Origem: Livro: Duas Naturezas

Introdução

Todo verdadeiro crente em Cristo tem duas naturezas. A primeira é a que ele possui como filho de Adão – é uma natureza compartilhada por todos. A segunda é aquela vida divina que agora possuímos como filhos de Deus. Às vezes, são chamadas de nossa velha e de nossa nova natureza – uma vem com o nascimento natural, a outra com o novo nascimento.

Nossa velha natureza também é chamada de a carne – não deve ser confundida com nosso corpo físico, que é simplesmente carne.[1] Também é chamada de pecado – não a ação, mas a fonte dela. Esta é nossa natureza pecaminosa e decaída; é a condição natural de todos os nascidos neste mundo – com exceção de Jesus.[2] Encontramos a carne mencionada em muitos versículos. Uma, onde é usada junto com a palavra natureza, pode ser encontrada em Efésios: “Entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Ef 2:3). Paulo está falando aqui de sua própria raça judaica, mas ele mostra que todos (assim como os outros, tanto judeus como gentios) são por natureza filhos da ira, totalmente sujeitos aos desejos da carne.
[1] Algumas traduções inserem o artigo, a carne em vez de apenas carne, onde é desnecessário, por exemplo em Rm 1:3; 2:28 na tradução do JND. Outro exemplo: Gl 2:20 não fala da vida que agora vivemos na carne, mas sim em carne, ou seja, no corpo.
[2] Jesus, é claro, veio em carne (1 Jo 4:3), ou seja, em um corpo humano real. Mas seria uma blasfêmia sugerir que Ele estava na carne.

A segunda ou nova natureza também é mencionada em muitos versículos. Pedro, em sua segunda epístola, usa explicitamente a expressão a natureza divina: “Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo” (2 Pe 1:4). Aqui, Pedro não diz como chegamos a possuir a natureza divina. Deus, em Seu poder divino, “nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3). Pedro, portanto, exorta os crentes a andarem em comunhão[3] com a natureza divina – para dar expressão a ela. Somente aquele que é nascido do Espírito possui essa natureza (Jo 3:6).
[3] A palavra participante pode (neste caso) ser traduzida por comunhão.

Quanto a alguém sem Cristo, esse vive totalmente na carne. A velha natureza dita todo o seu desejo e ação – e não pode ser de outra forma. Como dizemos, é sua natureza. Aquele que é salvo, por outro lado, tem uma natureza dirigida e empoderada pelo Espírito Santo. Eles não são mais obrigados a agir de acordo com os ditames da carne: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito” (Rm 8:9). Embora a carne ainda esteja neles, Deus a vê como crucificada com Cristo – é um assunto encerrado aos olhos de Deus. “Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Nós também devemos considerar dessa forma. “Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5:24).

Este assunto não é acadêmico. Se não entendermos que nós, como crentes, possuímos uma nova natureza, e que nossa velha natureza está morta aos olhos de Deus, isso resultará em um conflito frustrante. Ao longo da história do Cristianismo, muitos santos têm procurado subjugar a carne e erradicar o pecado, sem entender que isso já é assunto encerrado aos olhos de Deus, e que eles podem viver no proveito de uma nova natureza e no poder do Espírito Santo.

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