Origem: Livro: Aos Pais de Meus Netos
Jacó
A história de Jacó está cheia de lições profundamente instrutivas. Do começo ao fim, parece que vemos escrito sobre ele: “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. Ele enganou seu pai e trapaceou seu irmão. Por sua vez, ele foi enganado e trapaceado por seu sogro e, posteriormente, por seus próprios filhos. Mas tudo isso apenas faz com que a graça de Deus para ele brilhe ainda mais.
Vocês devem ter notado quanto espaço no livro de Gênesis o Espírito de Deus ocupa com a história de Jacó. E acho que nosso espírito intuitivamente se regozija por isso. Jacó é tão parecido com nós mesmos que nosso coração continuamente ecoa: “Este pode ser eu mesmo!” Os fracassos, a obstinação, os planos, a falta de fé, o desvio para o mundo, são, infelizmente, caminhos muito bem conhecidos por alguns de nós. E é por esta razão que nos regozijamos que nosso Deus tão constantemente fala de Si mesmo como “o Deus de Jacó”, e tão raramente como “o Deus de Abraão”. Veja, por exemplo, os Salmos 20:1; 24:6; 46:7, 11; 75:9; 76:6; 81:1, 4; 84:8; 94:7; 114:7; 146:5 e compare-os com o Salmo 47:9; Observe que 12 vezes encontramos nos Salmos: “O Deus de Jacó”, e uma vez “O Deus de Abraão”. E lembremo-nos de que “Jacó” significa “Trapaceiro”, “Enganador”, enquanto “Abraão” significa “O pai de muitas nações”.
Não devo tomar o tempo seguindo Jacó em toda a sua mais interessante história. O travesseiro de pedra onde o Sol se pôs, com mais de vinte anos de trabalho árduo antes de lermos sobre o amanhecer do Sol mais uma vez, e todos os sofrimentos em Harã. Tudo é claramente fruto de seu pecado contra seu pai e seu irmão. Também não podemos esquecer que Jacó tem duas esposas e duas concubinas, uma condição muito diferente de seu pai ou de seu avô. Ainda em Harã, vemos Rúben, seu primogênito, ainda criança, sendo envolvido numa negociata, onde somente o amor deveria entrar. Não é de admirar que esse mesmo filho, mais tarde na vida, manifeste sua falta de respeito por esses assuntos santos, deitando-se com Bilha, a concubina de seu pai. Esse único ato custou a Rúben seu direito de primogenitura, e mais ainda, custou a Jacó a mais amarga dor. Em Gênesis 49:45, perto do fim de sua vida, o horror desse ato perverso e impuro parece ser mais real e terrível para ele do que naqueles dias anteriores, quando Jacó seguia de longe, em vez de andar com Deus, como ele parece ter feito durante os últimos anos de sua vida. E, em certo sentido, é assim que deveria ser. É verdade que os pecados são perdoados, estão todos cobertos, somos justificados: e quando é Deus Quem justifica, quem é que condena? “O acusador de nossos irmãos” está muito ansioso para lançar esses antigos pecados contra nós e nos lembrar deles: mas graças a Deus, temos Um para nós, que está sempre pronto para dizer: “O Senhor te repreenda, ó Satanás, sim, o Senhor… te repreenda; não é este um tição tirado do fogo?” (Zc 3:2 – ACF). E, no entanto, por tudo isso, o horror desses antigos pecados deve se tornar maior, pois sabemos melhor o que eles custaram ao nosso Redentor.
