Origem: Livro: Justificação
Feito a Justiça de Deus N’Ele
É impressionante notar que a expressão justiça de Cristo nunca aparece na Palavra de Deus. A justiça imputada de Cristo é uma doutrina que carece de uma Escritura. Que Cristo era justo, não há dúvida. Mas nós perguntamos, a obediência de Cristo é a base para nossa justiça diante de Deus? Neste caso, Sua obediência O levou à morte, e só nisso isso é verdade. “Sendo obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2:8). “Pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de Um muitos serão feitos justos” (Rm 5:19). A caminhada justa e santa de Cristo aqui na terra foi uma parte essencial de Seu ser; Ele era realmente o Homem perfeito e o “Cordeiro sem defeito e sem mancha” (1 Pe 1:19 AIBB). Mas é em Sua morte, e não em Sua vida na Terra, que minha salvação repousa. “Também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe 3:18). É por meio da morte de Cristo, e somente Sua morte, que somos levados a Deus. A Escritura não conhece outro fundamento. Só depois que o grão de trigo caiu no solo e morreu que deu muito fruto – somos agora o fruto de uma semente totalmente diferente.
Perguntarão, não fomos feitos n’Ele “justiça de Deus”? (2 Co 5:21). Vejamos o contexto: “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós” (2 Co 5:21). Foi então e somente então – quando Ele foi feito pecado por nós como aquela vítima propiciatória – que encontramos a base para nossa justificação. Na verdade, é neste terreno que Deus, em perfeita consistência com Sua natureza santa e justa, justifica o pecador. Na verdade, é nisso que a justiça de Deus é revelada. “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação… Porque nele se descobre a justiça de Deus” (Rm 1:16-17). “Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26). A expressão, a justiça de Deus, significa exatamente isso – a justiça inerente a Deus. Este versículo não está se referindo a nós sermos justos diante d’Ele.[5] Justiça em Deus é aquele atributo que mantém o que é consistente com Seu próprio caráter, e necessariamente julga o que se opõe a isso.[6] Sob a lei, Deus buscava justiça no homem, mas não a encontrou. Agora, por meio do evangelho, Deus age em graça e vemos, de Sua parte, uma justiça positiva mostrada. N’Ele fomos “feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). Nada aqui fala da justiça pessoal de Cristo; não é a vida justa de Cristo imputada. Ao contrário, agora somos a prova evidente da justiça de Deus e nos tornamos participantes dessa justiça divina em Cristo.
[5]  João Calvino limita a apenas isso (como muitos fazem). Em seu comentário sobre a Epístola aos Romanos, ele escreveu: Entendo que a justiça de Deus significa aquilo que é aprovado perante Seu tribunal. ↑
[6]  Dicionário Bíblico Conciso, Justiça. ↑
