Origem: Livro: A Primeira Epístola de Paulo aos CORÍNTIOS
Dois Inimigos da Unidade no Corpo de Cristo (Cap. 12:14-27)
Nos versículos 14 a 24, o apóstolo usa a figura do corpo humano para nos ensinar algumas lições práticas ligadas às manifestações do Espírito no corpo de Cristo. Ele adverte sobre dois inimigos específicos que rompem a unidade em um sentido prático e, assim, impedem as manifestações do Espírito na assembleia.
Descontentamento
Vs. 14-19 – O primeiro inimigo da unidade nasce de um complexo de inferioridade. Isso é descontentamento. O apóstolo usa a figura de um corpo humano para explicar-lhes isso. Ele mostra que nunca há momento em que “o pé” diga que, uma vez que não pode ter a função de “mão”, deixará de fazer parte do corpo. Seria absurdo pensar que isso aconteceria no corpo humano. Mas é triste dizer que, no corpo de Cristo, há o perigo de alguns membros se tornarem descontentes com o lugar que têm. Muitas vezes, o descontentamento desse tipo levará uma pessoa a buscar uma função no corpo que não lhe foi dada, talvez desejando um lugar mais proeminente. Um exemplo pode ser um evangelista buscando o papel de mestre.
O apóstolo enfrenta este problema, mostrando que Deus pretende que haja diversidade na unidade do corpo, dizendo: “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos”. (v. 14). Em outras palavras, o corpo humano não consiste em todos os seus membros sendo mãos ou pés; da mesma forma, os membros do corpo de Cristo não são todos mestres ou evangelistas. Se assim fosse, a diversidade no corpo estaria perdida.
O remédio para isso é reconhecer a ação soberana de Deus. Ele, e não o homem, nomeou o lugar dos membros em um corpo humano “cada um deles como Lhe aprouve” (v. 18 – ATB). E acontece o mesmo no corpo de Cristo. A cura para isso é entrar na presença de Deus e aprender d’Ele qual é o nosso lugar no corpo de Cristo e nos contentar com isso. Não seremos felizes até que aceitemos o lugar e a função que Deus nos deu. Até o momento em que venhamos a nos submeter à soberania de Deus, provavelmente seremos um incômodo para nossos irmãos no ministério e, assim, romperemos a unidade.
Desprezo
Vs. 20-24 – O segundo inimigo da unidade nasce de um complexo de superioridade. Isso é desprezo. O apóstolo novamente usa a figura do corpo humano para explicar-lhes isso, dizendo: “Agora pois há muitos membros, mas um corpo”. (v. 20). Isso mostra que há unidade na diversidade dos membros de um corpo. Em um corpo humano, nunca há momento em que os membros mais proeminentes olhem com desprezo para os menos proeminentes e digam: “Não tenho necessidade de vós” (v. 21). Mas é triste dizer que existe esse perigo no corpo de Cristo. Esse espírito destrói a unidade.
O apóstolo adverte contra este perigo, apontando para o fato de que, ao fazer nossos corpos, Deus propositalmente concedeu “muito mais honra” aos membros invisíveis do que àqueles vistos pelos olhos do público (vs. 22-23). Os membros menos proeminentes do corpo humano são mais importantes que os proeminentes! Uma pessoa poderia sobreviver sem uma mão ou um pé, mas não pode viver sem um coração ou um fígado, etc. O apóstolo usa isso como uma ilustração de como não devemos desprezar os membros menos proeminentes do corpo de Cristo.
O remédio, novamente, para esse problema é reconhecer o trabalho soberano de Deus. “Deus assim formou o corpo [humano]” (v. 24). Ele o construiu de tal maneira que cada membro é valioso e tem algo a contribuir para o todo da pessoa. Similarmente, no corpo de Cristo, Deus o formou de modo que a contribuição de cada membro seja necessária para o bem estar do todo (Ef 4:16). Nós, portanto, precisamos reconhecer isso e permitir que cada membro funcione em seu papel dado por Deus.
Infelizmente, a ordem clerical de coisas feita pelo homem na Igreja hoje em dia (o sistema clero/leigo, onde uma pessoa – o chamado “Pastor” ou “Ministro” – controla o ministério público em nome da congregação) trata os membros do corpo de Cristo que poderiam ministrar a Palavra publicamente, como se não fossem importantes. Ao impedir que tais membros atuem no ministério público na assembleia, esse sistema de coisas está essencialmente dizendo: “Não tenho necessidade de ti”. Não é feito com más intenções para com os outros membros do corpo de Cristo; no entanto, dificulta membros que podem ter um dom para ministrar a Palavra na assembleia, limitando o ministério para uma pessoa que tem o direito oficial a isso.
Como não há “divisão [cisma]” no corpo humano e todos os membros agem em conjunto com “igual cuidado uns dos outros”, os membros do corpo de Cristo também deveriam trabalhar juntos em harmonia (v. 25). Como há empatia e apoio no corpo humano – quando um “membro padece, todos os membros padecem com ele” – assim também deve haver a mesma empatia e apoio entre os membros do corpo de Cristo (v. 26). Podemos nos perguntar como é possível ter empatia por um membro do corpo de Cristo quando nunca ouvimos falar dessa pessoa. Talvez ela viva em outro continente e esteja em alguma comunhão divergente de crentes. A resposta, acreditamos, está no versículo seguinte. O apóstolo continua qualificando suas observações falando do corpo de Cristo em seu aspecto local (v. 27). Se todos em uma vila ou cidade estivessem juntos na mesma comunhão, como eles estavam naquele dia, saberiam de uma determinada situação em que um membro estava sofrendo, e todos sofreriam com aquela pessoa.
O versículo 27 diz: “vós sois corpo de Cristo” (ATB). Observe que não diz “nós”, mas “vós” – referindo-se aos coríntios. O versículo, conforme apresentado na ARC, que diz: “Vós sois o corpo de Cristo”, é bastante incorreto. O artigo “o” deve ser deixado de fora, porque significaria todo o corpo de Cristo, o que os coríntios não eram. Nenhuma companhia local de Cristãos pode reivindicar ser o corpo de Cristo; ele é composto de todos os que na Terra creem no Senhor Jesus Cristo.
Hamilton Smith ilustra a exortação do apóstolo, sugerindo que imaginemos um general de uma companhia local de soldados exortando seus homens. Ele diria: “Lembrem-se, homens, vocês são Guardas Coldstream” (tropa de elite da rainha da Inglaterra). Ele não diria: “Vocês são os Guardas Coldstream”, porque eles são apenas uma companhia local nesse vasto regimento. Neste versículo, Paulo está simplesmente afirmando que a assembleia local em Corinto representava todo o corpo de Cristo. E, no que diz respeito a uma companhia local, deveriam conhecer os membros do corpo naquela localidade que estavam sofrendo e sofrer com eles.
Assim, o primeiro inimigo destrói a diversidade e o segundo inimigo rompe a unidade. Na verdade, nenhum membro é proeminente e todos os membros são indispensáveis.
Essa passagem não deve ser aplicada a assembleias, mas a membros individuais do corpo. Isso é importante de se ver, porque podemos ter a ideia de que cada assembleia local deve consultar outras assembleias locais antes de agir administrativamente – por exemplo, em questões de disciplina. Uma assembleia local reunida biblicamente é a representante de todas as assembleias assim reunidas sob o terreno do corpo de Cristo e age em nome do corpo como um todo.
