Origem: Livro: A Instituição do Matrimônio e Assuntos Relacionados
Um Início Correto – Cap. 14
Os primeiros dias em uma nova escola, ou um novo local de trabalho, ou qualquer nova vizinhança, são muito importantes. O modo como começamos pode fazer uma grande diferença em como caminhamos adiante, e também em como terminamos, no entanto é importante que os jovens recém-casados comecem da forma correta em seu novo lar e associações. As primeiras palavras na Bíblia podem ser tomadas como o lema adequado para nós ao começarmos de novo em qualquer coisa:
“no princípio… Deus” (Gn 1:1)
Se a Palavra de Deus é para ser nosso alimento e bebida espiritual, nossa luz, nosso guia, e nosso instrutor, devemos demorar em fazer dela o fundamento de ordem no lar? Não é somente um livro para se ter na biblioteca, nem mesmo um livro para recorrer nos momentos de estresse e angústia, mas é o Livro para ler todos os dias de nossa vida. Quem navegaria em um navio cujo capitão falhou em consultar seus mapas e sua bússola? Esse navio provavelmente acabará nos rochedos, e assim o lar Cristão sem a constante e diária referência da Palavra de Deus por luz e direcionamento, por final trará confusão.
O melhor momento para o jovem marido e mulher trazerem a Palavra de Deus e estabelecerem a prática da leitura de manhã e a noite, ou mais frequentemente, é o primeiro dia. É um erro, e um sério erro, adiar esse passo tão necessário. Devemos lê-la até que nossos próprios pensamentos sejam formados pela Escritura.
Moisés disse para os filhos de Israel, “Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos… Guardai-os, pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos… Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o SENHOR, nosso Deus?… E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos?” (Dt 4:5-8).
Sua peculiar distinção residia no fato de terem a Palavra de Deus para guiá-los. Nenhum outro povo na Terra teve tal vantagem, e era sua sabedoria em manter e fazer de acordo com a Suas Palavras. Nem há alguém na Terra atualmente, exceto os filhos de Deus, que têm a vantagem distinta de ter o Livro do Pai em suas mãos. Eles têm a fonte de luz e sabedoria que é desconhecida para o mundo. O mundo tem suas máximas e seus ditados de sabedoria, mas é somente sabedoria humana, e na maioria das vezes, é oposta a essa sabedoria divina à qual o filho de Deus tem acesso. O melhor conselho do mundo é “o conselho dos ímpios”, mas “Bem-aventurado o homem que não anda” neste conselho (Sl 1:1).
O hábito é uma grande coisa para os seres humanos; todos nós somos criaturas com certos hábitos – nosso horário de refeição, nossa maneira de vestir, e milhares de outras coisas testemunham isso. É bom cuidar para que estabeleçamos bons hábitos. Um deles seria definir a regularidade com que lemos as Escrituras. Isso deveria se tornar tanto uma parte da nossa rotina diária quanto comer para nutrir nosso corpo. Muito poucos de nós nos encontramos tão ocupados a ponto de negligenciar a alimentação.
Mas há mais do que simplesmente hábito na leitura da Palavra de Deus. Jeremias disse: “Achando-se as Tuas palavras, logo as comi, e a Tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração” (Jr 15:16 – ARA); Davi disse: “O temor do SENHOR é limpo e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos. Também por eles é admoestado o Teu servo; e em os guardar há grande recompensa” (Sl 19:9-11). A menos que nosso paladar tenha sido pervertido ao nos alimentar com as coisas do mundo, devemos achar a Palavra de Deus doce para nosso paladar; será também a alegria e o regozijo do nosso coração, e a valorizaremos acima “do que muito ouro fino”. Verdadeiramente, temos um tesouro inestimável nas Santas Escrituras.
Quando o jovem casal se sentar em sua própria mesa, em seu próprio lar pela primeira vez, esse é o momento para o marido ocupar seu lugar e agradecer a Deus pela comida que Ele proveu. Não deixe que a timidez impeça de fazer isso ao compartilhar sua primeira refeição em sua própria mesa.
