Origem: Livro: Breves Meditações

Eras da Ressurreição

Quanto a todo este capítulo (1 Coríntios 15), posso dizer que há uma ordem em suas partes, que é edificante descobrir e meditar. Poderia ser intitulado “A história da graça e da glória à luz da ressurreição”. A ordem da qual falo é esta.

Versículos 1-4. O fato da ressurreição do Senhor Jesus é declarado.

Versículos 5-11. Este fato é comprovado por muitas e diferentes testemunhas, por aqueles que O viram na Terra depois que ressuscitou, e por alguém que O viu em glória depois que ascendeu.

Versículos 12-19. O valor do fato assim declarado e provado é aqui exposto, em bela ordem. Tudo é declarado como dependendo dele – os interesses daqueles que estão mortos e daqueles que ainda estão vivos e trabalhando; na verdade, de todos os pecadores, isto é, de toda a humanidade.

Aqui termina a história da graça à luz da ressurreição, porque fomos libertos dos nossos pecados.

Versículos 20-28. Aqui, a história da glória começa à luz do mesmo mistério. O Senhor ressuscitado é visto como as primícias, o penhor de uma colheita, colheita essa que será colhida “na Sua vinda”, e então, com Ele, levada através do reino para a era em que “Deus será tudo em todos”. Isso pode ser lido em conexão com 1 Tessalonicenses 4 e Apocalipse 20-21.

Versículos 29-38. A propósito, o apóstolo aborda certos pensamentos aqui. Ele admite que, se não houvesse ressurreição, ele próprio seria um tolo, sofrendo em vão. Mas ele diz que são tolos aqueles que questionam a ressurreição, pois não têm o conhecimento do próprio Deus, nem da lição que a semeadura e a colheita nos ensinam.

Versículos 39-49. Nestes versículos, Ele retoma a história da glória à luz da ressurreição. Ele já nos havia mostrado, nos versículos 20-28, a jornada pela qual os santos ressuscitados seriam transportados, de glória em glória; agora, Ele nos mostra as pessoas ou corpos nos quais eles deveriam empreender essa jornada.

Versículo 50. Neste versículo ele ensina que somente uma pessoa assim poderia fazer tal jornada.

Versículos 51-57. Aqui, ele nos ensina o processo maravilhoso pelo qual essa nova pessoa ou corpo será tomado ou assumido pelos santos. E ele ainda nos informa que esta será a participação na vitória que o Senhor Jesus já conquistou.

Versículo 58. Aqui, neste último versículo, ele expõe brevemente a lição moral ou prática deste grande mistério.

Esta parece ser a estrutura natural e o conteúdo geral deste capítulo maravilhoso e magnífico. No entanto, vou analisar mais especificamente os versículos 20 a 28.

Como já disse, no grande tratado sobre este mistério que encontramos em todo este capítulo, o apóstolo (tendo já o afirmado, depois provado como pela boca de testemunhas, e então demonstrado sua necessidade e indispensabilidade) prossegue, nestes poucos versículos, a nos ensinar as diferentes eras da ressurreição e as coisas que ocorrerão tanto durante quanto depois delas. É uma Escritura muito rica e bela em suas comunicações.

Em primeiro lugar, aprendemos com isso que o Senhor Jesus estava completamente sozinho no dia de Sua ressurreição. Ele mesmo ocupou aquele momento, e do povo, por assim dizer, não havia ninguém com Ele – nem um sequer. “Cristo, as primícias”, como lemos aqui. Porque Sua ressurreição tinha qualidades peculiares; completamente peculiares. Foi uma ressurreição dentre os mortos, uma ressurreição vitoriosa, vida em vitória sobre o poder da morte, uma vitória realizada e conquistada por Ele mesmo. Mas foi a única ressurreição que teve essa qualidade ou caráter. A ressurreição foi devida a Cristo. Ele foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai (Romanos 6:4). Não era possível que tal Pessoa pudesse ter sido retida pela morte e pela sepultura (Atos 2:24). Ele mesmo também podia dizer, e disse: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (João 2:19). E Ele estava falando do templo do Seu corpo.

