Origem: Livro: Breves Meditações

Dia da Visitação – Betsaida

A Escritura contempla um dia ou tempo de visitação (Jeremias 8:12; Lucas 19:44; 1 Pedro 2:12).

Tal dia pode chegar para um indivíduo (1 Pedro 2); ou para uma cidade (Lucas 19); ou para uma nação (Jeremias 8).

Ou é em misericórdia (Lucas 19; 1 Pedro 2) ou em julgamento (Jeremias 8).

E novamente; pode ser usado para glorificar a Deus por meio da visitação (1 Pedro 2), ou pode ser para desprezo. (Lucas 19)

A visitação em misericórdia precede a visitação em julgamento – e o intervalo pode ser longo ou curto. Vemos isso na história moral de diferentes nações – como Egito, Israel e o próprio mundo.

Quanto ao Egito, José foi entregue àquela terra por misericórdia, e por meio dele Deus a tornou a cabeça das nações e o celeiro de toda a Terra. Mas José foi esquecido, a misericórdia foi menosprezada, e então Moisés e as pragas foram enviados.

Quanto a Israel, Jesus foi dado, o Messias foi enviado, a cura foi dispensada e as bênçãos da aliança foram trazidas à porta. Mas Jesus foi rejeitado, e agora a desolação e o cativeiro se sucederam.

Quanto ao mundo, a morte de Cristo é agora pregada em sua virtude salvadora, como aquela que satisfez para sempre e plenamente o pecado. Mas, sendo isso menosprezado, a mesma morte de Cristo será visitada em juízo ao mundo que é culpado dela.

Que coerência simples pode ser encontrada nos caminhos de Deus! Que perfeição moral! Que alívio descobri-la em meio a todas as confusões humanas e terrenais!

A visitação em juízo pode não ocorrer, como já observei, até depois de um longo intervalo – como no último caso que eu observei, a história moral do mundo – pois o presente dia da graça perdura muito, de fato, e o juízo está adormecido século após século. Mas, novamente, o intervalo pode ser curto; e vemos isso em duas ocasiões distintas nos tratamentos morais de Deus com Seu povo. O Espírito foi derramado em grande quantidade pouco antes do cativeiro das dez tribos pelos assírios; como sobre os profetas Isaías, Oseias, Miquéias e outros. Ele foi novamente derramado ainda mais amplamente pouco antes do cativeiro de Judá pelos caldeus; como sobre Jeremias, Ezequiel, Habacuque, Sofonias e outros.

Essas coisas são assim. Mas devo acrescentar que tal dia, um dia de visitação, deixa o lugar ou a pessoa, se esse dia for menosprezado, em uma condição pior do que a que os encontrou.

Betsaida, na história do evangelho, creio eu, ilustra isso.

Aquela cidade teve um dia de visitação. Ela havia sido grandemente favorecida. Os prodígios (milagres – ARA) do Senhor haviam sido realizados ali, além da medida comum – e André, Pedro e Filipe, três dos apóstolos do Senhor, pertenciam àquela cidade (veja João 1:44).

Mas tal favor, tal dia de visitação misericordiosa e graciosa, havia sido desprezado. O lugar não se voltara para Aquele que o abençoara. Não se arrependera (Mateus 11:20). Ainda assim, não está totalmente fora do alcance da abundante, embora desprezada, graça de Cristo. O Senhor a visita, depois de tudo isso – e quando a visita, Ele tem Consigo os recursos de Sua graça e poder.

No entanto, a maneira como esses recursos são agora apresentados, depois de terem sido, como vimos, desprezados e não utilizados, é cheia de significado e tem uma grande moral ou lição para nós (Marcos 8:22-26).

Um cego de Betsaida (ou em Betsaida) é levado ao Senhor, e eles rogaram-Lhe que Ele o tocasse.

Certamente um toque ou uma palavra teriam sido suficientes. A cura, obediente ao Senhor da vida, teria ocorrido, e ocorrido imediatamente.

Mas não é assim. Há reserva e demora, um processo mais gradual do que o poder de Cristo (se esse poder se sentisse plenamente livre para agir) teria exigido, ou do que jamais exigiu em qualquer ocasião anterior. Temos que notar isso com cuidado.

Ele toma o cego pela mão e o conduz para fora da aldeia. Isso foi significativo. Betsaida, naquele momento, havia perdido o direito de ver as obras de Cristo. Pois Ele havia chamado, e aquele lugar não havia respondido. Ele já havia realizado Suas obras ali, e eles não haviam se arrependido. Ele agora leva o cego para fora da aldeia; como outrora Moisés havia tirado o tabernáculo do Senhor do arraial (Êxodo 33). Ambos os atos foram judiciais. Eles falavam de uma distância que o Senhor agora, em justiça, havia tomado, fosse do arraial ou da aldeia.

Mas essa reserva ou distância deixou cada israelita em liberdade para buscar o Senhor no tabernáculo fora do arraial – e aqui esse cego de Betsaida pode encontrar o poder curador de Cristo fora da aldeia.

Que consistência nos caminhos de Deus! Como eles brilham intensamente! Como a glória divina está estampada na grande matéria ou substância da Escritura, e como ela brilha no próprio tom ou estilo da Escritura!

