Origem: Livro: O Espírito Santo
O Espírito Santo no Velho Testamento
Antes de considerarmos o papel do Espírito Santo na presente dispensação, será necessário fazermos algumas observações quanto ao Velho Testamento. Desde o início da história do homem, encontramos o Espírito Santo contendendo com as almas: “Então, disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos (Gn 6:3).[1] A atividade do Espírito Santo certamente não se limita ao Novo Testamento. Como uma das Pessoas da Divindade, o Espírito sempre esteve envolvido nos assuntos de Deus. Deus o Pai, Deus o Filho, e Deus o Espírito Santo agem juntos – vemos isso desde bem do início, começando com a criação (Gn 1:1; 1:26 etc.). Quanto à atividade do Espírito em relação ao homem, o Espírito Santo no Velho Testamento agia como um poder externo, suplicando à consciência, ou animando àqueles a quem escolheu.
[1]  Muitas traduções dão um significado alternativo: “Não permanecerá o Meu Espírito para sempre com o homem” (como faz a AIBB, TB). É o Meu Espírito, o Espírito de Jeová, não a força vital dentro do homem. E o uso de permanecer em vez de contender é inconsistente com seu uso em outros lugares, onde há o sentido de julgar, interceder ou conflitar. ↑
Encontramos mais exemplos da ação do Espírito no livro de Êxodo, mas de maneira alguma pretendemos examinar todas as referências. “Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência em todo artifício” (Ex 31:2-3). Foi pelo poder do Espírito de Deus que Bezalel tinha a habilidade para produzir os artigos necessários para o tabernáculo. Não foi a mera astúcia e arte humanas que produziram aquelas obras; era tudo de Deus. Nesse caso, vemos alguém cheio do Espírito de Deus realizando uma tarefa manual específica.
Nossa próxima referência é a mais singular. O contraste com o que encontramos no Novo Testamento é muito instrutivo. “Então, eu descerei, e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que tu sozinho o não leves… Quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais… Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito!” (Nm 11:17, 25, 29). É evidente a partir desses versículos que o Espírito Santo no tempo do Velho Testamento repousava sobre os indivíduos, mas também que Ele podia ser tirado deles. Parece que poucos desfrutaram desse privilégio abençoado.
Encontramos até mesmo o Espírito de Deus vindo sobre pessoas que não tinham fé: “E, levantando Balaão os olhos e vendo a Israel que habitava segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus” (Nm 24:2). O Espírito pode e moverá o homem à escolha de Deus. Com Saul, o primeiro rei de Israel, vemos a mesma atividade do Espírito: “E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles e te mudarás em outro homem” (1 Sm 10:6; ver também v. 10). A Escritura não nos dá nenhuma razão para crermos que Saul tenha sido uma alma convertida; a mudança foi temporária. Lemos mais tarde: “E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, da parte do Senhor” (1 Sm 16:14). E mais forte ainda: “O Senhor te tem desamparado e se tem feito teu inimigo” (1 Sm 28:16). Quando Deus, por meio do Espírito já partido de Samuel, diz a Saul: “Amanhã tu e teus filhos estareis comigo” (v. 19), não há razão para crermos que Ele fala de outra coisa, senão de sua morte.
Voltando ao tempo dos Juízes, lemos sobre Otniel: “E veio sobre ele o Espírito do Senhor” (Jz 3:10); e de Gideão: “O Espírito do Senhor revestiu a [veio sobre – JND] Gideão” (Jz 6:34); da mesma forma, com Jefté (Jz 11:29). Com relação a Sansão, encontramos: “E o Espírito do Senhor o começou a impelir de quando em quando” (Jz 13:25), e “O Espírito do Senhor se apossou [veio sobre – JND] dele tão possantemente” (Jz 14:6; 15:14). Toda vez, a palavra-chave é sobre. O Espírito desceu sobre os homens com poder. Nunca, no Velho Testamento, encontramos o Espírito Santo habitando com e no homem e certamente nem O encontramos como algo duradouro. Em contraste, o Senhor Jesus no Novo Testamento prometeu aos discípulos: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê, nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco e estará em vós” (Jo 14:16-17).
Pode ser sugerido que Ezequiel experimentou a habitação do Espírito de Deus: “Então, entrou em mim o Espírito, quando falava comigo” (Ez 2:2; ver também 3:24). Se foi necessário ao Espírito de Deus entrar no profeta uma segunda vez, devemos concluir que essas foram experiências passageiras. Os profetas do Velho Testamento falaram pelo Espírito de Deus, e este é simplesmente outro exemplo disso. “Inquiriram e trataram diligentemente os profetas… indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles” (1 Pe 1:10-11). “Os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1:21).
Estêvão, em sua defesa perante o Sinédrio, disse: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais” (At 7:51). O Espírito Santo tem contendido com o homem ao longo de sua história – desde o tempo de Gênesis e em diante. O homem, por sua vez, resistiu obstinadamente aos esforços do Espírito Santo.