Tudo isso era peculiar, como não preciso dizer, e não poderia ser dito de nenhum outro. A ressurreição era devida a Ele; e, além disso, Ele tinha o poder dela em Si mesmo, ou em virtude do que Ele era. Portanto, O vemos sozinho na era das primícias da ressurreição, “Cristo, as primícias”. E isso havia sido figurado sob a lei, pela colheita de um molho no início da colheita (e antes que qualquer grão novo tivesse sido comido), e pelo movimento dele, exatamente como era, diante do Senhor (Lv 23:9-14).

Mas então, Cristo em ressurreição, sendo chamado de “primícias”, promete uma colheita. Este é o significado de tal título. Consequentemente, no devido tempo, a colheita segue – e isto constitui a segunda era na série de ressurreições. Como continuamos nesta Escritura, lemos: “depois os que são de Cristo, na Sua vinda”. E isto é tudo menos solitário. Incontáveis milhões estarão lá, todos os eleitos desde o princípio até aquele momento, pois todos eles são “filhos da ressurreição” (Lucas 20:36). Mas, como a ressurreição anterior das primícias, será uma ressurreição dentre os mortos, uma ressurreição vitoriosa – esta qualidade, no entanto, a distingue da outra, que é uma vitória sobre a morte não conquistada por esta multidão, mas conferida a eles; não devida a eles, mas em infinita graça concedida a eles, e concedida a eles por Aquele que já tinha sido “as primícias”, ou, como Ele é chamado em outro lugar, “o Primogênito dentre os mortos”. Eles ressuscitam dentre os mortos, ou em vitória, simplesmente porque “são de Cristo”, como lemos aqui. Ele ressuscitou em Seus dias justamente porque Ele era Quem era e o que era; eles agora ressuscitam tão simples e meramente porque eles são de Quem são. “Os que são de Cristo, na Sua vinda”. Esta é a colheita de Levítico 23, que segue as primícias – a colheita. Ou, pelo menos, é como essa colheita. Diz-se que somos “como [uma espécie de – KJV] primícias das Suas criaturas” (Tiago 1:18). E, abençoados por podermos repeti-lo, nós ressuscitamos, como o próprio Senhor, de entre os mortos, ou em ressurreição vitoriosa. “Se o Espírito d’Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita” (Romanos 8:11).

Isto sendo cumprido em seu tempo, como lemos, “na Sua vinda”, e como vemos mais adiante mostrado a nós em 1 Tessalonicenses 4, então, novamente em seu tempo, alcançamos a terceira era da ressurreição, chamada “o fim” (v. 24). Mas aqui, temos novos pensamentos sugeridos a nós.

Esta é uma ressurreição indigna desse nome – consequentemente, está apenas implícita e não expressa aqui. Não é uma ressurreição vitoriosa, ou uma ressurreição dentre os mortos, como a anterior, mas simples e sem qualquer glória uma ressurreição dos mortos, uma ressurreição dos não regenerados, daqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida, para receber o fruto de suas obras conforme o julgamento d’Aquele que Se assenta no grande trono branco. É, como posso expressar, uma ressurreição judicial, não vitoriosa, uma ressurreição não para a vida, mas para o julgamento, como é antecipado pelo Senhor em João 5:29 e como é demonstrado pelo profeta em Apocalipse 20:11-15.

Isto é algo novo, e de caráter verdadeiramente solene. “Cantarei”, diz a harpa da profecia, “a misericórdia e o juízo”. As estações ensolaradas da ressurreição para as quais olhamos inicialmente, ressurreição para a vida e em glória, são agora sucedidas por uma estação de ressurreição que convoca os mortos ao julgamento e ao lago de fogo. E precisamos de diferentes estações em nossa alma ao lermos essas diferentes coisas. Devemos conhecer a alegria de antecipar a ressurreição dentre os mortos; e devemos sentir as terríveis advertências e prenúncios que a Escritura nos dá sobre a condenação daqueles que, nesta era de “longanimidade”, neste “ano aceitável”, neste “dia da salvação”, não tocam em Cristo na multidão para obterem virtude d’Ele. Mas somos frios e de corações estreitos. De fato, somos. Mas assim é, repito; as vozes dos profetas falam de misericórdia e de julgamento – de ressurreição dentre os mortos, para glória, e de ressurreição dos mortos, para julgamento. “vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação [do julgamento – JND] (João 5:28-29).

