Origem: Livro: Os Patriarcas
O Evangelho e o Cantares de Salomão
Nestes idílios, o Senhor considera o santo totalmente amável. E assim é o crente aos Seus olhos. Sendo pecador em si mesmo, ele, pela fé, assumiu sobre si a beleza de Cristo. Ele está “n’Ele”. Ele tem “a justiça de Deus” sobre ele. Ele é “agradável [aceito – KJV] a Si mesmo no Amado”. Somente a fé lhe dá toda essa formosura. Ele foi batizado a Cristo e revestido de Cristo. Esta é a beleza do crente; e ele é agradável aos olhos de Cristo, como os Cantares de Salomão expressa repetidas vezes.
Na verdade, nesta forma de beleza não pode haver mancha. Pois é com o próprio Cristo que o crente está vestido. A “melhor roupa” da casa do Pai está sobre ele. É uma beleza imaculada em que ele brilha. A doutrina do evangelho nos ensina isso, e aqui Cristo expressa Seu deleite nela; tais harmonias existem entre os evangelhos e os Cantares de Salomão.
Mas, além disso, no mistério de Cristo e do crente, Cristo tem um “monte da mirra” para a qual Ele aqui convida o crente a dirigir seus passos – e Paulo nos exorta: “se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus” O crente sobe aqueles montes com Jesus, como aqui convidado e como no Evangelho exortado. Sua cidade (pátria – ARA) está no céu. Em Cristo ele está assentado nos lugares celestiais. E ele cheira a mirra e o incenso que ali estão.
Novamente, o Senhor Se deleita nas graças de Seu santo. Ele repousa, com o amor da complacência, no crente que anda no Espírito diante d’Ele (Jo 15:10). Ela é um jardim fechado sob Seu olhar, um manancial fechado, uma fonte selada. Conforme lemos, o Espírito está nele, uma fonte de água jorrando para a vida eterna. Ele tem o cheiro das especiarias e os fluxos da água viva em si mesmo, e a fragrância e o frescor destes alegram seu Senhor novamente. Este é o ensino do evangelho, e esta é a linguagem de Cristo nos Cantares de Salomão. Ele Se deleita com o que está em nós por meio do Espírito, bem como com o que está em nós por meio da fé. Ele tem Seu gozo nos lugares de comunhão com Seus eleitos aqui, como no céu ao qual Ele ascendeu.
Isso nos é amplamente dito na Escritura. “Ouve, filha, e olha, e inclina teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa de teu pai. Então o Rei Se afeiçoará da [desejará a – TB] tua formosura, pois Ele é teu Senhor; adora-O” (Sl 45:10-11 – ACF). Aqui está algo além da beleza imputada. Pois aqui aprendemos a graça nela que acende Seu desejo. Ela esqueceu o seu próprio povo e a casa do seu pai, por isso o Rei a deseja. E ela O reconhece como Senhor e O adora. Ela Lhe prestará afeição e homenagem. E toda essa graça adequada e atraente foi demonstrada em Rebeca. Ela deixou tudo por Isaque. Ela esqueceu o seu próprio povo e a casa do seu pai, e atravessou um deserto desconhecido na companhia de um estranho, na singeleza e devoção de um coração não dividido. E ao chegar àquele por quem ela consentiu em tudo isso, ela lança-se de seu animal e se cobre. Ela veste o ornamento de um espírito manso e tranquilo. Ela se reveste de timidez e sobriedade. Ela ama, e ainda assim se curva. E então Isaque a deseja. E assim deve a Igreja estar sujeita a Cristo, e ainda assim amá-Lo com amor virginal. Leia sobre isso em Efésios 5 e 2 Coríntios 11:2. (Afeição gera confiança. Rebeca se comprometeu com Eliezer, nunca pedindo escolta ao pai ou ao irmão. Portanto, quanto mais simplesmente amamos Jesus, mais confiantemente nossa alma confiará somente n’Ele e em Seus suprimentos para nós, sem confiança na carne ou qualquer coisa mais).
E nos Cantares de Salomão encontramos o Espírito de Cristo convidando Seu santo para a liberdade deste tempo presente, para a atmosfera de uma casa onde o brado de adoção é ouvido. Toda a era mais sombria e fria já passou. Toda aquela dispensação que mantinha a alma em escravidão e temor acabou. Ouve-se a voz da rola; a voz daquele perfeito amor que lança fora o temor. “Vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia”, diz João, como se tivesse em mente os Cantares de Salomão. O santo deve agora levantar-se, assumindo o seu lugar como o amado e o belo, estando na plena consciência da pureza e da beleza pessoal, por meio da graça, e do perfeito favor e deleite do seu Senhor. Ele deveria se afastar do “espírito de temor” e passar para o espírito de amor e de poder “e de uma mente sã” (KJV). Pois tudo na dispensação alegra. As flores aparecem na terra e ouve-se o canto dos pássaros. Tudo é promessa, penhor, e selo, e unção.
E novamente, se a noiva dos Cantares de Salomão diz: “Enquanto o Rei está assentado à Sua mesa, dá o meu nardo o seu cheiro”, a discípula do evangelho faz isso (João 12:3).
E, de acordo com tudo isso, podemos observar como algumas das declarações mais ternas deste livro são garantidas pelas simples narrativas do evangelho. Se o amado zela pela alma restaurada com o mais carinhoso zelo, não permitindo que o passo ocupado de outros perturbe o descanso silencioso e oculto daquela amada, o que Jesus faz na casa favorecida de Betânia senão isso mesmo? Como Ele repreende os movimentos de Marta? Leia sobre isso em Cantares de Salomão 2:7 e Lucas 10:41 (“Até que ela queira”, deveria ser, já que “amor” é feminino neste livro. Cantares de Salomão 2:7; 3:5; 8:4).