A mesma coisa é verdade com relação à oração juntos, pelo menos de manhã e à noite. O que pode ser um começo melhor do que o jovem marido e mulher dobrarem os joelhos juntos e elevar seu coração a Deus em agradecimento pela Sua bondade em uni-los, pelo seu próprio lar, e pelas misericórdias que são deles naquele dia? Não se esquecendo de louvá-Lo pelo Dom de todos os dons, Seu amado Filho. “Graças a Deus, pois, pelo seu Dom inefável!” (2 Co 9:15). O que poderia ser mais propício para unir o coração de ambos do que dobrar seus joelhos juntos numa expressão comum de dependência de seu Deus e Pai, enquanto agradecessem a Ele por Quem todas as bênçãos fluem, e buscando Sua orientação e direção para cada passo do caminho? É seu privilégio, em conjunto, contar a Ele todas suas alegrias e tristezas.
Devemos enfatizar a importância do estabelecimento imediato do que é comumente chamado de altar familiar. Nada mais pode ou estará certo até que a pedra angular da ordem da família esteja em seu lugar. Aprendemos uma lição na vida de Abraão, ele tinha sua tenda e seu altar. Num triste lapso de fé prática com o “pai dos fiéis”, Abraão desceu ao Egito para escapar da fome em Canaã. Em vez de permanecer na terra prometida por Deus, e buscar aprender a lição que Deus tinha para ele, Abraão abandonou aquela terra e deixou seu altar para trás. Ele se meteu em problemas no Egito, e trouxe consigo as sementes de problemas que durariam anos. Se os Cristãos negligenciarem seu altar familiar, logo encontrarão os brotos das sementes plantadas durante o tempo de sua negligência.
A questão se a esposa deve orar audivelmente com seu marido, ou se ele sozinho deve falar como porta-voz do casal, é com frequência feita. Esta questão preferimos deixar para cada um refletir individualmente. Não vemos nada de errado na esposa expor seu coração a Deus seu Pai na presença de seu marido, mas eles devem ter o mesmo pensamento a respeito disso, e aqui o desejo do marido é o fator determinante (veja Efésios 5:24). Se houver outras pessoas presentes, seria impróprio. Não devemos esquecer que ela deve cobrir a cabeça durante a oração, quer ore em voz alta ou não, pois ela está em atitude de oração (1 Co 11:3-16).
Mais um ponto deve ser feito para jovens Cristãos em relação ao estabelecimento de seu próprio lar. Isso frequentemente os leva para dentro de um novo bairro, entre novos vizinhos que provavelmente não saberão que são verdadeiros Cristãos. É aconselhável que façam com que os vizinhos saibam que são Cristãos, o mais rápido possível – não de maneira arrogante, não com confiança própria, mas como temendo a Deus. Em qualquer nova empresa, na vizinhança, na loja, na escola, no escritório, ou qualquer que seja o lugar, o quanto antes as cores do Cristão são mostradas, melhor, pois isso irá preservá-los de muitas tentações que poderão encontrar mais tarde. As pessoas estão prontas para deixar os Cristãos em paz; elas não apreciam a sua companhia; mas a convivência com o mundo seria para ruína dele, então quanto mais cedo for manifestada, melhor.
Algumas vezes ouvimos Cristãos darem uma desculpa por não estar presente a reunião do evangelho ou a reunião de oração, que alguns vizinhos apareceram em sua casa e eles não conseguiram sair. Se esses vizinhos soubessem do hábito de irem às reuniões com maior regularidade nessas noites, não viriam; e se viessem, que melhor maneira de estabelecer quem vocês são, dizendo: “Sempre vamos à reunião de evangelho nesse momento, e gostaríamos muito que fossem conosco”. Talvez a oportunidade tenha sido aberta pelo Senhor para pregar-lhes o Evangelho.