Temos, no entanto, muito conectado com esta terceira era de ressurreição nestes poucos versículos de 1 Coríntios 15. Pois o Espírito Se agrada, neste capítulo maravilhoso, de nos escrever uma grande parte da história da ressurreição, bem como de afirmar e provar a sua existência. Ele já nos ensinou, como vimos, sobre a ressurreição, quanto às eras ou estações em que ela ocorrerá; agora, por meio do apóstolo, Ele prossegue nos ensinando o que acompanhará a terceira e última dessas eras.

Aprendemos várias coisas, importantes em si mesmas, sérias e interessantes, e adequadas, como toda verdade profética, para regular e ampliar nossos pensamentos sobre o grande assunto dos tratamentos de Deus com este nosso mundo arruinado, e Seus propósitos concernentes às várias demonstrações de Suas próprias glórias.

Aprendemos que o Senhor Jesus, tendo recebido um reino após a segunda era da ressurreição, irá por um tempo (aqui deixado indefinido), mantê-lo e ordená-lo de forma a reduzir todo inimigo à sujeição a Ele, até mesmo a morte.

Tendo feito isso, e assim cumprido o ofício e a tarefa do “Reino”, sob a comissão de Deus, tendo sido fiel a essa grande administração, Ele a entregará, “quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai”, para que “Deus seja tudo em todos”. Isto é, para que o próprio Deus possa então ser manifestado em alguma forma, sem dúvida, inefável de glória digna de Si mesmo e digna de Sua eternidade, quando todas as administrações nas mãos de Cristo tiverem sido cumpridas, quando a graça na era da longanimidade e o poder na era do reino tiverem cumprido sua comissão.

Em sincronia com esta entrega do reino e esta grande ação final, ocorrerá a terceira era de ressurreição. Será, como vimos, uma ressurreição dos mortos e para o julgamento. O julgamento ocorrerá diante do “grande trono branco”, e a condenação dos mortos então julgados será “o lago de fogo”. E esta ação estará em plena coerência com tudo o que a acompanha – porque será mais uma testemunha de que o Senhor Jesus está ali subjugando todas as coisas a Si mesmo. Será uma ação do “reino” – assim como o lançamento da própria morte no lago de fogo será outra ação. Tudo fala da plena submissão daquele momento a Cristo em tudo – que Ele foi capaz de sujeitar todas as coisas a Si mesmo, como lemos em Filipenses 3 – e que então, é chegada a hora, a hora apropriada, a hora gloriosa, de deixar o poder e a administração de lado e entrar na própria eternidade de Deus – quando o “cetro de equidade [retidão – JND] dará lugar a “morada” de “justiça” (Hebreus 1:8; 2 Pedro 3:13).

Mas devo observar duas ou três coisas relacionadas a isso mais particularmente. Cristo, lemos aqui, “entrega” o reino. Esta será a primeira vez, em todo o curso da história do mundo, na longa sucessão de tronos e dinastias, que o “poder” será devolvido à mão que o havia confiado. Um após outro dos animais de Daniel teve o seu reino tirado dele. Ele havia sido infiel àquilo que lhe foi confiado, e a administração lhe foi tirada. Esta é a história comum. Nunca houve um reino “duradouro”, pois nunca houve um reino “fiel”. Ainda não houve um “cetro de retidão” e, portanto, ainda não houve um cetro “inquebrável”. As nações da Terra são julgadas, assim como as quatro grandes bestas ou impérios – “os pequenos montes”, bem como as “grandes montanhas”. Vemos isso em Isaías 15-24 e em Jeremias 14:15, 25, onde o cálice da indignação de Deus é enviado de um povo para outro, até que cada terra, cada nação, seja levada a beber dele.

