Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna
Hebreus Dez
Com o sacerdócio de Cristo segundo a ordem de Melquisedeque tendo sido desenvolvido no sétimo capítulo, a epístola retoma o assunto da nova aliança no oitavo capítulo. O serviço de Cristo, como Sumo Sacerdote na majestade dos céus, é contrastado com o ministério terreno do sacerdócio Aarônico. “Mas agora alcançou Ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas” (Hb 8:6).
O nono capítulo contrasta os sacrifícios sob a antiga aliança com o sacrifício único perfeito de Cristo. Isso também traz diante de nós a importância do sangue. Os filhos de Israel foram vinculados à aliança no deserto por meio da aspersão do sangue. “Porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissopo, e aspergiu tanto o mesmo livro como todo o povo” (Hb 9:19). O relato pode ser encontrado em Êxodo 24:8. É essencial entender que todo o povo foi aspergido com o sangue; exteriormente, todos foram identificados com a aliança e todos foram exteriormente separados para Deus (Lv 20:26). Para muitos, entretanto, sabemos que isso não significou nada; eles não valorizaram o sangue da aliança. Isso é importante porque deixa clara uma expressão usada no décimo capítulo.
A porção doutrinária de Hebreus termina com o versículo 18 do décimo capítulo. Se o que precedeu abordou as preocupações teológicas de um judeu fiel, então o restante do livro se dirige à perseguição que eles estavam experimentando – a segunda dificuldade em suas mentes. É um apelo ao remanescente para andar na fé, sem vacilar em nada. “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu” (Hb 10:23). Essa exortação era necessária pelos motivos já apresentados (nos capítulos anteriores), mas também era necessária porque eles haviam sofrido perseguição por se identificarem com o Senhor Jesus. “Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições. Em parte, fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações e, em parte, fostes participantes com os que assim foram tratados” (Hb 10:32-33). As provações físicas guardavam um significado especial para o judeu; Jeová não os sujeitou à vara de seus inimigos por causa de sua idolatria? Não foi prometida bênção para aqueles que fossem obedientes? Talvez as aflições que eles estavam enfrentando indicassem um caminho errado? As provações que estavam sofrendo, entretanto, eram de caráter diferente. Se o mundo rejeitou a Cristo, também rejeitaria o Cristão (Jo 15:18). Em vez de indicar a desaprovação de Deus, isso demonstrou a veracidade da posição que eles haviam tomado. No entanto, havia o perigo de que alguns que haviam se identificado (pelo menos exteriormente) com o Cristianismo, o recusassem. Ao fazer isso, eles iriam, de fato, pisar o Filho de Deus, considerar o sangue da aliança com o qual foram santificados, como uma coisa profana e insultariam o Espírito da graça (Hb 10:29). Se a graça de Deus é rejeitada, não há outro remédio. Não se pode voltar à velha aliança e à Lei e esperar pela salvação – tudo está perdido nesse ponto.
O uso da palavra santificado apresenta uma dificuldade para alguns. Em que sentido eles foram santificados se não foram salvos? Santificação significa separado ou colocado à parte para Deus para um propósito santo. Este é o seu sentido tanto no hebraico quanto no grego. A santificação pode ser externa – isto é, com respeito a uma posição; pode também falar da obra interior do Espírito, por meio da qual Deus nos separa para Si mesmo (1 Pe 1:2); finalmente, há uma santificação contínua e prática que experimentamos em nossa caminhada cristã: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). Como observamos anteriormente, todo o Israel foi santificado para Deus no deserto (Ex 19:10, 14). Como nação, todos eles receberam o sangue da aspersão que os separou para Deus; no entanto, sabemos que nem todos creram. Esses judeus fiéis também haviam assumido uma posição exteriormente, identificando-se com Jesus como o Cristo. Houve uma correspondente obra interior no coração? Eles deviam prosseguir e não desistir: “Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a {ou o ganho} conservação da alma” (Hb 10:36-39). Novamente, o escritor expressa sua preocupação por um lado, mas por outro, ele está confiante de que eles creriam para a salvação da alma. Este último versículo (como Hebreus 6:9) expressa precisamente a situação. Se alguém estivesse em uma posição de dúvida, era encorajado a crer para a salvação da alma. Não era uma questão de desistir de sua salvação, mas de avançar para os ganhos da salvação.
O décimo capítulo é seguido pelo décimo primeiro, no qual temos numerosos exemplos de indivíduos do Velho Testamento que, em face da adversidade, mostraram os frutos da verdadeira fé. Eles nunca abandonaram as promessas, embora não tenham conseguido desfrutar de seu cumprimento.
