Origem: Livro: Breves Meditações
Fé
Falamos tanto de “fé” em conexão com a verdade Cristã, que é bom indagar com um pouco mais de cuidado o que a Escritura nos diz sobre isso, para que possamos estar um pouco mais familiarizados com aquilo sobre o qual falamos tão frequentemente e tão familiarmente.
A parte inicial da Epístola aos Romanos é a principal Escritura sobre este grande assunto – ou, pelo menos, sobre o tema da “fé” como primeiramente despertada no pecador. A vida de fé de um santo, como é bem conhecida entre nós, é ilustrada em Hebreus 11.
Logo no início de Romanos, aprendemos que é “a obediência da fé” que Deus agora busca no Evangelho. E se refletirmos um pouco sobre isso, seremos capazes de ver que a obediência que a fé presta é a mais elevada e deve ser a forma mais aceitável que a obediência pode assumir (veja cap. 1:5).
Se rendêssemos obediência a Deus como o Legislador, honraríamos a Sua autoridade; mas quando rendemos obediência a Ele, revelando-Se na graça e salvação do evangelho, honramos a Ele próprio.
Assim, embora seja a graça que está lidando conosco, a resposta que ela recebe produz, Àquele Bendito, uma glória mais rica do que Ele poderia ter recebido sob qualquer outro princípio. Ele é honrado como Salvador pela nossa fé; Ele teria sido honrado como Legislador pela nossa conformidade com cada jota e til dos Estatutos.
“Para a obediência da fé entre todas as gentes” (Rm 1:5); e então é acrescentado: “pelo Seu nome” – sugerindo como a Sua glória está envolvida nisso; como eu disse, a honra mais brilhante, mais querida e mais bem-vinda que o Seu nome poderia receber, ele recebe da fé de um pecador.
Em seguida, quanto à fé, aprendemos do que ela se apropria. E aqui aprendemos que, se Deus, pela fé, recebe de nós a Sua mais resplandecente glória, nós, pela fé, obtemos a mais alta dignidade de que uma criatura é capaz; isto é, “a justiça de Deus”. Nenhuma dignidade mais maravilhosa do que esta pode haver para uma criatura. E, no entanto, assim é com aqueles que têm a fé do Evangelho.
E em conexão com isso, aprendemos ainda mais qual é o Objeto que a fé apreende e ao Qual se apega, para assim obter a justiça divina. É “Jesus” e “Seu sangue” – como lemos no capítulo 3, versículo 22, “a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (veja também os versículos 25 e 26).
Sob o olhar da fé, Deus estabeleceu uma “propiciação”, um propiciatório. A fé no sangue de Cristo apreende isso. Ela vê Deus Justo e, ainda assim, um Justificador. É estar no Santo dos Santos e ver o propiciatório ali. Esse trono místico assentou-se sobre a lei. A lei, ou o testemunho, estava na arca, e o trono onde a glória habitava repousava sobre a arca. Assim, a lei a sustentava. E certamente assim era. Não seria o trono de Deus se o julgamento e a justiça não fossem mantidos ali. Mas o sangue está ali, assim como a lei. O sangue que rasgou o véu, que satisfez tudo o que o trono poderia ter exigido de um pecador, também está ali. A morte do Senhor Jesus consumou a reconciliação, no sentido de manter a justiça enquanto se responde pelo pecado; e assim, a fé que olha para cima vê “um propiciatório” (Rm 3:25 – JND) e, assim, possui a justiça divina.
A fé, portanto, se apodera de seu Objeto e se apropria dessa dignidade pessoal.
Quais são suas propriedades, suas virtudes, os fins e resultados para os quais opera, e é então que nos é dito: “A jactância? É excluída”.
Ela se dirige igualmente a todos, tanto ao mundo gentio em geral quanto ao Judeu. Deus em graça, Deus apreendido pela fé, obedecido pela fé, é o Deus de um como do outro.
A fé estabelece a lei, porque não recebe nada, exceto com base no que Cristo fez para magnificar a lei e torná-la honrosa.
Ela trata com graça.
Ela coloca o Deus bendito em ação e mantém a criatura como receptora.
Ela dá toda a glória a Deus.
Estes são os excelentes resultados e propriedades da fé, como nos são mostrados nos capítulos 3 e 4.
E depois disso, esta Epístola continua detalhando para nós as várias características dessa condição bendita na qual nos encontramos pela fé.
E aqui eu poderia notar que a fé nos é mostrada como algo individual e pessoal. “É o poder de Deus para salvação”, diz o apóstolo do evangelho, “de todo aquele que crê” – “o justo (singular) viverá da fé” (cap. 1:16-17). E cada um, em sua própria personalidade individual, permanece pela fé nesta bendita circunstância.
- Ela nos dá paz plena e presente com Deus, embora sejamos pecadores;
- Dá acesso a um estado de graça ou favor;
- Ela nos coloca na esperança certa e segura da glória;
- Ela apresenta uma razão pela qual devemos nos gloriar na tribulação;
- Ela nos apresenta o amor perfeito em Deus;
- Ela nos dá interesse na vida presente de Cristo, como em Sua morte consumada;
- Ela revela o próprio Deus como uma fonte de alegria para nós.
Não é de admirar que a Escritura dê tanta importância à fé, visto que esses acima são seus modos de agir, suas virtudes, suas propriedades, o fim que alcança e as coisas que assegura. Tal religião deve ser divina. É o segredo e o princípio da confiança imediata e pessoal em Cristo, rejeitando os suportes da religiosidade humana ou carnal.
