Origem: Livro: Aos Pais de Meus Netos

Jônatas e Mefibosete

A história da família de Saul nos deixa com o coração partido: e ainda assim havia um raio brilhante da graça de Deus mesmo ali. Jônatas, que significa “o Senhor deu”, filho de Saul, é um das pessoas mais encantadoras de toda a Bíblia. Seu amor por Davi ainda é uma palavra familiar. Depois que Davi matou Golias, “a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma. E Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si e a deu a Davi, como também as suas vestes, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto” (1 Sm 18:1, 4). E aquele coração amoroso sempre foi fiel a seu amigo. Diante do ódio amargo de seu pai, Jônatas sempre foi fiel a Davi. Leia a comovente separação entre esses dois, quando Davi teve que fugir para salvar sua vida: “e beijaram-se um ao outro e choraram juntos, até que Davi chorou muito mais. E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porque nós temos jurado ambos em nome do SENHOR, dizendo: O SENHOR seja perpetuamente entre mim e ti e entre minha semente e a tua semente”. Eu sei que, enquanto Davi voltava seu rosto para a vergonha e a rejeição, “Jônatas entrou na cidade”. Quão mais feliz ele estaria compartilhando a rejeição de Davi! Seu coração estava com Davi, no entanto, e ele o visita na floresta, “e fortaleceu sua mão em Deus” (1 Sm 23:16). Mas as mesmas palavras tristes seguem: “Davi ficou no bosque, e Jônatas voltou para a sua casa”. Eles nos lembram de nosso Senhor e Mestre: “Cada um foi para sua casa. Porém Jesus foi para o monte das Oliveiras” (Jo 7:53; 8:1). Era a atração de sua própria casa? Ou foi lealdade a seu pai? Por que, oh, por que Jônatas não compartilhou de todo o coração a rejeição daquele que ele realmente amava e a quem ele reconhecia como o legítimo rei? Não sei os motivos: só sei que ele não compartilhou da rejeição. Acho, espero, que não foi que seu amor falhou. Pedro uma vez abandonou seu Senhor, e acho que não foi porque seu amor falhou. Eu também posso me lembrar de momentos em que não estive disposto a compartilhar a rejeição de meu Senhor. Lembro-me de momentos em que não O confessei diante dos homens. Em mais de uma ocasião tive que soluçar as palavras de Pedro: “Senhor, Tu sabes todas as coisas; Tu sabes que eu Te amo”, mesmo que as aparências fossem todas contrárias. Naquela noite escura que Pedro O negou, ninguém estava disposto a compartilhar a rejeição de seu Mestre, mas “todos os discípulos, deixando-O, fugiram”. Quando Seu servo Paulo se apresentou diante de Nero, ele percorreu o mesmo caminho que seu Mestre e escreveu: “Ninguém me assistiu todos me desampararam”. E hoje nosso Mestre é tão verdadeiramente rejeitado quanto foi naqueles tempos antigos. Não pense, amado, que é uma coisa leve seguir o “esquecido e rejeitado Jesus”. Não é; e poucos existem hoje que estão em posição de culpar Jônatas com muita força sem se condenarem a si mesmos.

É uma história triste. Em vez de estar “ao lado” do rei (como duvido que ele estaria, se tivesse compartilhado sua rejeição), Jônatas, uma das pessoas mais encantadora e um dos soldados mais corajosos, morre no monte Gilboa; e seu filhinho fica aleijado para o resto da vida devido a uma queda enquanto sua babá tentava salvá-lo. Mefibosete é criado em Lo-Debar, “Sem Pasto”, o mais longe possível do rei: na rejeição que seu nobre pai havia previsto quando fez uma aliança com Davi antes de sua morte.

Mas que coração não se emocionou em Mefibosete! Davi mostra-lhe a “beneficência de Deus”, “por amor de Jônatas, teu pai”, e traz aquele órfão pobre, coxo e sem esperança para comer em sua própria mesa como um dos filhos do rei, enquanto o servo de seu avô, Ziba, com seus quinze filhos e vinte servos, lavravam a sua terra: porque o rei lhe deu como herança, “tudo o que pertencia a Saul e de toda a sua casa”.

Não podemos parar para traçar esta bela história, tanto quanto eu gostaria: mas devemos olhar para o encontro entre Davi e Mefibosete, quando o rei voltou de seu exílio: “Por que não foste comigo, Mefibosete?” pergunta o rei. Pois era verdade que Mefibosete não havia saído de Jerusalém com o rei. Seu perverso servo Ziba mentiu sobre ele e corrompeu a mente do rei em relação a ele: enquanto Mefibosete estava em casa de luto, coxo demais para andar, e seu servo não trouxe o jumento que ele ordenou que fosse selado para ele. Durante todo esse tempo ele “não tinha lavado os pés, nem tinha feito a barba, nem tinha lavado as suas vestes desde o dia em que o rei tinha saído até ao dia em que voltou em paz”. Eu costumava ficar intrigado com a resposta injusta do rei: “Tu e Ziba reparti a terra”, quando Mefibosete disse ao rei que era leal como sempre. Mas agora eu sei exatamente que essa resposta era necessária para fazer a devoção verdadeira, leal e indivisa do coração de Mefibosete brilhar com o brilho que merecia, como ele diz: “Tome ele também tudo, pois já veio o rei, meu senhor, em paz à sua casa”. Casas e terras não eram nada para Mefibosete quando ele tinha o rei que amava.

Existem poucas histórias mais tristes na Bíblia do que essas duas sobre as quais estivemos pensando, mas talvez por um lado, em nenhuma a graça de Deus, “a beneficência de Deus”, brilhe mais intensamente; e, por outro lado, raramente encontramos lealdade amorosa como a que encheu o coração de Mefibosete. Senhor, dá-nos um coração como o dele!

E Mefibosete havia aprendido a verdadeira Fonte de onde vieram todas as suas bênçãos, pois ele tinha “um filho pequeno, cujo nome era Mica”; e o significado de Mica é: “Quem é semelhante ao Senhor?” Um clímax mais encantador para uma história mais encantadora!

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