Origem: Livro: AUTOESTIMA

O Homem na Criação

Em Gênesis 1, temos a maravilhosa história da criação, culminando na criação do homem no sexto dia. “E disse Deus: Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a Terra, e sobre todo réptil que se move [rastejam – ARA] sobre a terra” (Gn 1:26). A palavra “imagem” aqui tem o pensamento da representatividade, de modo que aquele homem era para ser o representante de Deus na Terra. “Semelhança” tem o sentido de semelhança moral, em que aquele homem estava em relacionamento direto com Deus, e tinha afeições relativas ao restante da criação que eram condizentes com o fato de ele ser cabeça sobre ela.

Ao final do sexto dia, lemos: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1:31). Neste contexto, precisamos reconhecer no homem a obra das mãos de Deus, e o fato que Deus disse “que era muito bom”. A elevação do homem acima do restante da criação é muito pronunciada, e ele recebeu qualidades que o capacitavam especialmente para uma posição tão exaltada na criação de Deus. Embora o homem tenha perdido muito da “semelhança” de Deus pela queda, ele ainda é o representante de Deus na Terra. Ainda há dignidade associada ao homem por sua posição na criação, mesmo que ele tenha caído.

Parte da dignidade e posição do homem como cabeça da criação inclui as várias habilidades[2] que Deus deu a ele, e que não foi concedida às criaturas inferiores. Um indivíduo, por exemplo, pode ter uma tremenda habilidade em matemática. Sem dúvida que isso foi dado por Deus, e poderia estar presente mesmo que o homem não tivesse pecado. Outro pode ter uma habilidade em música, ou talvez em trabalhar com as mãos, cujas habilidades o homem teria sem a queda. É correto e apropriado que essas habilidades sejam reconhecidas, tanto pelo indivíduo que as possui, quanto pelos outros. Nesse sentido, o termo “autoestima” não é de todo errado, mas talvez o termo “autoimagem” ou “autoavaliação” sejam melhores. Dizer que sou inútil em relação ao que Deus me fez ou depreciar minhas habilidades dadas por Deus é achar que a obra das mãos de Deus é falha e lançar injúria sobre Ele.
[2] N. do T.: Podemos entender por habilidade uma aptidão em específico ou um conjunto de aptidões dadas por Deus a um indivíduo. O autor cita diversas vezes no texto sobre a habilidade dada por Deus.

Novamente, isso aponta a dificuldade do termo “autoestima”, pois não significa a mesma coisa para todos. Sinto que o termo é pobre, pois remete nosso pensamento para nós mesmos. Como veremos mais adiante, Deus quer voltar nosso pensamento para um Objeto fora de nós – o Senhor Jesus Cristo. Mas, se o termo é usado em conexão com o homem na criação, pode não transmitir um pensamento totalmente errado.

Paulo tinha algo desse pensamento diante dele ao escrever para os Filipenses, quando disse: “Não atente cada um para o que é propriamente seu [para suas próprias qualidades – JND], mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp 2:4). Tendemos a ser muito conscientes de nossas próprias qualidades, enquanto não reconhecemos aquelas que os outros possam possuir. Por outro lado, alguns não reconhecem nem mesmo suas próprias qualidades que Deus lhes deu.

Em Mateus 25:14-30, encontramos a parábola dos talentos. Ela traz diante de nós a soberania de Deus em dar diferentes habilidades para vários indivíduos. (Na parábola das dez minas em Lucas 19 encontramos o equilíbrio para isso, onde a responsabilidade do homem é trazida diante de nós). Embora os talentos possam incluir dons espirituais, acredito que também trazem diante de nós nossa natureza, habilidades dadas por Deus, por cujo uso todo homem será considerado responsável por Deus. Apocalipse 4:11, diz: “SenhorTu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas”. É por isso que fomos criados e recebemos as habilidades que temos. O homem com apenas um talento, claramente, representa a alma que entrou na eternidade perdida, ainda assim ele será responsável diante de Deus por não ter usado para proveito o que lhe foi confiado. Ele não usou sua energia e sua habilidade para agradar a Deus.

Em resumo, então, vemos que Deus criou o homem para Seu agrado, e lhe deu dignidade como cabeça da criação. Também, Ele nos deu habilidades específicas, que nada têm a ver com a queda e as quais somos responsáveis por reconhecer e usá-las para Ele. Nesse sentido, temos que ter a mesma imagem que Deus tem de nós. Não fazer isso é desconsiderar o próprio Deus, e ter pensamentos errados sobre Deus. Pois usar o termo “autoestima” para descrever isso, não é totalmente errado, mas sugiro que há uma melhor linguagem a qual podemos usar para transmitir esse pensamento. Isso nos leva à nossa próxima consideração.

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