Origem: Livro: Os Patriarcas
As lágrimas de José
Ele era, eu acrescentaria agora, um grande chorador.
Paulo diz que se lembrava das lágrimas de Timóteo; e havia muitas lágrimas nos olhos de José, às quais poderíamos muito bem nos lembrar. Davi e Jônatas choraram, assim como Paulo e Timóteo. Mas eu poderia afirmar que José superou todos eles. As ocasiões de suas lágrimas foram as mais variadas. E, de fato, é um fluxo sincero, real e genuíno de afeições que devemos cobiçar em meio às realizações mais cultivadas e ordenadas dos dias de hoje. As lágrimas são muitas vezes coisas preciosas e às vezes santas também.
No início, quando José viu a convicção despertar na consciência de seus irmãos, ele chorou. Foram lágrimas de tristeza e de gozo. Ele sentiu pena deles passando pela agonia; mas ele deve ter se regozijado ao ver a necessária flecha atingindo seu alvo e o sangramento dos ferimentos que se seguiram.
Ele chorou novamente quando viu Benjamin. O filho de sua própria mãe, seu único filho além dele, cujo nascimento também foi a morte dela, e o único entre os filhos de seu pai (que eram todos antes dele) que não era culpado de seu sangue. Alguém como este foi visto naquele momento por ele em Benjamin. Essas lágrimas, portanto, a natureza poderia explicar.
Ele chorou novamente ao ver a obra de arrependimento acontecendo em seus irmãos. À sua maneira, ele ansiava muito por eles; até que finalmente as palavras de Judá foram demais para ele; a convicção da consciência terminou então na restauração do coração. “Um velho pai” e “um moço” repetidas vezes nos lábios de Judá tiveram uma expressividade que predominou, e José não conseguiu mais se conter. Ele levantou sua voz em choro, e a casa do Faraó o ouviu. Mas estas foram mais do que lágrimas da natureza. Estas foram as entranhas de Cristo, ou as lágrimas do Pai no pescoço do pródigo.
Cada um desses choros foi maravilhoso em sua ocasião; mas ainda temos mais.
Ele se lançou sobre o rosto de seu pai e chorou sobre ele, pois seu pai acabara de expirar. Isto foi como o túmulo de Lázaro para José; e lá ele e seu Senhor podem chorar juntos.
E novamente ele chorou, quando, após a morte de seu pai, seus irmãos começaram a suspeitar de seu amor. Ele ficou desapontado. Uma indigna recaída dos caminhos de um amor constante, paciente e servidor, o fez chorar – no espírito d’Aquele, posso dizer, que chorou por Jerusalém. Durante anos ele vinha fazendo tudo o que podia para conquistar a confiança deles. Ele os alimentou e aos seus pequeninos. Anos agora haviam passado, e não encontramos nenhuma repreensão deles em sua vida ou em seus caminhos. A dor pela morte do pai acabara de lhes dar a conhecer as afeções comuns que tinham para uni-los. Ele lhes forneceu todos os motivos para confiar nele. E ainda assim, depois de tudo, eles estavam temendo a ele. Este foi um choque terrível para um coração tal como o de José. Mas ele não se ressentiu, exceto pelas suas lágrimas e renovadas garantias de seu amor diligente e fiel. E não têm lágrimas como essas, pergunto eu, um caráter tão excelente quanto as lágrimas podem ter? Elas eram como as pulsações do espírito magoado do Senhor. “Até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei?”; “Por que temeis?”; “Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido…?” Estas eram pulsações semelhantes de um coração magoado em Jesus. Jesus santificou as lágrimas e fez delas, como tudo o mais que subia d’Ele a Deus, um sacrifício de cheiro suave; José, Davi e Paulo, sim, Jônatas e Timóteo também as tornaram preciosas e as colocaram entre os tesouros do Espírito no seio da Igreja.
