Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna
Eleição e Predestinação
Guardar a doutrina da eleição e predestinação atrai o rótulo de Calvinismo. Normalmente, ela é aplicada negativamente e certamente vem com muitos empecilhos. Que John Calvin[1] sustentou e ensinou essas verdades é de algum interesse, mas, no final, é de pouca importância; devemos descansar na Palavra de Deus. Lá encontramos dois princípios importantes: primeiro, minha vontade não está envolvida em meu novo nascimento; ele foi de acordo com a vontade de Deus somente. Em segundo lugar, Deus escolheu os eleitos em Cristo desde antes da fundação do mundo e os predestinou para a bênção.
[1]  Um teólogo francês da Reforma Protestante 1509-1564. ↑
Os assuntos de eleição e predestinação não se limitam a um ou dois livros da Bíblia ou mesmo a um escritor. Não temos de pesquisar muito para encontrar versículos que nos dão os diferentes aspectos da doutrina de que falamos. “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1:13). “Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, o não trouxer” (Jo 6:44). “Não Me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós” (Jo 15:16). “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (At 13:48). “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8:29-30). “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, como também nos elegeu n’Ele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante d’Ele em caridade, {ou amor} e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade” (Ef 1:3-5). “Por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade” (2 Ts 2:13). “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1:2). “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1:18). Esta lista está longe de ser completa; nosso assunto não é um assunto obscuro.
O homem não gosta da eleição, pois ela o tira totalmente de cena (não como um objeto, mas como tendo alguma parte na fonte de bênção). Uma suposta solução para algumas das dificuldades que as pessoas sentiram em relação à eleição e predestinação é dizer que Deus (que é atemporal e onisciente) previu e escolheu aqueles que mostrariam arrependimento para com Deus e fé em Jesus Cristo. Por outro lado, aqueles que não apresentavam essas condições necessárias para a salvação estariam destinados à condenação. Isso pode parecer racional e justo pelo raciocínio do homem, mas há várias dificuldades com esta explicação. 1) Pressupõe que o homem é capaz de ter fé em seu eu natural. A Palavra de Deus exclui isso: “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3:10-12). Ter fé em Deus significa que há algo de bom no homem, pois: “Sem fé é impossível agradar-Lhe [a Deus]” (Hb 11:6). A fé, entretanto, é um dom de Deus e não algo que possuímos intrinsecamente. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2:8). Os pensamentos da mente natural não estão voltados para Deus nem sujeitos a Ele. “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7). 2) Esta explicação supõe que Deus previu algum comportamento no homem – sobre isso, a Escritura nada diz; ela fala de quem Deus conheceu de antemão e não de quê (Rm 8:29). Ele nos “predestinou para serem [sermos] conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8:29). É para isso que fomos escolhidos. Deus não olhou para os tempos futuros e escolheu aqueles que seriam conformes à imagem de Seu filho; isso é nosso destino, não nosso ponto de partida. 3) A Escritura nunca fala de Deus predestinando o homem para a destruição; isto simplesmente não é encontrado. 4) Fazer da eleição algo condicional ao estado do homem, mina a soberania de Deus.
A eleição não pode ser reduzida a um Deus atemporal examinando a tapeçaria da história do homem, separando os crentes dos incrédulos – como alguém poderia estar diante de uma pintura de Pieter Brugghen, observando todas as pessoas e suas atividades variadas. Mesmo que Deus tivesse feito isso, ninguém poderia ter sido escolhido com base em seus próprios méritos: “Ninguém aceita o seu testemunho” (Jo 3:32). A eleição é uma ação positiva da parte de Deus e não uma avaliação passiva da humanidade. Supor que Deus me escolheu por causa de algum bem de minha parte, me torna superior a todos aqueles que não o possuem. O verdadeiro Cristianismo nos humilha; este falso ensino não. Toda religião (e teologia) de criação do homem resulta em sua própria exaltação.
