Origem: Livro: Os Patriarcas
Dignidade da fé
Mas há outra coisa a ser notada nesta ocasião: é Jacó quem oferece o sacrifício.
Isso tem um grande caráter em si. Diz-nos que Jacó conhecia seu lugar e dignidade sob Deus. Labão tinha todas as reivindicações que a natureza, ou a carne ou o parentesco poderiam conferir, mas Jacó age apesar delas. Labão era o mais velho; ele era o senhor e o sogro. Mas ainda assim Jacó toma o lugar do “melhor” e oferece o sacrifício, com o mesmo espírito de fé de Abraão ao entrar em concerto com o rei de Gerar (Gn 21); ou como Jetro em Horebe, no meio do Israel de Deus, e na presença de Arão (Êx 18).
Tais casos estão entre os triunfos da fé; e também não são triunfos inferiores. Não é algo fácil conhecer nosso elevado título em Cristo e de forma alguma renunciar a ele, mesmo quando as circunstâncias possam nos humilhar. Jacó estava sob disciplina em Padã-Arã. Ele não tinha altar lá. Diante de Deus ele era mais um penitente do que um adorador. Mas diante de Labão ele se conhece como santo, e aqui, no Monte Gileade, ele tem sua coluna, seu sacrifício e seu banquete, e exerce aquela fé que o encoraja a agir de acordo com sua dignidade de santo e sacerdote de Deus, na presença de todas as reivindicações da carne e do sangue. Eliú, no livro de Jó, embora renunciando a si mesmo diante dos mais velhos, afirma nele a possessão do Espírito, diante das mais elevadas reivindicações da natureza.
É muito encorajador testemunhar tais fragmentos da mente de Cristo nos santos. Jacó nunca suspeitou de seu título em Cristo, do começo ao fim, embora estivesse sob disciplina todos os seus dias. E isto é abençoado – abençoado por ocupar o lugar que a graça, em suas riquezas, em suas excessivas riquezas, em sua glória e em sua abundância, nos dá. Não acredito que se Pedro, em João 21, tivesse o propósito de alcançar o Senhor como um penitente, ele teria corrido em direção a ele como fez. Um penitente teria se aproximado com um passo mais comedido. Mas Pedro não estava pensando em sua recente negação de seu Senhor, mas no próprio Senhor. Seu passo foi, portanto, apressado e mais rápido. Ele havia pecado contra seu Mestre, é verdade, e poderia ter ficado retraído e envergonhado. Mas, é maravilhoso dizê-lo, assim como Pedro, o penitente, não teria empreendido uma jornada tão pronta e tão séria, assim também Pedro, o penitente, não teria, no final dela, sido tão bem-vindo ao seu Mestre, como o confiante, embora errante, Pedro foi. Nisto está a graça e o coração d’Aquele “com Quem estão todos os nossos assuntos agora”.
