguns casos tal ensinamento desenvolverá a qualidade ou habilidade em um indivíduo, de modo que as pessoas irão dizer que ele funciona. Entretanto, tal abordagem nunca poderá nos levar além da esfera de nós mesmos. A base para isso é tão frágil, e pode ser perdida facilmente. Aquele que está ocupado consigo mesmo nunca será verdadeiramente feliz.
O que precisamos é permitir que Gálatas 2:20 controle nossa alma. Precisamos perceber o que é “[eu] já estou crucificado com Cristo”, O “eu” aqui é o que eu era antes de ser salvo, o “eu” que eu era como filho de Adão e membro de uma raça pecadora e caída. Tendo uma nova vida em Cristo, estou habilitado a dizer que o velho “eu” realmente não é mais quem eu sou. Diante de Deus, estou “em Cristo” e devo deixar a nova vida que Cristo deu a mim ser o “eu” de agora em diante. Como isso é realmente vida em Cristo, posso verdadeiramente dizer: “Cristo vive em mim”.
Deus testou o homem ao longo de todo o Velho Testamento, e todos os Seus testes provaram apenas a absoluta ruína do homem em sua condição caída. Agora Deus terminou com o “primeiro homem” e está começando novamente com o Seu Homem, o Senhor Jesus Cristo. A maravilhosa verdade é que, quando o primeiro homem (Adão, e por fim, nós mesmos) falhou em tudo que Deus lhe confiou, Deus trouxe o Seu Homem, o Senhor Jesus Cristo. Cristo foi fiel em todas as áreas onde o primeiro homem falhou, e todos os propósitos de Deus serão cumpridos num Homem, Seu próprio Filho amado. Este é o significado do Salmo 8:4-5, que diz: “Que é o homem mortal para que Te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco menor O fizeste do que os anjos e de glória e de honra O coroaste”. Em maravilhosa graça Deus escolheu nos associar a Ele, e nos deu nova vida n’Ele! Em vez de esperar algo do homem, Deus está colocando algo nele. A resposta de Deus não é autoestima, mas “estima por Cristo”!
Li uma história há algum tempo, que acho que ilustra muito bem o ponto. Havia uma jovem que teve uma criação muito difícil. Alguns de vocês podem se identificar com isso. Ela ouvia de seus pais e de outros que ela não fazia nada certo e, como resultado, teve sérios problemas quando chegou ao início da idade adulta. Para um observador ocasional, ela parecia ter muitas coisas a seu favor. Ela era atraente, tinha bastante habilidade natural e era uma verdadeira Cristã, mas ela simplesmente parecia não conseguir superar a ideia de que ela era inútil. Ela foi ao psiquiatra e a todo tipo de grupos de autoajuda, mas nada parecia mudar. Finalmente, ela veio até um homem Cristão que estava preparado para ouvir sua história e tentar ajudá-la. Ela lhe contou sua situação, como parecia que nunca conseguia fazer nada certo, e concluiu dizendo: “Eu simplesmente me sinto tão inútil o tempo todo”.
Após ouvir atentamente por um longo tempo, ele olhou para ela e disse mansa e gentilmente: “Talvez você seja inútil”. Ele estava se referindo, com certeza, à sua natureza pecaminosa, não às suas habilidades dadas por Deus. Você pode imaginar a reação dela. Ela olhou para ele com raiva em seus olhos, e disse: “Ninguém nunca falou comigo assim antes! Meu psiquiatra sempre me diz que sou uma pessoa valiosa, que tenho que acreditar em mim mesma, que…”. Então, ele a interrompeu, perguntando: “E isso funcionou?” “Não”, ela respondeu, “mas eu não estou pronta para desistir de mim mesma ainda!”
Devemos estar prontos para desistir de nós mesmos quanto à nossa natureza pecaminosa, se é para Cristo viver em nós. Tivemos que chegar ao fim de nós mesmos para sermos salvos, e temos que perceber a absoluta ruína do “velho homem” se quisermos andar como Cristãos da maneira correta. Enquanto estivermos focados em nós mesmos, as coisas nunca estarão certas. Deus quer que nossa nova vida em Cristo seja expressa de forma prática em nós.
Talvez digamos: “Oh, eu tentei, mas não adiantou. Simplesmente não consigo fazer isso”. Então, somos como o homem em Romanos 7, que estava tentando fazer isso em sua própria força. Sempre haverá uma luta, e sempre perderemos até que nos apropriemos do que Cristo fez por nós na cruz. Assim como tivemos fé de que o sangue de Cristo foi suficiente para tirar nossos pecados, também devemos ter fé de que nosso “velho homem” foi crucificado com Cristo. Nos dois casos a fé conta com a avaliação de Deus quanto à obra consumada de Cristo. A fé crê no que, aos olhos de Deus, é um fato já consumado – que, na morte de Cristo, eu morri para o pecado. Então, tenho o poder para agir conforme Romanos 6:9, e me considerar morto na prática. Assim, adoto a visão que Deus tem de mim, de que o verdadeiro “eu” é agora o novo homem, a nova vida que possuo em Cristo.