E não preciso acrescentar que a nação de Israel e o trono da casa de Davi eram tão infiéis quanto qualquer outro, e mais culposamente infiéis do que qualquer outro.

O Messias não apenas se destaca como o “Preeminente”, mas também como “o Único” em Seu reino. Ele será o rei “verdadeiro e fiel”, assim como já foi a Testemunha e Profeta “Fiel e Verdadeiro”. (Apocalipse 19:11). Ele ordenará Seu reino com juízo e justiça. Ele manterá Seu cetro em retidão e guardará Sua casa real como deve ser guardada. (Salmo 101). E, portanto, não há como tirá-lo d’Ele para entregá-lo a outro mais fiel do que Ele. Ele pode prestar contas de Sua mordomia, embora prove ser o Único que sempre foi capaz de responder quando assim desafiado. (Lucas 16:1; Salmo 82). Não haverá tomada do reino de Sua mão, mas Ele o “entregará”, como Aquele que foi infinitamente Fiel, Fiel até o último jota e til, Àquele que O constituiu.

Tudo isso é simples, mas totalmente precioso; e tudo isso é transmitido ao nosso entendimento, com plena certeza, pelas palavras: “quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai” – ou, como as palavras poderiam ser: “quando ele entregar o reino a Deus, o Pai” (AIBB).

Este é um dos benditos segredos a respeito do Senhor Jesus que aprendemos nesta magnífica, embora curta, palavra profética. Há um toque passageiro ou um toque de beleza, que também devo notar, em meio às grandes e importantes comunicações desta Escritura. É isto: que a “morte” é o único inimigo especificado ou sinalizado aqui, como sendo aniquilado ou posto sob os pés de Cristo. De modo geral, aprendemos que “todos os inimigos” devem ser subjugados; mas a “morte”, e somente a morte, é mencionada individual ou especificamente aqui.

Há um toque de beleza nisso. Isso mantém o grande tema de todo o capítulo ainda em vista, pois é um escrito sobre ressurreição. Outros profetas nos falarão da sujeição de outras coisas ao cetro do Senhor Jesus no dia de Sua realeza. Daniel nos diz que Ele quebrará em pedaços todos os outros reinos e encherá toda a Terra com o Seu próprio reino. Isaías nos diz que a Terra, naquele dia, se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar. O salmista repetidamente nos fala de toda a criação O reconhecendo em Seu senhorio universal. João pode chamá-Lo de “Rei dos reis e Senhor dos senhores”; e pode ouvir o mundo inteiro clamando: “Aleluia! pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina“. Tudo isso, e muito mais de glória semelhante, é contado pelos profetas de Deus a respeito da soberania vindoura do Filho do Homem. Mas não há nenhuma característica na ampla gama desta monarquia universal e poder todo-dominante e conquistador, sinalizada aqui, além da destruição da morte no poderoso alcance e domínio do reino de Cristo. E repito, há um toque de beleza nisso, visto que a ressurreição foi o tema de todo o capítulo.

TUDO o que foi para o Senhor ou vindo do Senhor entre os Seus santos será reconhecido em Seu dia. Toda a graça neles, todo o amor, todo o serviço, todo o sofrimento por Ele ou pela justiça, todas as formas e medidas dessas coisas e coisas semelhantes, serão aceitas e honradas. Mas assim, acrescento, todo aprendizado de Sua mente terá sua aceitação com Ele, e sua própria alegria naquele dia. Pode ser algo pequeno em comparação, mas terá sua medida. Servos, amantes, imitadores, mártires serão aceitos então, mas também os discípulos. Eu reivindico um lugar naquele dia em que “cada um receberá de Deus o louvor”, para aqueles que, em meio aos erros e julgamentos equivocados dos homens, aprenderam, valorizaram e se apegaram aos pensamentos e princípios da sabedoria divina, da mente de Deus, no progresso de Suas dispensações.

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