Origem: Livro: AUTOESTIMA

Julgamento Próprio

Vimos que devemos nos considerar “mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). Quando vemos nossa verdadeira posição Cristã como estando mortos, sepultados e ressuscitados com Cristo, então não podemos nos satisfazer com nada menos do que isso para nós. Pela fé aceitamos o que a morte de Cristo fez para nós e aceitamos o fato de que estamos mortos e ressuscitados com Ele. Mas quão facilmente voltamos aos nossos antigos caminhos! Devemos ver 2 Coríntios 4 para descobrir como essa tendência pode ser superada.

Em 2 Coríntios 4 lemos: “Trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nosso corpo” (2 Co 4:10). Esse é um passo além de nos considerarmos mortos para o pecado. Podemos assumir essa abençoada posição diante de Deus, e é correto fazê-lo, mas então descobrimos que nossa velha natureza pecaminosa não aceita gentilmente ser colocada em seu lugar de morte. Descobrimos que Satanás não nos deixa em paz apenas porque nos vemos como Deus nos vê, como mortos e ressuscitados com Cristo. Quanto mais desejarmos viver para Cristo, mais a natureza pecaminosa se manifestará. Mais do que isso, cada nova verdade que o Espírito de Deus nos revela encontrará sua rejeição correspondente em alguma parte de nossa natureza pecaminosa.

Quando era mais jovem, costumava observar os mais velhos que pareciam estar andando com o Senhor, e parecia que a natureza pecaminosa se “extinguia” depois de um tempo. Conforme envelheci, percebi o quanto isso era falso. Na verdade, aqueles que pareciam estar andando com o Senhor haviam aprendido, em sua medida, a não depositar nenhuma confiança naquela natureza pecaminosa. Haviam aprendido a verdade desse versículo, que é um exercício de julgamento próprio diário, de hora em hora, de momento a momento, para manter a natureza pecaminosa em seu lugar de morte.

Há um significado muito especial na maneira como esse versículo é escrito. Note que ele não diz: “Trazendo sempre no corpo o fato de que estou morto para o pecado”. Não, devemos trazer no nosso corpo “a mortificação do Senhor Jesus”. Esta é a realidade prática de aplicar a sentença de morte aos desejos de nosso corpo natural. O Senhor Jesus apela ao nosso coração, e nos lembra que isso custou a Ele Sua vida para que o nosso “velho homem” pudesse ser “crucificado com Ele”.

Nunca seremos capazes de andar adequadamente como Cristãos a menos que sejamos, continuamente, trazidos de volta para a cruz. Não é suficiente sabermos de maneira intelectual que Deus vê nosso velho homem como crucificado com Cristo, e que estamos mortos para o pecado. Não é suficiente sabermos em nossa mente que Deus nos quer ocupados com Cristo, e não com nós mesmos. Iremos falhar continuamente a menos que nosso coração seja tocado pelo fato de que custou a vida de nosso Salvador para que pudéssemos nos considerar “mortos para o pecado, mas vivos para Deus”. Nunca seremos capazes de nos separar deste mundo da maneira correta, a menos que lembremos que foi este mundo que colocou nosso Salvador na cruz. Deus apela ao nosso coração em vez de nosso intelecto, pois é somente quando nosso coração está correto que podemos viver a vida Cristã adequadamente.

Não é aquele que mais sabe que faz o melhor Cristão, mas aquele que mais ama. Eu encorajaria você a ler a Palavra de Deus e também o bom ministério escrito que está disponível, porque trazem Cristo diante de você. Mas conhecimento por si só não o manterá – a Pessoa de Cristo deve ser preciosa para você. Algumas vezes vemos um simples crente que sabe relativamente pouco das Escrituras, mas que parece estar mais próximo do Senhor do que nós e parece ter mais alegria em sua alma. Talvez tenhamos sido criados num lar Cristão e tenhamos ouvido essas coisas desde pequenos. Podemos ter sido salvos há muitos anos, e saber muito mais. Por que não temos essa alegria? É porque esse simples crente está desfrutando do que ele conhece de Cristo, enquanto temos permitido alguns obstáculos interferirem.

Talvez você diga; “Como faço para ter esse amor pelo Senhor em meu coração? Gostaria de amá-Lo mais!”. Um irmão agora com o Senhor costumava nos lembrar constantemente; “Nunca tente amar o Senhor mais do que você ama! Apenas pense em quanto Ele te ama!” Se formos levados de volta para a cruz e estivermos ocupados com o amor do Senhor por nós, então nosso amor fluirá de volta para Ele, e descobriremos que essas coisas se tornarão mais claras para nós.

Posso ouvir alguns de vocês dizendo: “Mas você não conhece as dificuldades e problemas da minha vida. Você não conhece o lar de onde vim, a situação no trabalho que tenho que encarar todos os dias. Você não conhece a solidão e as tentações que tenho que enfrentar. É fácil falar sobre essas coisas, mas é difícil colocá-las em prática”.

