Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna
A Epístola aos Hebreus
Sempre que a segurança eterna é questionada, a epístola aos Hebreus será trazida à discussão. Existem duas porções – uma no sexto capítulo e outra no décimo – que são comumente usadas por aqueles que procuram negar a segurança do crente. Um mal entendimento desses versículos causou incontáveis ansiedades desnecessárias e enfraqueceu enormemente seu testemunho Cristão.
O livro de Hebreus revela como nenhum outro. Embora toda a Escritura seja divinamente inspirada, o próprio Senhor Jesus é peculiarmente o Autor e Apóstolo desta epístola (Hb 1:1-2, 3:1). Sem dúvida, muitos para quem foi escrita tinham ouvido os discursos do Senhor, e esta epístola vem, por assim dizer, como um discurso adicional de Deus por meio de Jesus como Seu Apóstolo: “Falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” (Hb 1:1). O escritor humano[13] toma seu lugar entre os ouvintes. Jesus se dirige àqueles que, pelo menos exteriormente, se identificaram com Ele como seu Messias. Alguns durante Sua vida, outros após Sua ressurreição (ver Atos 2). Entre eles estavam muitos crentes verdadeiros. Para alguns, entretanto, sua salvação foi menos clara. Onde eles estão? A epístola pressupõe o que é verdadeiro, mas deixa espaço para a mera profissão.
[13]  O escritor desta epístola foi muito contestado – tudo desnecessariamente. O agente humano é deliberadamente escondido pela razão dada. Isso sendo dito, esta epístola foi incluída, muito cedo, com os outros escritos do apóstolo Paulo. Alguém pode também apontar para evidências bíblicas internas que sugeririam que Paulo era o agente humano. ↑
Para um judeu fiel que recebeu Jesus como o Messias, havia duas dificuldades principais: 1) seu Messias havia sido crucificado, e 2) eles estavam sofrendo perseguição. De uma perspectiva judaica, a vinda do Messias significava o livramento de seus inimigos e um reino pacífico estabelecido sob Seu reinado protetor (Lc 24:21). Um Messias crucificado era uma grande pedra de tropeço. Os judeus falharam em reconhecer o Messias rejeitado nos escritos dos profetas (Lc 24:26). Eles agora enfrentavam uma escolha; foi uma decisão crítica na encruzilhada da vida e da morte. Eles reconheceriam um Jesus ressuscitado tanto como Senhor e Cristo e O teriam como seu Salvador (At 2:36)? Ou eles chegariam a uma conclusão diferente? Que Jesus não era o Messias; que Ele havia sido atingido, ferido por Deus e afligido por causa da posição blasfema que assumira, conforme sugerido por seus líderes? “Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus” (Mt 27:43). Alternativamente, talvez Jesus fosse simplesmente outro profeta como Moisés ou Elias. Pedro baixou o Senhor para esta posição no Monte da Transfiguração. O resultado? Uma voz vinda da nuvem; tal declaração não poderia ficar sem resposta: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; escutai-o” (Mt 17:5).
Deus falou ao Seu povo por meio dos profetas; Ele agora havia falado com eles na pessoa do Filho. Eles tinham ouvido Suas palavras e as dos apóstolos; o que iam fazer? Rejeitar o que Deus providenciou em Sua graça os deixaria sem misericórdia. A decisão deles teria consequências imediatas: “Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas que já temos ouvido, para que, em tempo algum, nos desviemos delas… como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos, depois, confirmada pelos que a ouviram” (Hb 2:1, 3). Nesse caso, a salvação mencionada era aquela salvação temporal com a qual os judeus eram familiarizados. Jerusalém seria saqueada em poucos anos e centenas de milhares morreriam.
Antes de seguir adiante, devemos fazer uma observação geral a respeito da epístola. Os pronomes nós e nos usados em toda a epístola se referem aos judeus – os hebreus. Embora o próprio Senhor seja inequivocamente o Apóstolo desta epístola, o escritor, seja Paulo ou outro, toma seu lugar como judeu (embora fiel) entre seus conterrâneos. É um erro supor que esses pronomes tenham um significado mais restrito. É uma lógica falha concluir que o escritor está se dirigindo exclusivamente a indivíduos salvos porque ele se inclui entre eles. À medida que avançamos no livro, há sinais constantes que sugerem o contrário: “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos” (Hb 6:9). O escritor testemunhou frutos que acompanharam a salvação, embora ele tivesse dúvidas persistentes sobre onde alguns se mantiveram.
A epístola aos Hebreus segue uma linha de raciocínio facilmente discernível. Os primeiros dois capítulos são introdutórios ao todo e fornecem, se você quiser, as credenciais do Senhor no Velho Testamento; primeiro como Filho de Deus (Hb 1; Sl 2) e depois como Filho do Homem (Hb 2; Sl 8). O terceiro capítulo apresenta Cristo como Filho sobre Sua própria casa, em contraste com Moisés, que era apenas um servo na casa de Deus. Números 12 é citado: “Meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa” (Nm 12:7). É notável observar que isso vem no Livro de Números em uma época em que a autoridade de Moisés estava sendo questionada, assim como alguns agora tinham dúvidas a respeito de Jesus. Com a introdução de Moisés, vem a jornada no deserto e uma triste lembrança da incredulidade de Israel. O quarto capítulo fala do descanso de Deus. Canaã era o descanso final para o homem? Não! “Se Josué lhes houvesse dado repouso, não falaria, depois disso, de outro dia” (Hb 4:8). Há um descanso além da Terra Prometida; Deus o chama de “Meu repouso” (Sl 95:11). No quinto capítulo, o escritor começa a contrastar o sacerdócio de Cristo com o sacerdócio Aarônico instituído no deserto. Ele se interrompe, porém, com uma exortação para “prosseguir” (Hb 6:1). Ele sente que alguns estavam presos em suas aspirações judaicas com todas as suas ordenanças terrenas. Eles eram como bebês que necessitavam de leite e não estavam espiritualmente maduros e prontos para comer carne (Hb 5:11-14).
Antes de prosseguirmos para o sexto capítulo, devemos observar as lições ensinadas no quarto – lições tiradas da passagem de Israel pelo deserto. Todo o Israel partiu do Egito, mas muitos não conseguiram chegar à Terra Prometida. Por quê? “E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? E vemos que não puderam entrar por causa da incredulidade” (Hb 3:18-19). Foi por causa da incredulidade. O grande pecado do homem é duvidar da bondade de Deus. Eva fez isso no jardim do Éden e Israel o fez no deserto. O homem continua a questionar a graça de Deus. Não é uma questão de perder a salvação, mas para começar, de ausência de fé. Todo o Israel deu o primeiro passo para deixar o Egito, mas para muitos não havia fé em Deus Jeová: “Porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram” (Hb 4:2). Alguém pode aparentemente concordar com o Cristianismo, mas a menos que essa caminhada seja misturada com a fé, ele morrerá, no final das contas, em seus pecados.