Mas, embora este homem de Betsaida encontre a virtude curadora do Senhor, isso deve ser feito de uma maneira que se distinguirá de forma notável.

Ele cuspiu em seus olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou-lhe “se via alguma coisa”. Isso era estranho e peculiar. Teria o Senhor, alguma vez antes, questionado Seu poder? Teria já hesitado quanto à perfeição de Seus atos? Não – nem hesita agora, embora Suas palavras possam soar assim. Ele não questionou Seu poder, nem ignorava a condição atual deste pobre homem. Mas Ele deve e dará caráter a esta ocasião. Foi um momento especial, e Ele fará com que o momento se destaque. Ele queria que agora se soubesse que a misericórdia menosprezada é sensível. E assim deveria ser. Também é assim conosco, se nós mesmos formos os juízes. Iríamos repetir nossas gentilezas e serviços àqueles que já os desprezaram e desconsideraram, sem ao menos deixar claro que sentimos algo? Que a bondade seja exercida certamente, mas é moralmente apropriado que algumas expressões a acompanhem. E se é assim conosco, também é com Deus. Todo o curso do Livro dos Juízes nos permite saber disso. Cada libertador sucessivo é levantado em favor de Israel com crescente reserva porque Israel vinha pecando contra as misericórdias anteriores. E assim acontece com o Senhor Jesus em Seus atos com esta aldeia da Galileia.

A cura prossegue lentamente. À pergunta, se ele via alguma coisa, o homem tem que responder: “Vejo os homens; pois os vejo como árvores que andam”.

Isso ainda é estranho! Como tudo sinaliza este caso! Não foi assim com o cego de Jericó, ou com o mendigo cego no capítulo nove de João. Um deles precisa apenas dizer: “Fui, e lavei-me, e vi”. E dos outros está escrito: “Jesus, movido de compaixão, tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista, e O seguiram” (AIBB). Mas aqui a cura é adiada e trabalhosa. Jesus ainda precisa agir. Ele impôs as mãos uma segunda vez sobre ele e então o fez olhar para cima. E então, mas só então, só no final desse longo processo, ele foi restaurado. Isto é, ele não foi totalmente submetido à graça e ao poder do Filho de Deus; pois essa é a nossa restauração, tornando-nos nada menos do que aquela graça e poder queriam que fôssemos e nos tornassemos. “E viu cada homem claramente”.

Narrativa valiosa, séria e profunda! Como todos os Seus atos, nos dias de Sua carne aqui entre nós, ilustram algum segredo da graça e sabedoria divinas! Oh, a maravilhosa variedade e plenitude moral que se encontram na Escritura! Betsaida não era um material novo nas mãos de Cristo. Fora infiel a Ele, e ela deve saber que isso é sentido por Ele, embora Sua graça seja abundante.

E quando a misericórdia é aperfeiçoada, e o cego vê cada homem claramente, o Senhor encerra a cena dizendo-lhe: “Nem entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia”. E isso ainda é característico de todo o resto. Como aldeia, os dias de Betsaida já haviam passado. “Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos”. Sua condição estava selada. O juízo por causa da misericórdia desprezada estava diante dela – como o Senhor já havia claramente dito em Mateus 11:22. Por isso, agora é dito: “Nem entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia”.

Assim é, mas em contraste com este caso, posso dizer: Oh, que conforto se encontra muitas vezes em um material novo. O próprio Senhor encontrou assim o conforto; o Espírito ainda o encontra; e nós, os santos de Deus, o encontramos assim – tão certamente quanto muitos exemplos da obra divina nestes dias atuais de reavivamento ou visitação podem nos lembrar.

O próprio Senhor assim o encontrou. E isso aconteceu com Ele em Samaria. Quão livre e feliz Ele estava ali, seja no poço de Jacó, seja na aldeia de Sicar! Ele esteve lá, como que em casa, por dois dias; pois o solo havia sido arado e visitado recentemente. Pecadores estavam aprendendo a salvação, e a fé deles Lhe ofereceu um banquete. Ele tinha comida para comer ali, que não Lhe seria fornecida nem mesmo pela diligência daqueles que estavam constantemente com Ele.

O Espírito ainda encontra isso assim. Ele quer que sempre “como crianças recém-nascidas” (ARA), cheguemos com frescor de paladar e desejo ao leite da Palavra que Ele mesmo preparou e providenciou para nós (1 Pedro 2:2).

E nós mesmos encontramos isso – como já indiquei em nossa experiência deste dia presente, pelo qual estamos passando – na graça de Deus.

O Senhor Jesus Se convidou para a casa e hospitalidade de Zaqueu, que estava então em seu frescor, com a florada da primeira afeição sobre ele, mas “Ele fez como quem ia para mais longe”, quando chegou à casa daqueles que estavam há muito tempo caminhando com Ele, mas que estavam apenas raciocinando com pensamentos que vinham do coração deles.

Certamente posso dizer novamente: Oh, a maravilhosa variedade moral que se encontra no Livro de Deus! E que expressões de segredos divinos, os segredos da graça e da sabedoria, que indicações de simpatias e sensibilidades divinas obtemos no caminho do Espírito do Senhor através das circunstâncias da vida, à medida que Ele passava por elas dia após dia!

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