Para responder a essas objeções, vamos ler Jeremias: “Pois dois males fez o Meu povo: deixaram-Me a Mim, fonte de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2:13 – TB). Uma fonte é um contínuo manancial de água, enquanto uma cisterna é apenas um lugar para armazenar a água que foi colocada nela. Uma cisterna é uma coisa boa, mas, se houver uma rachadura nela, toda água vazará, e ela é inútil. Deveríamos nos perguntar qual delas vamos ter: a fonte ou a cisterna rota? Podemos nos pegar olhando para este mundo e dizendo que precisamos de companhia. Se não conseguimos ter companhia Cristã, então talvez procuremos por companhia do mundo. Outros podem buscar coisas materiais, ou uma carreira, pensando que isso irá satisfazê-los. Alguém que é mais velho pode focar em sua família, ou viagens, ou um hobby. Embora não haja nada inerentemente errado em algumas dessas coisas, temos que perceber que todas elas são cisternas rotas. A verdade de que somente Cristo pode satisfazer meu coração deve tomar conta de minha alma.

E quanto ao serviço para o Senhor? Posso dizer a mim mesmo que sairei para pregar o evangelho – talvez isso satisfaça o meu coração. Posso querer ir para algum país estrangeiro para servir ao Senhor. Ou fazer da assembleia local o meu foco e voltar toda minha energia para torná-la um lugar feliz, porque quero vê-la crescer e ver meus irmãos encorajados. Será que alguma dessas coisas me fará feliz? Não, não farão. “Mas”, alguns podem dizer; “todas essas coisas não são coisas boas de se fazer? O Senhor não nos disse para pregar o evangelho, e para encorajar outros crentes?” Sim, mas elas ficam aquém do maior motivo que Deus estabeleceu diante de nós. Em todas essas coisas, nossa visão está muito baixa. Se eu começar a pregar o evangelho e talvez não veja muitas bênçãos, tenderei a desanimar. Se fizer de minha família meu foco, posso muito bem negligenciar o que é devido ao Senhor.

Qual a resposta para tudo isso? A Palavra de Deus nos ensina a ter nossa visão acima de tudo, no próprio Cristo. Quando Ele está diante de nós, não dependemos de nada deste mundo para nossa felicidade. Ele é imutável, e, quando nosso coração está ocupado com Ele, há uma estabilidade, uma calma, uma paz que nada pode abalar. Se nosso gozo depende de qualquer coisa deste mundo, até mesmo as melhores coisas, então nosso estado de espírito terá altos e baixos dependendo de como as coisas estão indo por aqui. Deus quer nos elevar acima disso tudo.

Estarmos ocupados com Cristo nos torna negligentes com nossas responsabilidades aqui no mundo? Não, pois o pensamento de que queremos agradá-Lo em todas as coisas nos faz querer fazer tudo para Ele e da melhor maneira possível. Não negligenciaremos nosso trabalho, nossa família, a assembleia local ou até mesmo nós mesmos. Mas esses não serão o nosso objeto – em vez disso, desejaremos fazer tudo para Cristo.

Um dos maiores problemas entre os Cristãos hoje é que estamos usando as falhas dos outros no corpo de Cristo como uma desculpa para nossas próprias falhas. Estamos tornando nossa alegria dependente do comportamento dos outros e nossa capacidade de viver como Cristãos dependente de como os outros andam.

Afirmo com plena convicção que nossa alegria em Cristo não deve depender de mais ninguém. Se isso acontecer, então estamos permitindo alguma coisa estar entre nós e o Senhor, e Ele nos ama demais para nos deixar ser verdadeiramente felizes sob essas circunstâncias. Nossa felicidade pode durar por um tempo, mas então o Senhor nos testará, talvez removendo aquela pessoa de quem nossa felicidade depende, ou permitindo que alguma provação entre em nossa vida. Então fica claro que outros e outras coisas são realmente o nosso objeto, e não Cristo.

Conheci um irmão que se mudou da assembleia em que ele estava, porque as coisas estavam difíceis lá. Ele pensou que, se ele levasse sua família para outro lugar, as coisas seriam melhores e sua família seria mais feliz no Senhor. Não funcionou, porque nem nossos irmãos nem a assembleia devem ser a fonte de nosso gozo. Se nós não pudermos superar a situação na qual nos encontramos, não seremos capazes de superar em lugar nenhum. Isso se aplica para uma situação familiar, um problema no trabalho, na assembleia local, ou qualquer outra situação. Cristo é capaz de dar graça em qualquer circunstância na qual Ele nos tenha colocado. Meus irmãos podem ser um verdadeiro encorajamento, e uma assembleia feliz é uma grande bênção, mas ambos são de ajuda apenas na medida em que trazem Cristo diante de mim.

Com certeza, o Senhor pode, muitas vezes, nos levar a mudar nossas circunstâncias e, ao fazer isso, pode nos tirar de uma situação difícil. Então podemos ser gratos pelo fim da provação e tomar isso como vindo do Senhor. Mas apenas o Senhor pode nos guiar nesses casos, e devemos estar muito diante d’Ele, para que não façamos a mudança por nossos próprios motivos, e sim porque é a mente d’Ele.

Devo deixar claro que não estou falando de uma situação na qual o Senhor não quer que estejamos. Algumas vezes, pedimos ao Senhor por Sua ajuda em uma situação na qual Sua única vontade para nós é que não estejamos ali de maneira nenhuma. Em tal caso, devemos sair daquela situação a qualquer custo, como, por exemplo, um trabalho onde alguém está em jugo desigual com um incrédulo. Não podemos vencer quando estamos em direta desobediência à Palavra de Deus. Mas, em uma situação em que o Senhor nos colocou, devemos nos submeter ao que Ele permitiu e aprender a lição que Ele está nos ensinando. Nosso próximo assunto é muito útil nesse sentido.

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