Se tenho nova vida em Cristo, é possível que eu possa falhar em alguma coisa que Deus dá ao novo “eu” para fazer? Não, pois todos os recursos de Deus estão disponíveis para aquele que anda no caminho da obediência e permite que a nova vida em Cristo se expresse. Isso parece elementar, e ainda assim é um fato surpreendente. A nova vida, que sempre age para agradar a Deus, não pode falhar em nada do que faz.
No entanto, o desafio de permitir que a nova vida se manifeste em nossa vida é provavelmente a maior dificuldade que todo Cristão tem. Como aquela jovem a quem me referi, não estamos prontos para desistir de nós mesmos e reconhecer que nossa natureza pecaminosa não pode fazer nada para agradar a Deus. Queremos ser mais como Cristo. Falamos sobre isso, talvez cantemos sobre isso, mas o ponto principal é que nós gostamos demais de nós mesmos. Não é de amor-próprio que necessitamos, pois isso só me ocupará com o que sou por natureza. O antídoto é estar ocupado com Cristo e desfrutando de Seu amor em nosso coração. Então, estarei ocupado com o que Ele é, e não com o que eu sou.
Vemos um exemplo de como aprender a desviar o olhar de nós mesmos e olhar para o Senhor na vida de Gideão. O Senhor havia entregado os filhos de Israel nas mãos dos midianitas por causa dos pecados deles. Quando o anjo do Senhor se aproximou de Gideão e lhe disse que o Senhor iria usá-lo para libertar Israel, sua resposta foi: “Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai” (Jz 6:15). Mas ele estava disposto a ser obediente, e o Senhor o guiou gentilmente. Quando ele ainda não conseguiu ser persuadido a seguir adiante, o Senhor graciosamente respondeu quando ele colocou o velo de lã em duas ocasiões distintas. Então, para mostrar que deveria ser feito em Sua força, o Senhor reduziu seu exército para apenas trezentos homens. Finalmente, Ele disse a Gideão que descesse ao arraial dos midianitas, e lá ele ouviu uma conversa dentro de uma tenda que o convenceu de que o Senhor iria dar-lhe a vitória. Gideão obteve a vitória, mas de tal forma que o Senhor ficou com toda a glória. Gideão não tinha nada de que se gloriar, pois era claramente a mão do Senhor. Ele exemplificou a Escritura: “quando estou fraco, então, sou forte” (2 Co 12:10).
Após a vitória, quando os homens de Efraim ficaram contrariados com Gideão, porque sentiram que ele não lhes havia dado o lugar de honra, a atitude correta de Gideão foi demonstrada na sua resposta para eles. Em vez de o orgulho se mostrar, a graça deu-lhes crédito por aquilo que haviam feito, enquanto Gideão assumiu uma posição humilde. O sentimento ruim “se abrandou para com ele”, porque Gideão não queria nenhum crédito para si, mas ficou feliz em dá-los aos outros. Mais tarde, quando os homens de Israel queriam que Gideão governasse sobre eles, ele recusou, dizendo que o Senhor deveria governar sobre eles.
Compare isso com Jefté, alguns anos depois, que evidentemente tinha um problema real com o orgulho. Ele se recusou a liderar o povo em batalha contra os filhos de Amom, a menos que eles prometessem fazê-lo cabeça sobre eles se ele os livrasse. Então, quando os mesmos homens de Efraim ficaram contrariados novamente, Jefté respondeu-lhes asperamente, e uma guerra civil se seguiu, na qual quarenta e dois mil foram mortos. O mundo diria que tanto Jefté quanto os homens de Efraim tinham baixa autoestima, mas orgulho é a palavra certa aqui.
“Ah”, você diz, “mas, se eu não tivesse algum orgulho de mim mesmo, não me preocuparia com minha aparência, em fazer um bom trabalho em meu emprego, em cuidar da minha casa, etc.” Certa vez, meu falecido sogro me contou que, quando jovem, ele fez a mesma pergunta a seu pai. A resposta de seu pai foi: “Filho, se você lembrar que, toda vez que você sai por aquela porta e desce a rua, toda vez que vai para o trabalho, toda vez que você interage com os outros de alguma forma, você é um filho de Deus e que tudo que você faz e diz reflete sobre Aquele a Quem você pertence, isso cuidará de todas essas coisas, tal como sua aparência, trabalho, etc., mas sem dar qualquer espaço para o orgulho. Se você lembrar que você foi enviado ao mundo para agradar ao Senhor, você fará todas essas coisas da maneira correta, mas com um Objeto fora de você mesmo”.