Há, também, uma questão importante do lar Cristão nutrir a marca da fé daqueles que ali vivem, assim aqueles que os visitam, possam ver que o Cristianismo deles é algo que é vivido e respirado. Lembramo-nos lendo a respeito de um Cristão idoso que foi convidado para visitar a nova casa espaçosa que seu filho construiu. O filho era um Cristão que prosperou no mundo. Depois de o pai ter visitado toda a casa, virou-se para o filho e disse: “Filho, ninguém nunca saberia se um Cristão ou um incrédulo vive aqui”. Não havia marcas reveladoras de um Cristão sincero em evidência, pois o jovem havia empobrecido em sua alma e estava perdendo aquelas marcas distintivas do Cristianismo.
“Que viram em tua casa?” (2 Rs 20:15), é uma pergunta que pode muito bem testar nosso coração. Será que as marcas do mundo estão nela? Ou as marcas de ocupação com o Cristo rejeitado, porém glorificado? Estão aqueles Livros benditos que devemos ler continuamente, em evidência? Ou estão as Bíblias cuidadosamente escondidas? Ou estão cobertas de poeira, mostrando a falta de uso? Estão os textos da Escritura pelas paredes? Afinal de contas, devemos estar desejosos que nossa luz seja vista, e não ser tímido em mostrar nossas cores. Neste mundo, há apenas duas classes: aqueles a favor, e aqueles contra Cristo. Possamos não ter vergonha d’Aquele que nos ama, mas estejamos prontos para confessar que somos d’Ele. Possa nossa linguagem ser da mesma qualidade daqueles que disseram: “Nós somos teus, ó Davi! E contigo estamos, ó filho de Jessé!” (1 Cr 12:18). É um sinal dos últimos dias quando somente o Senhor conhece os que são Seus; todos deveriam conhecê-los (2 Tm 2:19).
Realmente é um espetáculo muito triste quando a literatura mundana toma o lugar que a Bíblia e um saudável ministério escrito deveriam ter no lar. Jovens Cristãos iniciando um novo lar devem considerar de suma importância filtrar o que entra nele – garantindo que haja fartura de alimento espiritual, e que o mundo seja mantido do lado de fora. O inimigo tem seus agentes que oferecem assinaturas de revistas e literaturas de todos os tipos. Cuidado para que essas coisas não entrem e se tornem um laço para você, e roubem o seu bendito Senhor do lugar que pertence a Ele. Proteja seu lar contra as invasões do mundo, e nunca dê lugar àquela obra-prima de engano, a televisão. Tranque suas portas firmemente contra esse instrumento pelo qual o deus e príncipe deste mundo invadiria seu lar com todas as visões de “Sodoma” e “Egito”.
Gostaríamos de alertar nossos leitores contra muitos lemas religiosos de paredes que estão à venda, pois enganos, equívocos e erros são encontrados neles. Um lema muito comum é: “Cristo é a cabeça desta casa”. Isso tem aparência de verdade, e o desejo de honrar ao Senhor, mas não é correto. O marido é a cabeça da casa, e ele não deve esquecer sua responsabilidade como tal. Se o Senhor entrasse em sua casa, Ele seria seu convidado. Que possamos manter todas as coisas em tal ordem de modo que não nos envergonharíamos de tê-Lo como nosso convidado. O que Ele veria em nosso lar? Entretanto, não nos esqueçamos de que “todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos d’Aquele com Quem temos de tratar” (Hb 4:13).
Falamos da importância de um início adequado em uma nova comunidade, e da regularidade em comparecer às várias reuniões para adoração, edificação, oração e pregação do evangelho. Podemos acrescentar uma palavra sobre a escolha de um local para o novo lar. Isso deve ser feito levando em consideração tanto à proximidade e acessibilidade ao local de trabalho, quanto ao local das reuniões. Se este último for negligenciado, o casal Cristão pode ter dificuldade em comparecer às reuniões noturnas, e essas são essenciais. Escolher um local distante das reuniões facilita para a carne ceder ao cansaço, e abandonar as reuniões (Hb 10:25). Alguns queridos Cristãos se afastaram para longe como resultado de uma mudança sem sabedoria; isso tem sido um triste ponto de virada em algumas histórias. Portanto, instigamos: Considere suas necessidades espirituais ao selecionar um local para morar, e busque conselhos com o Senhor.