Abraão e Isaque eram peregrinos. Eles tinham sua tenda e seu altar. A única terra em Canaã pertencente a qualquer um desses patriarcas era apenas um túmulo; e Jacó deveria ter seguido seus passos, mas em Gênesis 33:17, 19 o encontramos construindo uma casa e comprando um terreno. Isso mostra uma mente muito diferente de seu pai e de seu avô. Nem sempre é fácil e agradável percorrer o caminho do peregrino. Aquele que disse: “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8:20; Lc 9:58), nunca encontrou um lugar neste mundo para reclinar aquela santa cabeça, até que na cruz Ele dissesse: “está consumado” e inclinou Sua cabeça (É a mesma palavra no Testamento Grego e estas são as únicas vezes que é usada desta forma no Novo Testamento). Já houve alguém que tenha trilhado esta Terra, em Quem o caminho do Peregrino brilhou tão intensamente? Todo homem pôde ir para sua própria casa, mas Jesus foi para o Monte das Oliveiras; pois Jesus não tinha um lar aqui para onde ir.
Jacó parece ter se cansado do caminho do Peregrino e cedeu à tentação de se estabelecer e construir um lar. E qual foi o fruto dessa ação? Sua filha Diná saiu para ver as filhas da terra. Tendo seu pai se estabelecido no mundo, em vez de ser um peregrino celestial que passa por ele, o que seria mais natural do que sua filha desejar ser amiga do mundo? O resultado triste e vergonhoso todos nós conhecemos. Quem poderia imaginar que a troca de uma tenda por uma casa pudesse render frutos tão amargos? Ainda assim é, e em nossos dias, a amizade do mundo ainda é inimizade com Deus, e se nos estabelecermos neste mundo e perdermos o espírito de um peregrino, dificilmente poderemos culpar nossos filhos se eles buscarem a amizade de aqueles entre os quais estabelecemos nosso lar.
A desonra ao nome de Deus, o horror e a vergonha de tudo isso, mesmo anos depois, vêm sobre a alma de Jacó, no capítulo 49 de Gênesis, com muito mais força do que parecem ter feito no momento do pecado, e ele clama: “Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; eu os dividirei em Jacó e os espalharei em Israel” (Gn 49:7). Levi foi espalhado em Israel como punição por aquele terrível pecado cometido séculos antes em Siquém. Mas agora, para nosso encorajamento, veja a graça de Deus. A própria punição, a dispersão em Israel, torna-se uma bênção indescritível. Esta tribo é escolhida para se aproximar de Deus, e eles estão espalhados em Israel com o resultado de que o conhecimento de Deus e Sua Palavra por meio deles também possam ser igualmente espalhados em Israel. Mais uma vez Ele fez com que a ira do homem pudesse louvá-Lo; e mais uma vez, “do comedor saiu comida”. Que encorajador!
Não devemos deixar de considerar Jacó e seus filhos sem notar a graça que deu ao pobre e fracassado Jacó um filho como José! Não me lembro de nenhuma falha registrada contra José. Quão podemos agradecer a Deus e ter coragem, ao vermos, repetidas vezes, Sua graça sobrepujando nossos pecados. É justamente com esta graça que nós, pais, devemos contar hoje. E a história de Jacó é a história dessa graça do começo ao fim.
“Eis que estou sempre contigo!”
Comigo, cujo nome é “trapaceiro”?
Ó Senhor, isso não poderia ser!
Com Isaque, sim, meu Pai!
Mas nunca, Senhor, comigo!
Sim, “Eu estou sempre contigo!”
“Eu sempre te protegerei com segurança!”
Guardar a mim que roubei meu irmão?
Aquele que agora foge por sua vida!
Guardar a mim, ao que eles chamam de “enganador”?
Tu nunca, Senhor, me guardarás!
Sim, “Eu te guardarei em segurança!”
“E para tua casa eu te levarei!”
Levar a mim, “o verme chamado Jacó”?
Ó Senhor, que assim seja!
“E te darei comida e vestimentas,”
Então Tu serás meu DEUS!
Sim, “Para a tua casa Eu te levarei!”
“Jamais te abandonarei!”
Nem nunca te abandonarei
Sou o Deus de Jacó para sempre
Essas bênçãos cada um pode receber
Eu digo a cada crente –
“Não, jamais te abandonarei”
